Francisco Louçã – Público, opinião, em Tudo Menos Economia
Durante
o fim de semana, deu-se o milagre: alguns comentadores terão recebido um
telefonema cordial do ministério das finanças a dar a cada um, em primeira mão
e em total exclusivo, os detalhes explicadinhos da engenharia financeira que o
Governador haveria de anunciar às 22.53 deste domingo, no meio da sua enxurrada
de autojustificações.
O
telefonema foi simpático, mas esqueceu-se de dar três detalhes, e os
destinatários, encantados com a distinção, parece que não perguntaram.
Primeiro
detalhe: os bancos que se responsabilizam pelo empréstimo da troika ao Fundo de
Resolução não exigem uma garantia do Estado? Quem acredita que Ulrich ou Amado
vão tirar as castanhas do lume dos Espírito Santo, arriscando os seus próprios
bancos, que levante a mão. Se, além disso, acredita que estes bancos esperam em
seis meses recuperar o valor (para ser logo depois ser vendido a um novo
proprietário que lhes vai disputar o mercado) de um banco de que tanta gente
vai tirar os depósitos na 2ªf de manhã, então merece ser santificado. O Estado,
ou seja, as nossas carteiras, vai dar a garantia. Vamos ter de pagar.
Segundo
detalhe: os credores que foram exilados no “banco mau”, mas que fizeram
operações com o BES, o tal banco de dois milhões de depositantes, vão
aceitar agora perder o seu dinheiro sem levarem a tribunal o Estado ou o “novo
banco”? E os pequenos accionistas? Vamos ter de pagar, se a coisa
corre mal.
Terceiro
detalhe: nos empréstimos com dinheiro da troika ao BCP e BPI, o
Estado ficava com acções do banco (embora fossem acções especiais com direitos
diminuídos) e tinha ainda assim uma palavra nas suas operações. Agora, vai
emprestar a um Fundo que não tem recursos próprios, entrega o controlo da coisa
aos outros bancos e não tem uma palavra a dizer sobre a condução e estratégia
das operações financeiras. É dar o ouro ao concorrente do bandido.
Qual
o prazo, quais os juros, quais os contratos, quais os despedimentos, tudo isso é
mistério. Mas as três perguntas que não ficaram respondidas é que vão custar
muito caro aos contribuintes.
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