quarta-feira, 28 de maio de 2014

A NEOCOLONIZAÇÃO DA EUROPA



 Martinho Júnior, Luanda

1 – A concentração de capacidades capitalistas neo liberais numa aristocracia financeira mundial está a colocar a União Europeia, por tabela a Europa, na posição típica duma neo colónia!

A tendência é de tal ordem que o espectro sócio-político espelha a sua “progressão”, radicalizando os opostos e fazendo emergir, do chão putrefacto da social-democracia e em direcção às disputas e engrenagens do poder, uma direita conservadora tisnada de neo-fascismo e até de neo-nazismo!

Esse processo decorre dos investimentos que foram sendo feitos de á 20 anos a esta parte nos emergentes euro-asiáticos, acompanhados de transferência científica e tecnológica, bem como da deslocação de importantes unidades industriais.

A “requalificação” que em consequência foi feita na União Europeia determinou, sob o ponto de vista geo-estratégico, um conjunto de alterações que levaram à concentração do parque-industrial e tecnológico sobretudo na Alemanha, em França e na Grã-Bretanha e tornou a “periferia” subsidiária e/ou dependente.

Determinou também a expansão da União Europeia no leste e nos Balcãs, recorrendo por vezes a processos violentos ou musculados e quase sempre de tendência neo-conservadora e muitas vezes até neo-fascista ou neo-nazi!

A aristocracia financeira mundial ávida de lucro, beneficiando da versão do capitalismo neo liberal e especulativo, foi a principal reitora desse processo que foi recriando a paisagem da União Europeia, por tabela de toda a Europa e do Mundo.

O universo antropológico anglo-saxónico foi instrumentalizado nesse vasto expediente desde os primórdios da Revolução Industrial e o mapa das exportações da Europa reproduz hoje, em síntese, o resultado contemporâneo.

2 – A arrumação do Mundo em função do capitalismo neo liberal e especulativo foi determinante para a orientação da NATO e para a conduta ideológica e geo-estratégica dos “think tanks”elitistas, entre eles o poderoso Grupo Bilderberg, com vínculos decisivos em relação às finanças, à banca, à ciência, à tecnologia e à indústria, assim como em relação aos tutores que formatam deliberadamente a psicologia aplicada no artifício que constitui a “opinião pública”, controlando os “media”.

A “opinião pública” tornou-se na generalidade em mais um produto-acabado, por que os media se tornaram também investimento, instrumento e fábrica dos poderosos!

As mudanças sócio-políicas foram forjadas nesse cadinho, fazendo uso das instituições burguesas da “democracia representativa”, ela própria tarimbada e aberta às tónicas beneficiando as oligarquias, os seus interesses e as suas conveniências.

A aristocracia financeira mundial instalou o polvo nas duas margens do Atlântico Norte e por via disso, tirando partido das culturas e procedimentos anglo-saxónicos, determinou a instalação do centro decisório e do leme dessa poderosa nave em Washington.

Bruxelas passou a ser assim uma “correia de transmissão” e Berlim o factor “energético”do sistema europeu!

3 – O gigante atlântico tem contudo pontos frágeis que podem abrir fendas susceptíveis de vulnerabilidade:

É claro e histórico o crescimento de dependência em relação a matérias-primas e sobretudo em relação ao petróleo e ao gás que rodeia a periferia da União Europeia a leste e a sul.

As vulnerabilidades podem surgir e têm portanto referências físico-geográficas, por isso o Bilderberg, centro decisório e caixa-de-ressonância da aristocracia financeira mundial, determinou o papel da NATO sem passar pelo controlo democrático, moldando a sua doutrina e ideologia e instrumentalizando essa Organização militar e de inteligência em relação aos seus interesses e conveniências geo-estratégicas, tanto sob o ponto de vista ofensivo, como sob o ponto de vista defensivo.

A NATO nessa configuração faz-se sentir por isso dentro e fora do seu espaço tradicional, neste caso desde o Afeganistão até ao Atlântico Sul… ao redor do fulcro físico-geográfico e marítimo do Atlântico Norte.

4 – Os processos eleitorais europeus espelham essa conformidade, explorando o conformismo vinculativo do eleitorado cuja psicologia e mentalidade tem sido, a propósito, tão contínua e tão profusamente trabalhados pelos “media”…

Os “media” controlados por esses interesses contribuem para a manipulação de todo o ciclo quotidiano de vida do europeu, em especial em relação a tudo o que se tornou mais rentável ao longo desse tão vasto quanto elaborado processo antropológico, desde a alimentação às religiões, desde as novas tecnologias ao futebol!

A alienação tende a ocupar toda a comunicação e faz parte da elaboração de todo o tipo de mensagens, daí que a mentira, a dissuasão e a persuasão sejam “marteladas” a cada instante, criando rotinas desde o berço do ser humano enquanto indivíduo-sociável… até ao final da vida de cada um!

A consciência crítica e as resistências tornam-se assim pequenas ilhas dentro desse “colete-de-forças”, à imagem duma Suiça que enquanto plataforma financeira, bancária e de serviços, ocupa sob compressão o centro do espaço físico-geográfico do continente europeu!

As periferias, sobretudo a dos Balcãs e a da Europa do Leste, reflectem as tensões entre os detentores de matérias-primas e de produtos energéticos valiosos na conformação gerada a partir da Revolução Industrial, com os centros tecnológicos e industriais da União Europeia.

Por isso a NATO é, nessa base, também instrumentalizada tanto no desencadear de processos ofensivos como no desencadear de processos defensivos.

A Ucrânia, que sofre de dupla periferia, é assim sob o ponto de vista físico-geográfico um ponto vulnerável para com a União Europeia e todo o seu processo sócio-político contemporâneo reflecte-o expressivamente.

Essa periferia resvala para o subdesenvolvimento, a partir da dupla-dependência tensa e conflituosa que lhe está a ser imposta.

5 – Em função da hegemonia unipolar que foi assim antropológica e historicamente inculcada, os interesses e as conveniências da aristocracia financeira mundial na União Europeia tornaram-se imperativos nas instituições burguesas da “democracia representativa”, beneficiando-se também da alienação do eleitorado em relação aos poucos processos realmente democráticos estabelecidos (e cada vez mais esbatidos), processos que tendem a reduzir-se à singularidade dos actos eleitorais e a pouco mais… cresce assim outro produto acabado: o conformismo-abstenção!

A sincronização das ênfases e das tónicas dos expedientes correntes transcendem por outro lado a União Europeia e decorrem também nas periferias sujeitas a tensões e a conflitos.

Há um nexo muito forte entre a ascensão de entidades conservadoras e ultra-conservadoras na União Europeia, incluindo aquelas que cultivam racismo e xenofobia e a expressão neo-fascista e neo-nazi despoletada na Ucrânia, em conformidade aliás com o“fim de hibernação” de muitas redes “stay behind” sob os auspícios da NATO!

A aristocracia financeira mundial reitora do capitalismo neo liberal e especulativo, cultiva desse modo a tentativa de manter o mundo sob controlo hegemónico e unipolar, algo que tem marcado os relacionamentos internacionais desde o fim do período referenciado como ”Guerra Fria”.

Com a Ucrânia esse processo histórico agudizou-se e espelhou-se sob os pontos de vista geo-estratégico e geo-político: aqueles que controlam uma parte importante das áreas produtoras de matérias-primas, de petróleo e de gás, não se configurando nem se conformando ao padrão capitalista neo liberal e especulativo, procuram a emergência e um universo multipolar.

Esse desafio contribui também para que a aristocracia financeira mundial se decidisse a gerar por um lado políticas de austeridade internas à União Europia e/ou por outro a inculcar e desencadear processos de golpes de estado com recurso a “revoluções coloridas”e “primaveras árabes”, sempre que entenda ser necessário, no seu exterior próximo, onde há petróleo ou gás, assim como oleodutos e gasodutos: no leste europeu, nos Balcãs e na bacia mediterrânica!

Há crispação por que escapa-se a hegemonia, esvai-se a hegemonia e as possibilidades de consolidação do universo unipolar, vão-se enfraquecendo no espaço e no tempo!

Dividir a Federação Russa para tornar o expediente mais fácil para a hegemonia está a tornar-se uma miragem cada vez mais difusa no horizonte!

A Europa também espelha essa miragem, tão instrumentalizada que está e a Ucrânia enquanto periferia-fronteira é um dos exemplos correntes mais evidentes.

Desde a IIª Guerra Mundial que a Europa não assistia à acensão ao poder e ao crescimento de vocações ultra-conservadoras, fascistas ou nazis como as que estão sendo patenteadas agora em catadupa, neste momento que se pode considerar de transição!

Ao mesmo tempo os mais poderosos emergentes, que rechaçaram a investida neo liberal e confinaram o potencial dos consórcios multinacionais e dos carteis, cerram fileiras, resistem e salvaguardam as potencialidades do universo multipolar, fortalecendo-o!

A Europa, o quadro geo-estratégico da hegemonia unipolar, obriga desse modo as suas próprias periferias cada vez mais vulneráveis, à deriva ocidental-centrífuga de Berlim-Bruxelas e por isso a oriente, Moscovo-Pequim “esperam sentados”, refinando e consolidando laços comuns, fazendo crescer de forma inteligente suas capacidades militares, mesmo que aparentemente se mecham pouco perante as manipulações, as ingerência, as tensões, os conflitos e o incómodo!

A NATO sob a batuta Bilderberg, lá vai prestando o seu serviço!...

Imagem: Mapa da visão das exportações europeias: com ele pode-se verificar o relacionamento próximo entre a concentração tecnológica-industrial e as periferias produtoras de matérias-primas, petróleo, gás, produtos agrícolas, alguns serviços e têxteis.

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