Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Na
noite de domingo, perante a expressiva vitória do Syriza, a unanimidade
reinava, com raras exceções, entre os comentadores do costume. Alexis Tsipras e
os seus camaradas radicais, obviamente, iriam optar pela moderação. A primeira
reunião do novo Governo grego, dois dias após o ato eleitoral, mostrou o
contrário.
"O
povo grego não é um povo complacente/ O fogo disparado sobre ele é-lhe vitória/
Os mais pequenos entre eles são loucos/ Por liberdade razão e sua força",
escrevia Paul Éluard, num poema dedicado ao general Markos Vafiades, um dos
resistentes à ocupação nazi. A história, tantas vezes esquecida, nesta crise
que atravessa a velha Europa.
Não
serão loucos os homens do Syriza. Na dura negociação com as instituições
europeias, agora encetada, têm com certeza trunfos a lançar. E sabem: se eles
têm muito a perder, a Europa também perderá. Os dados, enfim, estão lançados. A
Grécia é europeia, não quer sair da Europa. Isso parece claro. Mas a saída pode
não ser um drama tão grande como nos querem fazer crer.
Atenas,
e foi essa a resposta dada pelo povo grego nas eleições de domingo, não está
refém de Bruxelas. Tem para onde se virar. A posição grega, ontem expressa, de
poder vetar as sanções à Rússia, por causa da crise da Ucrânia, é o sinal claro
de que há alternativa.
Os
gregos não esquecem a história. E os primeiros atos públicos de Alexis Tsipras,
logo após ter assinado o compromisso enquanto primeiro-ministro, no palácio
presidencial, não deixam dúvidas: um encontro com o embaixador russo acreditado
em Atenas e uma homenagem, com grande força simbólica, aos gregos mortos
durante a ocupação nazi. Se a Europa falhar, a Rússia está ali à porta.
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