Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Imagine
que é sócio de uma empresa e de repente, sem que qualquer assembleia o
legitime, alguém de fora indica um novo presidente do conselho de administração
que divide a empresa e nomeia os demais administradores. Só o admitiria se
quisesse estar longe da empresa, provavelmente por estar falida, e se tivesse
garantias de que esta operação o desobrigaria da participação nas suas
responsabilidades financeiras.
Bem-vindo ao BES.
A D. Inércia, o Banco de Portugal, depois de o escândalo estar na praça pública – graças à zanga entre Queiroz Pereira e Salgado –, assumiu os prejuízos do banco numa manhosa nacionalização em que o Estado garante o dinheiro à mesma taxa de juro a que o compra. Risco máximo, lucro zero. Como se jogasse numa roleta em que a expectativa máxima fosse receber as fichas que colocou. Repetem-se as mentiras. De “os portugueses podem confiar no BES” de Cavaco Silva (21/07) passa-se ao “não terá qualquer custo para os contribuintes” de Carlos Costa (03/08). Na verdade todo o processo revela duas coisas importantes de reter.
Ao contrário do que Passos Coelho, Vítor Bento ou Ricardo Salgado sempre declararam, o nosso problema não é o investimento na educação, na saúde, na cultura ou na segurança social, mas a forma como os governos vão transformando dívida privada em dívida pública. Por outro lado, o escândalo do BES não só silencia por uns tempos o dogma das vantagens da gestão privada sobre a pública como torna evidente que, num Estado que tenha como eixo central a salvaguarda do interesse público, os principais instrumentos do sistema financeiro têm de ser públicos. Um banco privado que tenha um carácter sistémico na economia de um país é fantástico para os seus accionistas sempre que distribui lucros e um problema para o Estado assim que começa a acumular prejuízos. Não se deve exigir regulação mas controlo público, se não, para os cidadãos, sobrará sempre a conta dos prejuízos.
Escreve
ao sábado
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