segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Portugal - BESgate: STOCK DA CUNHA PARA VENDER AO DESBARATO O NOVO BANCO




BESgate. Toda a história saída da administração do Novo Banco

Luís Rosa – jornal i

O Banco de Portugal deu ontem luz verde à equipa escolhida por Eduardo Stock da Cunha para liderar a nova fase da instituição financeira que ficou com os activos não tóxicos do BES

O  Fundo  de  Resolução  e  o  Banco  de Portugal confirmaram ontem à tarde a nomeação de Eduardo Stock da Cunha para o lugar deixado vago por Vítor Bento no Novo Banco, referindo que o novo CEO “tem uma longa experiência de sucesso no sector financeiro,  tanto  nacional  como  internacional”. 

Este terá sido, aliás, um dos argumentos determinantes para a escolha de um dos homens próximos de António Horta Osório. Stock da Cunha é um estrangeirado, que fez grande parte da sua carreira fora de Portugal, logo está mais imune às pressões do poder político e do próprio sector. Actualmente desempenhava funções de director no Lloyds Banking Group (LBG), em Londres, depois de ter trabalhado vinte  anos como administrador no Grupo Santander Totta e mais tarde no Sovereign Bank / Santander Bank, nos Estados Unidos.

Dia D 

Desde quarta-feira que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, sabia que tinha de substituir Vítor Bento na administração da instituição financeira que ficou com os activos saudáveis do BES. O ex-homem forte da SIBBS bateu com a porta nesse dia (o que deveria ter acontecido na terça-feira), num gesto secundado por João Moreira Rato e José Honório. Razão oficial: as circunstâncias, que “alteraram profundamente a natureza do desafio com base no qual aceitáramos esta missão em meados de Julho”. Oficiosamente, ao longo do último mês, eram cada vez mais evidentes as divergências entre os três administradores que agora saíram e o governador relativamente quer à condução do Novo Banco quer à celeridade da sua venda.

Recorde-se que Vítor Bento, José Honório e Moreira Rato tinham sido cooptados para o Conselho de Administração do BES em substituição de Ricardo Salgado e de outros administradores da família Espírito Santo. A 3 de Agosto, e depois da medida de resolução aplicada ao BES, Carlos Costa convidou Bento e os dois gestores da sua confiança a transitarem para a liderança do Novo Banco.

Aqui começam as divergências entre as fontes contactadas pelo i. Fontes do Novo Banco garantem que Carlos Costa não disse a Vítor Bento que tinha de vender a nova instituição até ao final do ano, enquanto que a posição oficial do Banco de Portugal assenta numa venda a curto prazo, como ficou patente na contratação do BNP Paribas para assessorar o respectivo processo de alienação. 

As divergências entre Vítor Bento e Carlos Costa ganharam importância pública já em Agosto, quando foi noticiado que a administração do Novo Banco queria que o Banco de Portugal clarificasse o seu mandato em termos de autonomia e de duração do mesmo. Isto é, a equipa de Bento entendia que não tinha autonomia para alienar nenhum activo e não percebia por que razão o governo de Passos Coelho garantia publicamente que a venda do Novo Banco tinha de ser realizada até ao final do ano quando o mandato era de cinco anos. Teve de ser marcada uma reunião de urgência para o dia 26 de Agosto de forma a que Bento e Costa negociassem uma solução – o que deu lugar a um comunicado público que apaziguou os ânimos.

O mal, contudo, já estava feito. Vítor Bento, por exemplo, sentiu-se enganado pelo Banco de Portugal na suspensão dos administradores Joaquim Goes, Rui Silveira e António de Souto que ocorreu a 30 de Julho. Carlos Costa, segundo fontes próximas de Bento, tinha pedido a continuidade desses gestores na administração do Novo Banco, o que torna incompreensível, segundo fontes do Novo Banco, a suspensão decretada em Julho.

Outra divergência entre as fontes contactadas pelo i, prende-se como timing para o anúncio da decisão. Eduardo Stock da Cunha terá sido convidado na 5.ª feira pelo governador do Banco de Portugal, o que pressupõe que Carlos Costa aceitou a demissão de Vítor Bento e dos dois administradores do Novo Banco no dia anterior. Fontes desta última instituição, contudo, asseguram que o governador pediu a Bento para esperar até à próxima 3.ª feira, dia 16, com o objectivo de encontrar uma solução. Todas as fontes garantem que foi a fuga de informação para o “Expresso” que fez acelerar todo o processo – facto que surpreendeu o próprio Stock da Cunha que estava em pleno processo de auscultação de nomes para a nova administração.

O Banco de Portugal viu-se assim obrigado a emitir um comunicado ontem, onde se pode ler que, “no  seguimento das propostas do Dr. Eduardo Stock da Cunha como presidente, o novo conselho de administração do Novo Banco integrará o Dr. Jorge Freire Cardoso, como administrador  responsável  pela  área financeira, contando também com o Dr. Vítor Fernandes e o Dr. José João Guilherme”.

Jorge  Freire  Cardoso era até  aqui  administrador da Caixa Geral de Depósitos   (CGD). Vítor Fernandes foi administrador do Banco  Comercial Português, da Caixa Geral de Depósitos e CEO da Seguradora Mundial Confiança. Já José João Guilherme, após cessar as suas funções  como  administrador do Banco Comercial Português e de CEO do BIM – Banco  Internacional de Moçambique, estava actualmente a administrar empresas não financeiras.

Vender logo que possível 

A nova equipa tem também uma incumbência clara definida pelo regulador no comunicado de ontem:  “num prazo tão curto quanto razoavelmente exequível, o Novo Banco terá de passar a contar com uma estrutura accionista estável e que  garanta  o desenvolvimento  de um projecto criador de valor para a instituição, para os seus trabalhadores, para o sistema financeiro e para a economia nacional”.

*Título PG

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