sábado, 24 de janeiro de 2015

China: Centenas nas ruas de Macau contra violência doméstica e deputados nomeados




Macau, China, 24 jan (Lusa) - Centenas de pessoas saíram hoje à rua num protesto contra a violência doméstica e, em particular, contra as declarações do deputado Fong Chi Keong, que este mês fez a apologia destas agressões na Assembleia Legislativa.

O protesto "Love me. Don't beat me" (Ama-me. Não me batas"), convocado pelo grupo Consciência de Macau, pretendeu também criticar a existência de deputados nomeados pelo chefe do Executivo, como é o caso de Fong Chi Keong - atualmente, há sete nomeados no total de 33 deputados.

No passado dia 13, durante o debate sobre a lei contra a violência doméstica, que viria a ser aprovada na generalidade, Fong Chi Keong defendeu que "há quem goste de apanhar" e sugeriu que, em caso de conflito, a mulher deve "não refilar" para "não sofrer consequências".

A manifestação atraiu muitos jovens e simpatizantes do campo pró-democrático, mas também famílias e até idosos.

Rebecca Chen acompanhou toda a marcha empurrando o carrinho de bebé da sua filha. "Temos de lutar pela nova geração", justificou, defendendo a importância de um pedido de desculpas "a todas as pessoas de Macau".

A professora Kam Sut Leng foi mais longe: além de pedir desculpas, Fong Chi Keong deve demitir-se, disse. "Ele apelou à violência dentro da Assembleia Legislativa, é inaceitável. Deve pedir desculpa e demitir-se do cargo. Mas não o podem obrigar a sair. O problema é do sistema político, devemos acabar com os lugares nomeados para que todos os deputados sejam responsáveis perante o público", afirmou.

Kam garante que a violência doméstica é um problema significativo em Macau, tendo conhecimento de vários casos entre os seus vizinhos, amigos e familiares. Mesmo quando estas situações são reportadas, a polícia desvaloriza-as, "pensa que são coisas que as pessoas podem resolver sozinhas" e que "não são graves", relatou.

A mancha humana atingiu o ponto máximo em frente ao escritório de Fon Chi Keong, onde a organização estima terem estado cerca de 850 pessoas e a polícia aponta para 230, além de 60 agentes. Aqui a palavra de ordem era "demissão", com alguns manifestantes a envergarem lençóis com manchas de tinta vermelhas, invocando o sangue das vítimas de violência doméstica.

A marcha dirigiu-se em seguida à Associação das Mulheres, onde os manifestantes criticaram a deputada Wong Kit Cheng, vice-presidente da instituição, por não se ter oposto a Fong.

O assunto não mobilizou só mulheres. Wilson Hong, professor universitário, juntou-se à marcha por considerar que "Fong Chi Keong chocou a sociedade de Macau", numa cidade onde "a violência doméstica é um problema sério".

Já o deputado Ng Kuok Cheong aproveitou a ocasião para fazer 'mea culpa' por não ter respondido a Fong Chi Keong no hemiciclo. "Naquele dia não fiz qualquer comentário ao que disse Fong, não estive bem e devo melhorar no futuro. Temos a liberdade de falar do que quisermos na Assembleia mas também temos o fardo da influência social", comentou.

Entre a multidão, maioritariamente composta de chineses, estava também o pintor português Joaquim Franco, para quem Fong Chi Keong "devia ser posto de lado".

"Temos de proteger a integridade física dos mais fracos. Acho que aquele senhor não devia estar na assembleia. Por outro lado também acho que é necessário que haja uma votação democrática e universal para os deputados", afirmou.

A representar a comunidade portuguesa esteve também a professora universitária Isabel Morais, residente no território há mais de 20 anos, que se manifestou "solidária com todos os pontos defendidos pela manifestação".

"Não é a primeira vez que ele [Fong Chi Keong] tem intervenções deste tipo, só que desta vez foram muito excessivas e de uma certa forma considero que é um boicote a uma legislação que é tão necessária para Macau", lamentou.

ISG//GC

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