Frei
Betto, Rio de Janeiro – Correio do Brasil, opinião
Em
época de eleição respira-se emoção. A razão entra em férias, a sensibilidade
fica à flor da pele. Em família e no trabalho, todos manifestam opiniões sobre
eleições ecandidatos.
O
tom das opiniões varia do palavrão (a desqualificar toda a árvore genealógica
do candidato) à veneração acrítica de quem o julga perfeito. Marido briga com a
mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a
melhor análise sobre as eleições…
Há
quem insista em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o
consiga em relação acandidatos, todos eles considerados corruptos, mentirosos,
aproveitadores e/ou demagogos.
Não
há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. E este é governado pelo partido
vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é passar cheque em branco,
assinado e de valor ilimitado, a quem governa. Governo e Estado são
indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais.
É
compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló ou cor marrom. E mesmo de
política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do
primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política.
A
classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país.
Houvesse menos injustiça e mais distribuição da riqueza, ninguém nasceria entre
a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social
em que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. O que não
deveria ser considerado privilégio por quem pertence às classes média e rica, e
sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.
Somos
ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro segue para o
Ministério da Justiça; vacinados, Saúde; ao ingressar na escola, Educação; ao
arranjar emprego, Trabalho; ao tirar habilitação, Cidades; ao aposentar-se,
Previdência Social; ao morrer, retorna-se ao Ministério da Justiça. E nossas
condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da
Fazenda e do Planejamento.
Em
tudo há política. Para o bem ou para o mal. Há política até no calendário.
Dezembro, deriva de dez; novembro, de nove; outubro, de oito; setembro, de
sete.
Outrora,
o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César decidiu acrescentar mais um em
sua homenagem. Criou julho. O sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou
agosto.
Como
os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu seu mês ter menos
dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e
julho em 31 dias. Não titubearam: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a
questão.
O
Brasil é o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou pior. E os que o
governam são escolhidos pelo voto de cada eleitor.
Faça
como o Estado: deixe de lado a emoção, pense e vote com a razão. As instituições
públicas são movidas por políticos escolhidos por nós e pessoas indicadas por
eles. Todos os funcionários são nossos empregados.
*Frei
Betto, é escritor e assessor de movimentos sociais.
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