Mário
Soares – Diário de Notícias, opinião - ontem
O
Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na tarde das eleições, fez
um único apelo aos portugueses: "não deixem de votar; é importante
votar". Contudo, o povo, de norte a sul, respondeu com uma abstenção, que
foi a maior de sempre: 66%, quase dois terços dos eleitores não votaram. Quer
dizer que não o ouviram e desinteressaram-se dos partidos da coligação. Mas a
"vitória" do PS, infelizmente, foi uma vitória de Pirro... Isto é:
que não devia ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez. O
povo falou claro, não quer a direita que está no poder. Mas também quer que o
PS dê expressão política ao descontentamento popular.
António
Costa disse na televisão, cito: "Partilho como todos os socialistas a
alegria da vitória e a preocupação de à derrota histórica da direita não ter
correspondido uma vitória histórica do PS."
Com
efeito, assim foi.
Mas
o que diz o Presidente da República, que pediu com tanto empenho aos
portugueses para que que votassem, sobre o facto de não lhe terem correspondido
minimamente? Vai fazer, mais uma vez, orelhas moucas? E passar adiante como se
nada fosse?
Lembre-se
de que o Tribunal Constitucional, que esperou até agora para não ser acusado de
prejudicar o Governo, como foi por estrangeiros e portugueses, aliás sem razão,
vai ter de dizer finalmente o que pensa do Orçamento que lhe foi apresentado.
Não creio que seja uma decisão favorável a este Governo, que tão mal tem feito
a Portugal e aos portugueses. O Presidente da República não pode deixar de
falar e de encontrar uma saída para a terrível crise em que Portugal está e
continua com a austeridade que mata, como diz o Papa Francisco. Crise que
acrescida agora com uma situação de impasse político.
O
Presidente da República está a pouco tempo de ainda poder resolver, em parte, o
mal que este Governo tem feito a Portugal e aos portugueses, só pensando nos
mercados e ignorando completamente as pessoas. E que o Presidente sempre
protegeu. Porque o tempo de Cavaco Silva para ter possibilidade de decidir é
curto. Lembre-se de que sairá muito mal da cena política, continuando ainda
como Presidente, sem ter poder para que possa ajudar ainda a salvá-lo, um
pouco, das terríveis consequências da política deste Governo. É preciso que o
demita antes. Se o não fizer, terá um péssimo fim. Quem o avisa, seu amigo é.
Os
partidos do chamado arco do Governo estão desacreditados, como se viu. Têm de
se compenetrar disso se quiserem subsistir. A vitória de Marinho e Pinto é um
bom exemplo. Felicito-o. Mas o bom resultado da CDU, Partido Comunista, isolado
como está e igual a si próprio, tendo como inimigo principal o PS, ao contrário
do que Álvaro Cunhal fez em tempo de eleições presidenciais, não leva a lado
nenhum para ninguém. E, de resto, como sempre foi, continua contra a União Europeia.
Contra
a direita é preciso que a esquerda se una e que o Partido Socialista, por seu
lado, também não fique isolado. E tente cooperar com toda a esquerda que o
queira, de igual para igual.
As
eleições do passado domingo devem fazer repensar os partidos da esquerda, como
ocorreu na Grécia com Tsipras, cujo partido Syriza, ganhou as eleições. O que
infelizmente não aconteceu com o Bloco de Esquerda. Mas este não deve desanimar.
Leia
mais sobre a crise no PS em Diário de Notícias
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