segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Portugal: O MAIOR INCOMPETENTE



Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião

1 Não entendo a surpresa de tanta gente com a permanência de Paula Teixeira da Cruz e de Nuno Crato no governo. É que das duas uma: ou eram eles a pedir a demissão ou teria de ser o primeiro-ministro a demiti-los.

Como é público e notório, nenhum dos dois ministros tem consciência da sua incompetência. Um escarnece dos cidadãos e das vidas de milhares de alunos e muitos professores brincando com tempos verbais. A senhora ministra, no intervalo da sua enésima declaração sobre pedofilia, diz que o que se passa nos tribunais não é grave, ou seja, a justiça civil parada é apenas um contratempo. E até pedem desculpa, como se a gravidade dos seus erros políticos fosse apenas uma travessura. Sendo este um governo que fala tanto do exemplo da gestão de empresas privadas - apesar de tão poucos terem esse tipo de experiência a sério -, talvez não fosse má ideia perguntar a um homem com provas dadas, António Pires de Lima, por exemplo, o que faria a um seu administrador que decidisse fazer uma mudança no software e que por causa disso a empresa ficasse sem poder faturar dois meses ou mais. Ou a um que mudasse um sistema de alocação de recursos e o resultado fosse a incapacidade duma fábrica funcionar normalmente.

Por outro lado, se o primeiro-ministro os demitisse, seria como apresentar a sua própria demissão ou, pelo menos, seria a confissão final do seu estrondoso fracasso. Seria o último espasmo dum estertor que já vai longuíssimo. É que só sobram eles do grupo que era considerado chave para a revolução anunciada. São eles os últimos dos visionários que iam transformar Portugal, e que, para mal dos nossos pecados, em grande parte, conseguiram.

Tínhamos o grande ideólogo, Vítor Gaspar, que se foi embora porque percebeu que se tinha enganado - aliás, voltou a escrevê-lo esta semana, indiretamente, num relatório do FMI que é mais um momento da sua espetacular mudança de ideias. Miguel Relvas, a alma gémea de Passos Coelho, que não saiu pela sua gigantesca incompetência na coordenação política, nem por ter mentido descaradamente no Parlamento, nem por ter tido uma atitude vergonhosa com uma jornalista, mas por querer ser licenciado sem se dar ao trabalho de estudar para isso. Mesmo assim, e foi ele que o declarou, saiu porque quis sair. Santos Pereira, o homem que escreveu um livro onde garantia saber a fórmula para a mudança estrutural da nossa economia com muita atitude e pastéis de nata. O Álvaro saiu porque, bom, incompetência já não era a palavra apropriada, a coisa estava no âmbito da gargalhada.

O ramalhete revolucionário completava-se com Nuno Crato e Paula Teixeira da Cruz. Também eles eram a vanguarda da revolução, pessoas que iam mudar dois setores fundamentais para a comunidade. Ele era o homem que queria dinamitar o ministério (pelos vistos: uma vez extremista, sempre extremista), exames com fartura, o fim do facilitismo num sistema com uma taxa de reprovações e abandono escolar muito acima da média europeia. Nem vale a pena perguntar ao ministro o que pensa agora sobre o rigor e a responsabilização que apregoava.

Na Justiça seria o fim da lentidão, o fim da impunidade e a mais importante reforma na Justiça dos últimos duzentos anos (a ignorância é dum atrevimento sem fim).

O disfarce comum para a incompetência e a ignorância é a ideologia. Ou melhor, a invenção duma qualquer ideologia. É por isso que ouvimos que isto são apenas problemas normais que acontecem sempre nas grandes transformações.

Passos Coelho aguentará estes autênticos símbolos de incompetência o mais que puder - como aguentou até ao limite os outros -, convencido de que eles esconderão a de quem os escolheu e promoveu. Vai tarde. Já todos percebemos quem é o maior incompetente.

2 Todo este espetáculo do fim do BES, e agora da PT, é demasiado português para o olharmos sem sentirmos vergonha da comunidade que fomos criando. Amigos que promovem amigos que depois os ajudam utilizando bens e recursos que não são deles, homens que aceitam vender um bocado da alma para singrar na vida, criação de autênticos heróis nacionais que passada meia dúzia de meses passam a vilões e claro, não podia faltar, muita falta de vergonha.

Por falar em falta de vergonha, na mesma semana que o primeiro-ministro e a ministra das Finanças vieram admitir aquilo que já todos sabíamos, que o caso BES ia ter custos para os contribuintes, o primeiro-ministro janta pública, amistosa e calmamente com José Maria Ricciardi, presidente do Banco Espírito Santo Investimentos.

Escusado será dizer que o sr. Ricciardi não tem nada que ver com o que aconteceu com o BES e com o GES, nunca soube de rigorosamente nada do que se estava a passar, fez os possíveis e os impossíveis para evitar tudo o que veio a acontecer. Às tantas, o jantar serviu para preparar uma homenagem pública ao sr. Ricciardi. A oeste nada de novo.

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