BESgate.
Toda a história saída da administração do Novo Banco
Luís
Rosa – jornal i
O
Banco de Portugal deu ontem luz verde à equipa escolhida por Eduardo Stock da
Cunha para liderar a nova fase da instituição financeira que ficou com os
activos não tóxicos do BES
O
Fundo de Resolução e o Banco de Portugal
confirmaram ontem à tarde a nomeação de Eduardo Stock da Cunha para o lugar
deixado vago por Vítor Bento no Novo Banco, referindo que o novo CEO “tem uma
longa experiência de sucesso no sector financeiro, tanto
nacional como internacional”.
Este terá sido, aliás, um dos argumentos determinantes para a escolha de um dos homens próximos de António Horta Osório. Stock da Cunha é um estrangeirado, que fez grande parte da sua carreira fora de Portugal, logo está mais imune às pressões do poder político e do próprio sector. Actualmente desempenhava funções de director no Lloyds Banking Group (LBG), em Londres, depois de ter trabalhado vinte anos como administrador no Grupo Santander Totta e mais tarde no Sovereign Bank / Santander Bank, nos Estados Unidos.
Dia
D
Desde quarta-feira que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, sabia
que tinha de substituir Vítor Bento na administração da instituição financeira
que ficou com os activos saudáveis do BES. O ex-homem forte da SIBBS bateu com
a porta nesse dia (o que deveria ter acontecido na terça-feira), num gesto
secundado por João Moreira Rato e José Honório. Razão oficial: as
circunstâncias, que “alteraram profundamente a natureza do desafio com base no
qual aceitáramos esta missão em meados de Julho”. Oficiosamente, ao longo do último
mês, eram cada vez mais evidentes as divergências entre os três administradores
que agora saíram e o governador relativamente quer à condução do Novo Banco
quer à celeridade da sua venda.
Recorde-se
que Vítor Bento, José Honório e Moreira Rato tinham sido cooptados para o
Conselho de Administração do BES em substituição de Ricardo Salgado e de outros
administradores da família Espírito Santo. A 3 de Agosto, e depois da medida de
resolução aplicada ao BES, Carlos Costa convidou Bento e os dois gestores da
sua confiança a transitarem para a liderança do Novo Banco.
Aqui
começam as divergências entre as fontes contactadas pelo i. Fontes do Novo
Banco garantem que Carlos Costa não disse a Vítor Bento que tinha de vender a
nova instituição até ao final do ano, enquanto que a posição oficial do Banco
de Portugal assenta numa venda a curto prazo, como ficou patente na contratação
do BNP Paribas para assessorar o respectivo processo de alienação.
As
divergências entre Vítor Bento e Carlos Costa ganharam importância pública já
em Agosto, quando foi noticiado que a administração do Novo Banco queria que o
Banco de Portugal clarificasse o seu mandato em termos de autonomia e de
duração do mesmo. Isto é, a equipa de Bento entendia que não tinha autonomia
para alienar nenhum activo e não percebia por que razão o governo de Passos
Coelho garantia publicamente que a venda do Novo Banco tinha de ser realizada
até ao final do ano quando o mandato era de cinco anos. Teve de ser marcada uma
reunião de urgência para o dia 26 de Agosto de forma a que Bento e Costa
negociassem uma solução – o que deu lugar a um comunicado público que apaziguou
os ânimos.
O
mal, contudo, já estava feito. Vítor Bento, por exemplo, sentiu-se enganado
pelo Banco de Portugal na suspensão dos administradores Joaquim Goes, Rui
Silveira e António de Souto que ocorreu a 30 de Julho. Carlos Costa, segundo
fontes próximas de Bento, tinha pedido a continuidade desses gestores na
administração do Novo Banco, o que torna incompreensível, segundo fontes do
Novo Banco, a suspensão decretada em Julho.
Outra
divergência entre as fontes contactadas pelo i, prende-se como timing para o
anúncio da decisão. Eduardo Stock da Cunha terá sido convidado na 5.ª feira
pelo governador do Banco de Portugal, o que pressupõe que Carlos Costa aceitou
a demissão de Vítor Bento e dos dois administradores do Novo Banco no dia
anterior. Fontes desta última instituição, contudo, asseguram que o governador
pediu a Bento para esperar até à próxima 3.ª feira, dia 16, com o objectivo de
encontrar uma solução. Todas as fontes garantem que foi a fuga de informação
para o “Expresso” que fez acelerar todo o processo – facto que surpreendeu o
próprio Stock da Cunha que estava em pleno processo de auscultação de nomes
para a nova administração.
O
Banco de Portugal viu-se assim obrigado a emitir um comunicado ontem, onde se
pode ler que, “no seguimento das propostas do Dr. Eduardo Stock da Cunha
como presidente, o novo conselho de administração do Novo Banco integrará o Dr.
Jorge Freire Cardoso, como administrador responsável pela área
financeira, contando também com o Dr. Vítor Fernandes e o Dr. José João
Guilherme”.
Jorge
Freire Cardoso era até aqui administrador da Caixa Geral de
Depósitos (CGD). Vítor Fernandes foi administrador do Banco
Comercial Português, da Caixa Geral de Depósitos e CEO da Seguradora Mundial
Confiança. Já José João Guilherme, após cessar as suas funções como
administrador do Banco Comercial Português e de CEO do BIM – Banco
Internacional de Moçambique, estava actualmente a administrar empresas não
financeiras.
Vender
logo que possível
A nova equipa tem também uma incumbência clara definida pelo regulador no comunicado de ontem: “num prazo tão curto quanto razoavelmente exequível, o Novo Banco terá de passar a contar com uma estrutura accionista estável e que garanta o desenvolvimento de um projecto criador de valor para a instituição, para os seus trabalhadores, para o sistema financeiro e para a economia nacional”.
A nova equipa tem também uma incumbência clara definida pelo regulador no comunicado de ontem: “num prazo tão curto quanto razoavelmente exequível, o Novo Banco terá de passar a contar com uma estrutura accionista estável e que garanta o desenvolvimento de um projecto criador de valor para a instituição, para os seus trabalhadores, para o sistema financeiro e para a economia nacional”.
*Título PG
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