sábado, 3 de janeiro de 2015

OBAMA TENTA ESCREVER HISTÓRIA EM 2015




Presidente tem, na prática, um ano para deixar sua marca. Cuba e reforma na saúde foram um passo, mas agora ele enfrentará maior resistência republicana para continuar, opina Miodrag Soric, correspondente em Washington.

No fim de mandato, o relógio parece girar mais rápido para um presidente. E é essa experiência que Barack Obama está tendo agora: 2015 será, na prática, seu último ano. Depois, a corrida eleitoral para escolher seu sucessor vai dominar o calendário político. Por isso, muitos esperam ver nos próximos meses um presidente mais determinado e insistente, empenhado em dar a seu legado um lugar respeitável nos livros de história.

Primeiramente, ele defenderá aquilo que já conquistou, como a reforma no sistema de saúde. Caso os republicanos – como anunciado – tentem impedi-la, Obama usará seu poder de veto. Com o "Obamacare", o democrata deixou uma marca nos Estados Unidos que durará pelo menos mais alguns anos.

Uma marca que, infelizmente, ele não conseguiu deixar na reforma da política de imigração. Agora no controle da Câmara e do Senado, os republicanos continuam a bloquear leis que tornariam possível para 11 milhões de "imigrantes ilegais" regularizarem sua situação no país. Por isso, Obama vem recorrendo a decretos presidenciais para, pelo menos, garantir que eles não sejam deportados.

Mas cidadãos americanos ou não, todos entre Nova York e São Francisco ganham com um crescimento sólido. O motor econômico americano voltou a funcionar. Empregos estão sendo criados, e o preço dos imóveis sobe. A conjuntura é, em parte, fruto da brusca queda no preço da energia. E a situação parece boa para 2015: as ações deverão subir, e o dólar, ganhar valor em relação ao euro. O Federal Reserve (banco central americano) anunciou mudanças na taxa básica de juros. E Obama tem seu crédito por essa recuperação econômica.

Mas ele quer mais que isso. Nos bastidores, vem negociando com republicanos tratados de livre-comércio com Ásia e União Europeia. A ala mais de esquerda do Partido Democrata e membros de sindicatos já expressaram preocupação com a possibilidade, mas Obama passará por cima disso – se for necessário. Ele quer fazer história e, se não conseguir, seu sucessor provavelmente não poderá pôr o tema em pauta pelo menos até 2018. Seriam três anos perdidos para os EUA.

Em política externa, Obama teve até aqui pouca sorte. Tentou entrar para a história como o presidente que acabaria com as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas as batalhas continuam. A situação na Síria é mais complexa do que nunca devido à ascensão do "Estado Islâmico". Obama continua a buscar uma estratégia para a região, mas há poucos motivos para acreditar que ele encontrará uma em 2015.

Também paira uma nuvem negra sobre as relações entre EUA e Rússia. Moscou não quer devolver a península da Crimeia, mas isso é algo que Washington não pode aceitar. Ocupar-se do Leste Europeu é algo impensável para Obama – e por isso ele delegou a função a seu vice. Mas Joe Biden é frequentemente emocional e pouco profissional.

Com expressões de simpatia e compaixão, Biden é de pouca ajuda aos ucranianos. Eles precisam mesmo de uma injeção de bilhões de dólares – e parece que vão ficar esperando em vão em 2015. Quanto maiores os problemas financeiros de Kiev, menos interessados os americanos ficam no resto da Ucrânia. É uma tragédia.

Obama não apenas despertou esperança de uma vida melhor entre o povo ucraniano. Ele também inspirou pessoas no Norte da África. Mas isso já parece distante demais no tempo. Desde então, o presidente americano trocou de lado, aproximando-se de generais no Cairo. Pelo menos no Ocidente ninguém vai criticá-lo por isso.

Em todo caso, Obama continua a buscar o balanço ideal na política para China; está sendo paciente nas negociações nucleares com o Irã; e conseguiu criar uma nova – pode-se dizer histórica – relação com Cuba. Esses são aspectos positivos para 2015. Ou, citando Goethe: Obama está escrevendo história para se livrar do passado.

Miodrag Soric (rpr) – Deutsche Welle, opinião

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