Coragem
dos estudantes não chega para vencer -- cardeal
14
de Outubro de 2014, 17:14
Hong
Kong, China, 14 out (Lusa) -- Os estudantes de Hong Kong devem ser mais
ponderados na linguagem que usam, defende o cardeal Joseph Zen Ze-kiun,
advertindo que a escalada dos protestos é incompatível com o princípio da
não-violência.
"Eles
devem ter cuidado e não usar de forma leviana a expressão 'vamos intensificar a
ação'. O que querem dizer com isso? Uma escalada significa elevar para o nível
da força. Mas qual é a nossa força? É a força da paz, da razão, a
coragem", afirmou em entrevista à agência Lusa.
O
cardeal reuniu na semana passada com os líderes da Federação de Estudantes e do
movimento Scholarism, os dois grupos que levaram para a rua um boicote às
aulas, posteriormente reforçado com o início da campanha de desobediência civil
que o grupo "Occupy Central" iniciou a 28 de setembro.
"Estive
muitas vezes em Admiralty [epicentro dos protestos, junto à sede do governo de
Hong Kong]. Esperei o dia todo e consegui falar com eles à noite, mas foi só
alguns minutos porque percebi que estavam muito cansados e que não estavam
dispostos a ouvir", explicou.
"Foram
simpáticos o suficiente para se sentarem comigo, mas como não tive oportunidade
de dizer muitas coisas, decidi escrever-lhes uma carta, e uns dias depois,
conclui que tinha de dizer a toda a gente o que penso do movimento",
acrescentou.
Na
atual fase do movimento, em que cada manifestante é líder de si próprio e não
há um rumo definido nas ruas, o bispo emérito de Hong Kong defende a mudança de
estratégia: "As pessoas não podem fazer sacrifícios por um período muito
longo sem verem o fim à vista. A ocupação de vários locais da cidade já é muito
longa. E quanto mais tempo vai ser?"
Ao
contrário dos estudantes, "que pensam que só têm algo nas mãos" se o
líder do governo de Hong Kong se demitir e Pequim recuar na decisão definitiva
de conceder o sufrágio universal, mas só com candidatos eleitorais
pré-selecionados, Joseph Zen defende que o movimento pró-democracia já granjeou
pelo menos duas vitórias: o apoio da população à causa de "uma verdadeira
eleição" e a resposta firme "à força excessiva" da polícia.
"As
pessoas ficaram quando lançaram gás lacrimogéneo. Isso também é uma vitória.
Agora o governo está a agir de forma completamente ridícula. Devemos dizer que
não falamos com gente idiota: 'Vocês estão a usar a violência, por isso nós
vamos para casa. Quando se acalmarem nós voltamos outra vez'", destacou.
"Eu
disse-o aos estudantes, mas eles não ouvem", frisou, ao esclarecer,
todavia, que os jovens têm cometido "erros menores".
Para
o bispo emérito, "a batalha é longa, e é preciso usar meios menos
dispendiosos para alcançar grandes resultados: porque esta iniciativa de
bloquear o tráfego, de ficar acampado durante muito tempo, consome muita
energia".
"É
verdade que há duas noites o governo rompeu o diálogo com os estudantes e que
foi possível chamar milhares às ruas novamente, mas quantas vezes o vão
conseguir?, questionou.
Crente
de que ao mudar para uma "estratégia mais sensata", as pessoas vão
responder às convocatórias para uma ação de grande escala, o cardeal nascido em
Xangai e com experiência da China e de Hong Kong, aposta em continuar os
protestos mediante "ações simbólicas", de pequena dimensão.
"Penso
que os estudantes devem ouvir mais as pessoas e não só seguir a sua
ideia", analisou.
"Muitas
pessoas têm feito a mesma sugestão, mas com diferentes intenções. Eu faço-o por
uma questão de estratégia em primeiro lugar, e por uma questão de segurança.
Penso que os estudantes não gostam de colocar a segurança em primeiro lugar:
estão prontos para morrer, mas na verdade isso não representa nenhuma vantagem
para a causa", analisou.
FV
// EL - Lusa
Cardeal
alerta para risco de repetir Tiananmen
14
de Outubro de 2014, 17:11
Hong
Kong, China, 14 out (Lusa) -- O cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de
Hong Kong, considera "possível" que os protestos pró-democracia na
antiga colónia britânica acabem como na Praça de Tiananmen, com a repressão do
movimento estudantil há 25 anos.
"É
possível, porque nós temos de lidar com gente estúpida: tanto em Pequim como em Hong Kong ",
afirmou, em entrevista à agência Lusa, Joseph Zen Ze-Kiun.
"Eles
são pessoas irrazoáveis. E por isso, penso que tudo é possível. Há um perigo
ali. Não devíamos arriscar sem necessidade", sublinhou.
Apoiante
da campanha de desobediência civil promovida pelo movimento "Occupy
Central", e participante nos protestos, Joseph Zen, 82 anos, assume-se
"incrédulo" com a forma como as autoridades do governo de Hong Kong
têm lidado com os protestos que duram há três semanas e que passaram para as
bocas do mundo desde 28 de setembro, quando a polícia usou gás lacrimogéneo
contra os manifestantes, na sua maioria estudantes.
"O
maior erro [do governo de Hong Kong] foi ter desprezado as inúmeras vozes que
se começaram a insurgir há bastante tempo", avaliou. O Executivo de Leung
Chun-ying, também conhecido por CY Leung, "não teve em conta os promotores
de "Occupy Central": isso foi o início de tudo", reiterou.
A
forma "tonta" como lidaram com os estudantes foi, na opinião do bispo
emérito, o segundo erro: "Os estudantes iniciaram algo que, de forma
nenhuma, pode ser acusado por lei. Foi ridículo deterem-nos e manterem-nos sob
custódia durante mais de 40 horas".
"E
o último erro foi usar gás lacrimogéneo. É incrível. Erro após erro, eles são
responsáveis pela situação atual", sustentou, ao frisar que a população
aguarda até à data um pedido de desculpas.
Para
o líder religioso que, entre 1989 e 1996, esteve no interior da China a
lecionar em seminários a começar por Xangai, onde nasceu, "neste momento,
não são as autoridades de Pequim que devem pedir desculpa, mas as de Hong Kong
porque fizeram uma consulta pública [sobre a reforma política] enganosa".
"O
primeiro passo foi errado. Agora têm de voltar atrás e fazê-lo novamente de
forma correta. Este é um pedido razoável. O governo de Hong Kong deve pedir
desculpas porque não foi objetivo", defendeu, ao afirmar que "é
melhor desafiar a autoridade em
Hong Kong do que em Pequim".
"A
decisão final vem do governo central, mas é preciso ver a forma de apresentar
as coisas", vincou.
Joseph
Zen é especialmente duro com a 'número dois' do Executivo da Região Especial
Administrativa Chinesa, Carrie Lam. "Ela insiste que não podemos passar
por cima da decisão de Pequim, mas ela é inteligente e devia fornecer ao
governo central um relatório adicional sobre a consulta pública".
Por
outro lado, acusa a "falta de vontade sincera" dos governantes em
reunirem com os representantes da Federação de Estudantes, apontando que a
secretária-chefe usou uma estratégia muito "ardilosa" quando negou o
início do diálogo.
"Ela
veio dizer que agora eram poucas pessoas vêm apoiar os estudantes. Estou certo
que ela percebe que ao afirmar isto está a encorajar mais pessoas a saírem à
rua, o que pode arrastar a situação por muito mais tempo", adiantou.
Já
sobre as hipóteses reais de demissão de CY Leung, o bispo emérito de Hong Kong
diz que "todo o poder" está nas mãos de Pequim e que vai depender se
o governo central considera conveniente o seu despedimento ou o seu uso.
"Mas,
certamente, CY Leung não é capaz de governar Hong Kong. E se Pequim lhe
permitir continuar ele vai ser um fardo para eles", realçou.
FV
// EL
Polícia
reabriu ao trânsito parte da zona ocupada por estudantes
14
de Outubro de 2014, 11:53
Hong
Kong, China, 14 out (Lusa) - A polícia de Hong Kong reabriu hoje a Hennessy
Road ao trânsito depois de ao início da manhã ter retirado as barricadas
instaladas pelos manifestantes pró-democracia em volta do Centro Comercial
Sogo, em Causeway Bay ,
um dos locais de protesto.
Envergando
escudos utilizados em operações antimotim, os polícias alinharam-se num dos
lados da rua antes de começarem a remover os obstáculos à circulação automóvel,
inslados pelo movimento 'Occupy' há mais de duas semanas.
De
acordo com a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK) houve pouca
resistência quando os agentes começaram a afastar os manifestantes da estrada,
mas não há notícia de episódios de violência.
Pouco
depois, os manifestantes falaram aos jornalistas sublinhando que pretendem
continuar o protesto na zona e apelaram aos apoiantes do movimento para saírem
á rua em seu apoio.
A
grande preocupação do movimento pró-democrático não é, agora, qualquer
possibilidade de confronto com as forças de segurança, mas sim com os
'anti-Occupy', que provocaram alguns atos violentos na segunda-feira.
Centenas
de opositores ao movimento de desobediência civil, que ocupa algumas ruas do
centro de Hong Kong reivindicando a eleição direta do líder do Governo sem
qualquer restrição, como a pré-seleção por um comité eleitoral que Pequim
definiu como regra para 2017, acompanharam a polícia na retirada de barricadas
instaladas nas ruas de Admiralty e Mong Kok.
Estes
manifestantes provocaram vários distúrbios em confrontos com os manifestantes
pró-democráticos e incluíam alguns elementos que se diziam partidários das
posições de taxistas e camionistas que estão contra o movimento de ocupação,
tendo a polícia tentado manter os dois grupos separados.
Os
episódios de violência levaram os manifestantes pró-democráticos a reforçar
algumas barricadas com bambu e blocos de betão.
Alex
Chow, secretário-geral da Federação de Estudantes, um dos principais
organizadores dos protestos, já manifestou a sua preocupação com a segurança
devido à decisão policial de retirar as barricadas.
O
mesmo responsável salientou, contudo, que enquanto o Governo ignorar os apelos
ao diálogo que estão a ser feitos, a federação vai continuar a instar à manutenção
dos protestos.
O
movimento de desobediência civil entrou na sua terceira semana de protestos.
JCS
// DM.
*Título
PG
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