quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Cabo Verde – Vulcão do Fogo: "Homi Grande" sem misericórdia sobre Chã das Caldeiras




As lavas, fruto da erupção vulcânica, avançam sem misericórdia sobre Chã das Caldeiras. Ontem, terça-feira, foi o dia mais difícil. A fúria do vulcão foi bem forte e a lava engoliu uma boa parte da Portela. Já a situação de hoje é de alguma acalmia na Chã, com o abrandamento da actividade vulcânica nas últimas horas. Mas a lava caminha lentamente em direcção às Igrejas Católica e Adventista.

O dia de ontem foi de desalento, desespero e tristeza. Viu-se uma parte da Portela, principal povoação da Chã, a ser engolida pelas lavas. Escola, Hotel Pedra Brabo, Unidade Sanitária de Base, Delegação Municipal e várias casas ficaram debaixo do manto negro das lavas.

Dezenas de pessoas presenciaram esta fúria da natureza com os olhos húmidos, dentes cerrados e abanando a cabeça. Não acreditavam naquilo que estavam a ver. Como que a tentar reunir forças dentro de si para travar ou empurrar as lavas. Mas o ritmo da corrente de lava continua implacável, imprevisível e não mostra sinais de trégua.

Contabilizam-se 60 casas e mais de 52 cisternas destruídas pelas lavas. Foram engolidos ainda a Sede do Parque Natural do Fogo, a Escola do Ensino Básico, o Hotel Pedra Brabo, as estradas de acesso à Chã das Caldeiras, vários hectares de terreno com milhares de plantas frutíferas.

Felizmente não há mortes a lamentar. Apenas prejuízos materiais avultados, que podem aumentar nos próximos dias e que obrigam os populares e autoridades a fazer contas à vida. Nesta manhã de quarta-feira, as lavas caminham lentamente em direcção as Igrejas Católica e Adventista e estão a menos de 50 metros da Adega de vinho.

Durante o dia de ontem, o trabalho foi intenso na Adega para transferir com uma motobomba mais de 150 mil litros de vinho para um local seguro. No que diz respeito ao acesso, máquinas trabalham a todo vapor para a reabertura de uma via alternativa.
“Homi Grande” um amigo eterno.

Para muitos moradores, a Chã continua a ser um local de admiração. Lembram que o vulcão, apelidado “Homi Grandi”, deu aos solos uma das maiores potências agrícolas de Cabo Verde e um filão turístico. Tirou tudo nos últimos dias, consumindo lentamente infra-estruturas, casas, campos de cultivo. Mas, mesmo assim, consideram-no “um amigo”.

Teodoro Montrond é natural da Portela, viu a sua casa ser engolida pelas lavas vulcânicas. Diz-se triste, mas não decepcionado com o “Homi Grandi”. Guia turístico de profissão, este jovem de 30 anos conta que o vulcão deu-lhe e tirou-lhe tudo: "Mas acredito que amanhã volta a devolver-me tudo em dobro", afirma confiante.

Montrond acredita que a Chã vai reerguer para voltar a ser um grande atractivo turístico e um pólo de desenvolvimento da ilha do Fogo. Consciente do perigo, uma das preocupações deste jovem é que no futuro, "as autoridades venham impedi-los de voltar à Chã".

Já a jovem Carla Fernandes (Nena), 26 anos, é uma das 290 habitantes desalojadas de Portela que encontraram refúgio no centro de acolhimento em Achada Furna. Perdeu a sua casa, mas não sente raiva do vulcão. “São coisas da natureza”, diz. A jovem diz que não quer investir mais na Chã, mas pensa voltar para trabalhar na agricultura.

O futuro neste momento é incerto. “Estamos à espera das autoridades. Eles sim sabem o que podem fazer connosco. Não sei o que poderá acontecer daqui para frente”, disse a outra jovem Kelita Barros, ao asemanaonline.

Versão idêntica têm outros moradores com quem conversamos. Mostram-se convictos de que, apesar da tristeza e da angústia, continua a esperança “a vida não pára aqui. Agora é hora de levantar a cabeça e seguir em frente, procurando soluções”, dizem.

Nicolau Centeio – A Semana (cv)

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