quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Plano secreto de Merkel: A Alemanha sairia do euro e regressaria... ao Deutsche Mark?




O plano secreto de Merkel seria desvalorizar o euro dos países do sul da Europa. Os do norte teriam outro euro que poderia ser visto como a volta do marco

Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón – em Carta Maior

O euro não está funcionando e se alguém acha que sim, pelo menos tem de admitir que funciona muito mal. Esta situação pode-se arrastar por muito tempo e gerar uma longa década perdida para toda a Europa, ao estilo do Japão. Por isso, antes que seja demasiado tarde, um grupo de políticos alemães está fazendo pressão para que a Alemanha saia do euro. O plano secreto de Angela Merkel pode ser informado a Bruxelas a qualquer momento, visto que os alemães não querem continuar a pagar as dívidas e o desperdício dos seus vizinhos do Sul.

Pensa-se criar um mecanismo que permita desvalorizar a moeda dos países do sul da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia) para os ajudar a promover o crescimento e a competitividade, o que implica necessariamente na criação de um euro#2 que se separe do euro#1. O euro atual passaria a ser a moeda dos países PEFIG, enquanto o euro#2 seria a moeda da Alemanha e dos países do Norte e poderia ser visto como a ressurreição do Deutsche Mark.

O plano secreto de Angela Merkel baseia-se nos raciocínios do economista norte-americano Allan Meltzer, que escreveu relatórios sobre a inconveniência da moeda única e a necessidade de uma solução radical. Deixar o euro aos PIGS, publicou no The Wall Street Journal em 2011. Em 2011 e devido à crise grega, publicávamos “As opções para resolver o caos financeiro – quem deve sair primeiro da eurozona, Grécia ou Alemanha?”

Para Meltzer, o que a Europa precisa é de um "sistema de euro de dois níveis". Caso contrário, “o projeto europeu está condenado ao fracasso”, adverte. A verdade é que após seis anos de crises, a Europa vai de mal a pior e não pode continuar assim por mais tempo, ainda mais quando se confirma a iminente terceira recessão europeia, atingindo a Itália, a França e a Alemanha. Se as vendas da Alemanha vão ladeira abaixo, é justamente pela queda do poder aquisitivo causada pelo alto desemprego no sul da Europa. Uma vez mais, é preciso procurar uma solução política para um problema económico.

Allan Meltzer e o seu euro em dois níveis

Nascido em 1928, e com 86 anos, Allan Meltzer é conhecido por ser o autor de uma história monumental da Reserva Federal, em dois volumes e 1.500 páginas para contar a política monetária dos Estados Unidos até 1969. Meltzer recebeu elogios de Allan Greenspan e foi assessor de Ronald Reagan apesar da sua alergia ao trabalho dos governos. Agora é o presidente cessante da Sociedade Mont Pelerin, o clube criado por Friedrich von Hayek e Milton Friedman em 1947 que marca a fundação do neoliberalismo com as suas teses de reduzir os Estados e dar amplos poderes aos capitais privados.

Allan Meltzer assinala que a Europa só pode ser salva por um sistema de euro em dois níveis. Um euro forte para a Alemanha e outros países do norte da Europa; e um euro mais fraco para os países do Mediterrâneo e da periferia. Desta maneira, alguns estados não serão obrigados a assumir as dívidas dos demais, enquanto os outros deverão aplicar reformas sem a necessidade de incorrerem a cada passo multas externas.

Países como a Itália, França, Portugal, Grécia e Espanha poderiam desvalorizar as suas moedas e melhorar a competitividade. Meltzer reconhece que estes poderiam enfrentar consequências dolorosas, por exemplo na forma de fuga de capitais e de dinheiro vivo. Mas minimiza este efeito, dado que considera que esta é a única oportunidade para os países fazerem uma reforma estrutural. Além disso, considera que a saída do grande bloco monetário pode ser apenas temporária. Se a França elevar tanto a sua competitividade a ponto de reduzir os excedentes da Alemanha, poderá regressar rapidamente ao bloco principal.

Há duas razões que poderiam empurrar a Alemanha a pronunciar um inesperado Auf Wiedersehen (adeus) à moeda única. Em primeiro lugar, a situação económica na Alemanha é menos otimista do que parece, vista de outros países da eurozona.

As estimativas para o PIB foram cortadas quatro vezes no ano e o índice de confiança empresarial continua em queda livre. Apesar de os custos do endividamento estarem em mínimos históricos, o investimento também desmoronou e o estancamento consolida-se. Por outro lado, o crescimento dos grupos anti-Europa, como Marine Le Pen em França, anunciaram os seus planos de saída do euro, ganhando com isso uma grande quantidade de seguidores, o que indica que o euro é uma moeda impopular em vários países. Meltzer crê necessária esta "opção pragmática" de abandonar o euro antes que seja demasiado tarde.

(*) Publicado originalmente no El blog Salmón. Mais informações: Die Welt


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