segunda-feira, 21 de julho de 2014

O INFERNO NUM AVIÃO OU NA FAIXA DE GAZA



Ana Sá Lopes – jornal i, editorial

Netanyahu diz que há um grande apoio internacional a Israel. Infelizmente tem toda a razão

Os Estados Unidos e a Inglaterra pressionam Vladimir Putin às claras e culpam-no indirectamente pelo abate do avião malaio. A Casa Branca não tem dúvidas: o czar de Moscovo é responsável pelo armamento dos separatistas e tem de parar imediatamente o incêndio em território ucraniano.

Merkel foi mais devagarinho - ao contrário de David Cameron, não tem qualquer "special relationship" com os Estados Unidos e a que tinha degrada-se de dia para dia, à medida que vão aparecendo mais espiões americanos. Merkel telefonou a Putin e acordou com ele uma investigação internacional às circunstâncias da queda do aparelho.

Mas, depois de Obama, foi John Kerry a desdobrar-se ontem por vários canais de televisão americanos, a apontar o dedo à Rússia e ao armamento dos separatistas levado a cabo pelas autoridades russas. É verdade que quando questionado directamente sobre se Vladimir Putin foi responsável pelo ataque ao avião, Kerry resguardou- -se: "Culpado é um termo jurídico", respondeu, mas apelou à opinião pública: "As pessoas podem fazer o seu próprio julgamento".

No dia em que Kerry pressionou o Kremlin até ao tutano, foi apanhado por um microfone numa conversa privada onde falava da "operação infernal" que Israel está a levar a cabo na faixa de Gaza. Interrogado sobre se a sua conversa privada indicava que pensava que Israel estava a ir longe de mais, Kerry lá foi dizendo que falou no sentido em que "estas situações são muito difíceis" e que reagiu "da mesma maneira que toda a gente, no que respeita às crianças e aos civis". Mas insistiu que Israel tinha o direito de se defender.

O tremor com que a comunidade internacional reage ao que se está a passar na faixa de Gaza permite que Benjamim Netanyahu venha dizer, como fez ontem, que "existe um apoio internacional muito forte" ao massacre na zona. Tirando o primeiro-ministro da Turquia, Erdogan, que comparou as autoridades israelitas aos "nazis", a reacção política foi controladíssima. O secretário-geral das Nações Unidas pediu humildemente a Israel para "poupar os civis na sua ofensiva". O sentimento de culpa ocidental pelo anti-semitismo bastante recente (que não foi exclusivo de Hitler e da Alemanha) redundou na vitória em larga escala dos falcões israelistas. O Hamas não é uma coisa que se recomende, mas o Ocidente decidiu fazer uma escolha política. O direito de Israel se defender permitirá tudo - e obriga Kerry e os outros todos a falar baixinho.

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