Macau,
China, 24 jan (Lusa) - Centenas de pessoas saíram hoje à rua num protesto
contra a violência doméstica e, em particular, contra as declarações do
deputado Fong Chi Keong, que este mês fez a apologia destas agressões na
Assembleia Legislativa.
O
protesto "Love me. Don't beat me" (Ama-me. Não me batas"),
convocado pelo grupo Consciência de Macau, pretendeu também criticar a
existência de deputados nomeados pelo chefe do Executivo, como é o caso de Fong
Chi Keong - atualmente, há sete nomeados no total de 33 deputados.
No
passado dia 13, durante o debate sobre a lei contra a violência doméstica, que
viria a ser aprovada na generalidade, Fong Chi Keong defendeu que "há quem
goste de apanhar" e sugeriu que, em caso de conflito, a mulher deve
"não refilar" para "não sofrer consequências".
A
manifestação atraiu muitos jovens e simpatizantes do campo pró-democrático, mas
também famílias e até idosos.
Rebecca
Chen acompanhou toda a marcha empurrando o carrinho de bebé da sua filha.
"Temos de lutar pela nova geração", justificou, defendendo a
importância de um pedido de desculpas "a todas as pessoas de Macau".
A
professora Kam Sut Leng foi mais longe: além de pedir desculpas, Fong Chi Keong
deve demitir-se, disse. "Ele apelou à violência dentro da Assembleia Legislativa,
é inaceitável. Deve pedir desculpa e demitir-se do cargo. Mas não o podem
obrigar a sair. O problema é do sistema político, devemos acabar com os lugares
nomeados para que todos os deputados sejam responsáveis perante o
público", afirmou.
Kam
garante que a violência doméstica é um problema significativo em Macau, tendo
conhecimento de vários casos entre os seus vizinhos, amigos e familiares. Mesmo
quando estas situações são reportadas, a polícia desvaloriza-as, "pensa
que são coisas que as pessoas podem resolver sozinhas" e que "não são
graves", relatou.
A
mancha humana atingiu o ponto máximo em frente ao escritório de Fon Chi Keong,
onde a organização estima terem estado cerca de 850 pessoas e a polícia aponta
para 230, além de 60 agentes. Aqui a palavra de ordem era "demissão",
com alguns manifestantes a envergarem lençóis com manchas de tinta vermelhas,
invocando o sangue das vítimas de violência doméstica.
A
marcha dirigiu-se em seguida à Associação das Mulheres, onde os manifestantes
criticaram a deputada Wong Kit Cheng, vice-presidente da instituição, por não
se ter oposto a Fong.
O
assunto não mobilizou só mulheres. Wilson Hong, professor universitário,
juntou-se à marcha por considerar que "Fong Chi Keong chocou a sociedade
de Macau", numa cidade onde "a violência doméstica é um problema
sério".
Já
o deputado Ng Kuok Cheong aproveitou a ocasião para fazer 'mea culpa' por não
ter respondido a Fong Chi Keong no hemiciclo. "Naquele dia não fiz
qualquer comentário ao que disse Fong, não estive bem e devo melhorar no
futuro. Temos a liberdade de falar do que quisermos na Assembleia mas também
temos o fardo da influência social", comentou.
Entre
a multidão, maioritariamente composta de chineses, estava também o pintor
português Joaquim Franco, para quem Fong Chi Keong "devia ser posto de
lado".
"Temos
de proteger a integridade física dos mais fracos. Acho que aquele senhor não
devia estar na assembleia. Por outro lado também acho que é necessário que haja
uma votação democrática e universal para os deputados", afirmou.
A
representar a comunidade portuguesa esteve também a professora universitária
Isabel Morais, residente no território há mais de 20 anos, que se manifestou
"solidária com todos os pontos defendidos pela manifestação".
"Não
é a primeira vez que ele [Fong Chi Keong] tem intervenções deste tipo, só que
desta vez foram muito excessivas e de uma certa forma considero que é um
boicote a uma legislação que é tão necessária para Macau", lamentou.
ISG//GC
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