sábado, 15 de novembro de 2014

CAÇA AO OUTUBRO VERMELHO AO LARGO DE BRISBANE



M. K. Bhadrakumar

Se os G20 têm sido acerca da discussão de estratégias coordenadas para incentivar o crescimento das economias do mundo, a cimeira de Brisbane neste fim-de-semana estará a ter lugar num momento muito inconveniente. Nada mostra isto mais pateticamente do que o facto de que apenas a cerca de 30 horas do início da reunião de Brisbane, as preocupações do país hospedeiro estão alhures – no Mar Coral. A Austrália está ocupada a interceptar "uma frota naval russa a fumegar rumo à Cimeira G20 em Brisbane". (Australian ).

Os australianos suspeitam que um submarino russo podia estar a espreitar no mar ao largo de Brisbane. Isto recorda memórias nostálgicas do filme The Hunt for Red October , de Sean Connery.

Como pode o G20 ignorar este pano de fundo dramático da Nova Guerra-Fria? Com as nuvens de uma Nova Guerra-Fria a acumularem-se na paisagem europeia, que sentido tem discutir estratégicas económicas globais coordenadas?

As cimeiras G20 têm sido cada vez mais reduzidas a eventos vazios, concebidos como sopa para as potências emergentes não provocarem o caos do sistema Bretton Woods. Com a recuperação económica estado-unidense, o sistema Bretton Woods não está mais sob qualquer ameaça imediata e o G20 pode ter sobrevivido à sua utilidade.

A Austrália tem uma tremenda oportunidade nas mãos para injectar nova vitalidade ao G20. Os australianos têm uma reputação de serem tipos não convencionais com um sentido natural de visão prática. Tudo o que eles precisam fazer é simplesmente jogar no caixote do lixo a agenda da cimeira de Brisbane formulada pelos burocratas, a qual centra-se sobre questões fiscais esotéricas ou práticas sombrias de lavagem de dinheiro e, ao invés disso, converter a reunião dos estimados estadistas mundiais numa conferência internacional para discutir a crise na Ucrânia. Chamem-na o Congresso de Brisbane.

Quando os homens de estado do mundo, os quais a propósito incluem um distinto Nobel, estão a dilacerar-se uns aos outros numa feira de vaidades assassina que está sistematicamente desmembrando a Ucrânia, como qualificá-los para discutir os frutos da paz?

Na verdade, a cimeira de dois dias em Brisbane tornou-se uma anedota macabra sobre a consciência da comunidade mundial. As notícias vindas da Ucrânia parecem sinistras.

A ONU acaba de informar a uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, em Nova York, "sobre a possibilidade de um retorno dos combates em plena escala" na Ucrânia, os quais tornaram-se um conflito que pode "ferver deste modo durante meses, com batalhas esporádicas de nível mais baixo, marcado por períodos de hostilidades crescentes e novas baixas", ou ainda uma outra perspectiva de um conflito "congelado" ou prolongado "o qual entrincheiraria o actual status quo... durante anos ou mesmo nas próximas décadas". ( UN News )

A matéria de facto é que os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos, estão a esfregar as mãos de prazer e a rugir que a economia russa está prestes a deixar de funcionar e a rastejar de joelhos sob o peso das suas sanções ( aqui ), mas que Moscovo não tem disposição para forçá-las. Claramente, o mínimo que G20 pode fazer é romper este impasse.

O primeiro-ministro russo Dmitry Medvedev pôs em andamento uma fórmula simples para resolver a crise da Ucrânia. Ele foi citado pela Interfax como tendo dito, após reunião com o presidente Barack Obama à margem de uma cimeira em Myanmar, quinta-feira, que é necessário "abandonar sanções, deixar as relações numa ordem trabalho normal, retornar ao normal, acalmar, conversações produtivas".

É tão simples como isso. Indo um passo adiante, os dois dias do Congresso de Brisbane poderiam mesmo encontrar tempo para uma agenda expandida que podia ser dedicada ao combate sem esperança da comunidade internacional contra o Estado Islâmico (EI).

Com o rei da Arábia Saudita e o primeiro-ministro da Turquia aguardados em Brisbane, não podia haver uma melhor oportunidade para discutir a Síria e o Iraque. Estes dois veneráveis mentores do Estado Islâmico podiam ser os homens sensatos os quais saberiam onde está o ponto mais fraco do monstro EI.

Dito simplesmente, se uma solução pudesse ser encontrada para os conflitos na Eurásia e no Médio Oriente, levaria muito tempo para assegurar que o processo penosamente lento de recuperação económica global se tornasse sustentável. O qual permitiria que o encontro G20 em Istambul no próximo ano ganhasse fama no mundo das cimeiras. 

Ver também: 

‘Economic isolation breach of intl law': Top 5 takeaways from Putin ahead of G20 ('Isolamento económico infringe direito internacional': Cinco principais mensagens de Putin antes do G20)

O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

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