quarta-feira, 28 de maio de 2014

Portugal: DIA DAS ELEIÇÕES



Mário Soares – Diário de Notícias, opinião - ontem

O Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na tarde das eleições, fez um único apelo aos portugueses: "não deixem de votar; é importante votar". Contudo, o povo, de norte a sul, respondeu com uma abstenção, que foi a maior de sempre: 66%, quase dois terços dos eleitores não votaram. Quer dizer que não o ouviram e desinteressaram-se dos partidos da coligação. Mas a "vitória" do PS, infelizmente, foi uma vitória de Pirro... Isto é: que não devia ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez. O povo falou claro, não quer a direita que está no poder. Mas também quer que o PS dê expressão política ao descontentamento popular.

António Costa disse na televisão, cito: "Partilho como todos os socialistas a alegria da vitória e a preocupação de à derrota histórica da direita não ter correspondido uma vitória histórica do PS."

Com efeito, assim foi.

Mas o que diz o Presidente da República, que pediu com tanto empenho aos portugueses para que que votassem, sobre o facto de não lhe terem correspondido minimamente? Vai fazer, mais uma vez, orelhas moucas? E passar adiante como se nada fosse?

Lembre-se de que o Tribunal Constitucional, que esperou até agora para não ser acusado de prejudicar o Governo, como foi por estrangeiros e portugueses, aliás sem razão, vai ter de dizer finalmente o que pensa do Orçamento que lhe foi apresentado. Não creio que seja uma decisão favorável a este Governo, que tão mal tem feito a Portugal e aos portugueses. O Presidente da República não pode deixar de falar e de encontrar uma saída para a terrível crise em que Portugal está e continua com a austeridade que mata, como diz o Papa Francisco. Crise que acrescida agora com uma situação de impasse político.

O Presidente da República está a pouco tempo de ainda poder resolver, em parte, o mal que este Governo tem feito a Portugal e aos portugueses, só pensando nos mercados e ignorando completamente as pessoas. E que o Presidente sempre protegeu. Porque o tempo de Cavaco Silva para ter possibilidade de decidir é curto. Lembre-se de que sairá muito mal da cena política, continuando ainda como Presidente, sem ter poder para que possa ajudar ainda a salvá-lo, um pouco, das terríveis consequências da política deste Governo. É preciso que o demita antes. Se o não fizer, terá um péssimo fim. Quem o avisa, seu amigo é.

Os partidos do chamado arco do Governo estão desacreditados, como se viu. Têm de se compenetrar disso se quiserem subsistir. A vitória de Marinho e Pinto é um bom exemplo. Felicito-o. Mas o bom resultado da CDU, Partido Comunista, isolado como está e igual a si próprio, tendo como inimigo principal o PS, ao contrário do que Álvaro Cunhal fez em tempo de eleições presidenciais, não leva a lado nenhum para ninguém. E, de resto, como sempre foi, continua contra a União Europeia.

Contra a direita é preciso que a esquerda se una e que o Partido Socialista, por seu lado, também não fique isolado. E tente cooperar com toda a esquerda que o queira, de igual para igual.

As eleições do passado domingo devem fazer repensar os partidos da esquerda, como ocorreu na Grécia com Tsipras, cujo partido Syriza, ganhou as eleições. O que infelizmente não aconteceu com o Bloco de Esquerda. Mas este não deve desanimar.

Leia mais sobre a crise no PS em Diário de Notícias

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