Inspectores
da PJ denunciam em abaixo-assinado falta de meios para investigar a corrupção
PEDRO SALES DIAS - Público
Investigadores
entregam documento à ministra da Justiça esta terça-feira, durante conferencia
sobre a corrupção. Direcção da PJ sublinha reforço de meios.
Mais
de 90 inspectores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ
decidiram quebrar o silêncio e denunciar, através de um abaixo-assinado, a
falta de meios que, dizem, está a debilitar a unidade nas investigações aos
crimes de corrupção. Em causa estão equipamentos informáticos desactualizados,
automóveis sem condições para circular e falta de recursos humanos.
“A
criminalidade económica organizada e a corrupção utilizam no século XXI meios
sofisticados. Em comparação, a UNCC está na Idade da Pedra. Não tem equipamento
adequado, antes recebendo o refugo que os outros rejeitam. Não tem viaturas que
ofereçam níveis adequados de segurança e fiabilidade, tal é a média de idade e
de quilometragem. Investigam-se processos de milhões com a logística de
tostões. Não é pois tolerável que os investigadores corram efectivo risco de
vida”, contestam os polícias que “exigem meios para trabalhar”.
O
abaixo-assinado, que é entregue na manhã desta terça-feira à ministra da
Justiça e ao director nacional da Polícia Judiciária precisamente durante uma
conferência na sede da PJ, em Lisboa, sobre o combate à corrupção, é subscrito
por quase todos os investigadores da UNCC, que tem pouco mais de 100 elementos.
A
situação já terá colocado em causa, segundo uma nota da Associação Sindical dos
Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC), alguns aspectos operacionais nas
acções da PJ. Mais recentemente, nas últimas buscas no âmbito da investigação
ao colapso do BES, um director de serviços do banco teve de comprar um disco
rígido para que os inspectores conseguissem levar todo o material informático
que apreenderam já que não teriam o equipamento necessário.
Também
nessa acção, “em deslocação para uma busca em plena A 8 e no decurso de
uma ultrapassagem, o carro desligou-se”, refere a mesma nota. O
Ministério da Justiça e a Procuradoria-Geral da República, para onde também foi
enviado o documento, não responderam às questões do PÚBLICO enviadas ao
princípio da noite de segunda-feira.
O
abaixo-assinado ter-se-á propiciado de forma espontânea na UNCC, apesar de ser
agora a ASFIC a entrega-lo à ministra. Os inspectores ficaram revoltados com
declarações do director nacional adjunto da PJ, Pedro do Carmo, proferidas na
quinta-feira ao Diário de Notícias.
“No
que respeita à UNCC, a unidade encontra-se dotada de meios técnicos e humanos
que lhe têm permitido desenvolver com êxito importantes e complexas
investigações no âmbito da corrupção, como aliás tem sido frequentemente
noticiado”, disse o responsável.
As
declarações inflamaram os ânimos de muitos inspectores na UNCC, alguns dos
quais disseram ao PÚBLICO serem até obrigados a desenvolver operações com
automóveis com pneus “carecas” por “falta de dinheiro”. “Em resposta às
vozes que vêm repetidamente afirmando que os meios são suficientes, os
investigadores da UNCC vêm claramente dizer que não é verdade. Não são
suficientes. São dramaticamente escassos. A situação é insustentável”, lê-se no
documento.
*Título PG
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