Novo
recuo: Marina Silva muda opinião histórica contra a anistia aos agentes do
Estado que torturaram, assassinaram e sumiram com corpos na ditadura. Desbotada
precocemente, a “nova política'' já se parece com a "velha''
Pragamatismo
Político
Marina
Silva recuou algumas vezes em seu programa de governo. A primeira vez foi com relação ao casamento homossexual, a
segunda foi no quesito energia nuclear. Esse vai e vem suscitou críticas. Um
escreve-não-lê de grande monta. No entanto, agora o assunto pode render muito
mais gritas: direitos humanos. Segundo a coluna Painel, da Folha, Marina diz
ser contra a revisão da Lei de Anistia. Antes de ser candidata, Marina defendia
a punição de militares. Hoje, candidata, declara-se contra a revisão da lei.
Quem
promete mudanças na área é o programa da candidata à reeleição Dilma Rousseff.
Apesar de publicamente a petista ter se manifestado a favor da manutenção da
lei, o PT aprovou por unanimidade, no 14º Encontro Nacional do partido em maio,
a inclusão da revisão da Lei que anistiou os militares. “O PT, como principal
partido da coalizão da candidatura de Dilma, tirou por unanimidade posição
favorável pela proposta de revisão da Lei de Anistia ”, afirmou a presidente da
Comissão da Verdade do Rio, Nadine Borges.
Procurado,
Aécio Neves reiterou ser contra a mudança na legislação. Aécio informou por
meio de nota que “vai manter e apoiar os trabalhos que vêm sendo realizados
pela Comissão Nacional da Verdade”.
Cobranças
“Acho
que os candidatos à Presidência deveriam se posicionar sobre esse assunto. Não
podemos parar. Não apenas por conta do caso específico da minha família, mas
especialmente porque estes casos não punidos, não investigados, servem de mau
exemplo para as nossas polícias que são treinadas para funcionar como na
ditadura”, defendeu Vera Paiva, filha do deputado federal cassado Rubens Paiva,
vítima do regime.
Mário
Magalhães, blogueiro do UOL e autor da biografia “Marighella – O guerrilheiro
que incendiou o mundo”, comentou o recuo de Marina Silva na questão da
impunidade aos torturadores da ditadura. Leia o texto abaixo.
Por
Mário Magalhães
A
“nova política” da candidata Marina Silva (PSB) perdeu ainda mais o viço com
seu pronunciamento a favor da impunidade de agentes do Estado que torturaram,
assassinaram e sumiram com corpos de opositores durante a ditadura que vigorou
no Brasil de 1964 a
1985.
A
mudança da opinião histórica de Marina contra a anistia aos violadores dos
direitos humanos se tornou pública em entrevista da ex-senadora ao G1 (assista aqui).
“Defende
a revisão da Lei de Anistia?”, indagaram-lhe. Ela respondeu: “Não”.
Em
novembro de 2008, Marina havia publicado na “Folha” um artigo defendendo
opinião oposta (leia
aqui): “A tortura é crime hediondo, não é ato político nem contingência
histórica. Não lhe cabe o manto da Lei de Anistia. À justiça aqueles que, por
decisão individual e intransferível, utilizaram esse instrumento torpe. Seu
ajuste de contas não pode se limitar ao contencioso direto com suas vítimas.
Somos todos atingidos duplamente, em nossa humanidade e em nossa cidadania. O
Estado, que nos representa, deve agir tendo em conta essa dimensão”.
Foi
o repórter Bernardo Mello Franco quem informou sobre mais essa reviravolta de
Marina Silva (aqui).
Na
sexta-feira, a candidata divulgou seu programa de governo. Um dia depois, mudou
passagens relevantes sobre emprego de energia nuclear, casamento de pessoas do
mesmo sexo e criminalização da homofobia. Alegou ter havido “falha processual
na editoração” do texto.
Ao
pregar que a anistia política de 1979 também ampara criminosos a serviço do
Estado, Marina, em vez de se diferenciar entre os mais fortes postulantes à
Presidência, adotou a mesma plataforma de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves
(PSDB).
Esgrimindo
palavras menos cruas, os três consideram que, ao contrário do que ocorre ainda
hoje na Alemanha, Argentina, Camboja e Sérvia, funcionários públicos autores de
crimes contra a humanidade merecem ser protegidos pela aberração da impunidade.
Desbotada
precocemente, a “nova política” já se parece com a “velha”.
Foto: Familiares
dos torturados na ditadura cobram que presidenciáveis se pronunciem sobre lei
da anistia (Imagem: Pragmatismo Político)
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