sábado, 7 de junho de 2014

Em vídeo, princesas sauditas presas pedem ajuda internacional



Opera Mundi, São Paulo

Duas princesas sauditas, filhas do rei Abdallah bin Abdul Aziz Al-Saud, pediram, em um vídeo postado no YouTube, ajuda internacional para livrá-las do cativeiro imposto a ambas desde 2001 por seu pai. Na gravação, Sahar e Jawaher Bint Abdalá al Saud dizem que desde março elas não têm alimentos frescos ou água mineral. “Estão nos deixando morrer de fome”, diz Jawaher. Apesar de terem acesso à internet e às redes sociais, afirmam que elas e duas irmãs vivem presas em vilas dentro do palácio real.

As irmãs de 42 e 38 anos pedem que “as organizações de direitos humanos, a ONU e a Cruz Vermelha” se pronunciem sobre o caso. “Não esperem que ocorra conosco algo irremediável”, disseram. Outras duas irmãs Maha, de 41, e Hala, de 39, filhas da segunda esposa do rei, Alanoud Alfayez, estariam presas em outro lugar.

“Parece que a ONU, a Cruz Vermelha e outras organizações de direitos humanos precisam que lembremos suas responsabilidades”, escreveram em um e-mail pedindo ajuda para a divulgação do vídeo, como informou o jornal El País. Elas defendem que essas instituições façam uma “declaração pública” sobre o caso em vez de dizer que estão “trabalhando nisso e que estão enviando cartas” ao governo saudita. “Têm que vir a esta casa para ver este crime e nos liberar imediatamente”, suplica Jawaher, que aparece nas imagens sem véu.

As princesas contataram, em março, a jornalista libanesa e colaboradora do Sunday Times, Hala Jaber, via Facebook, para expor o caso. A repercussão, no entanto, não foi a esperada por elas, apesar dos diversos pedidos feitos à imprensa internacional e às ações da mãe das princesas, Alanoud al Fayez, que semanalmente organiza ações diante da embaixada saudita em Londres, onde mora.

De acordo com a correspondente do El País em Dubai, Ángeles Espinosa, ela tentou visitar as irmãs, mas, dois dias depois da tentativa, os guardas cancelaram a saída vigiada que era permitida a elas a cada dois meses para que pudessem fazer compras em um supermercado próximo ao local.

Alanoud chegou a escrever para o Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, mas não obteve retorno porque, segundo disseram, a carta não estava assinada por ela, mas por seu advogado. Ela tornou a escrever, mas ainda não obteve resposta.

Entenda o caso

A mãe das princesas, em entrevista ao El País, disse que o castigo pode ter sido motivado pelo fato de que elas falavam com franqueza ao pai sobre os problemas que viam no país, o que desagradava seus meio-irmãos. Alanoud disse também que sua terceira filha descobriu, enquanto trabalhava como psicóloga no Hospital Militar, que “colocavam presos políticos na área de psiquiatria onde lhes aplicavam alucinógenos”.

A Arábia Saudita é um dos piores países com relação aos direitos das mulheres, sendo o único do mundo a proibir que elas dirijam carros. De acordo com a ONU, não existem leis que criminalizem a violência de gênero no país e um relatório produzido pelo Fórum Econômico Mundial de 2010 sobre igualdade de gênero classificou a Arábia Saudita no 129º lugar entrem os 134 países avaliados.

Desta forma, é comum que maridos ou pais prendam suas esposas ou filhas. De acordo com a lei local, o marido, o pai ou o irmão detêm o poder de decisão sobre as mulheres.

Alanoud se casou com Abdalá com 15 anos, quando ele ainda não era rei. Em 1984 eles se divorciaram e ela foi viver em Londres, deixando as filhas na Arábia Saudita. As garotas estudaram em colégios ocidentalizados e duas vezes por ano viajavam para passar as férias com a mãe. Mas, após uma viagem à Itália sem ela, passaram a ser cada vez mais reclusas no palácio e com problemas para manter o estilo de vida que tinham.

Outra hipótese é que sejam mantidas reféns como forma de punir a mãe, já que o rei queria que ela voltasse a viver na Arábia Saudita, o que não aconteceu.


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