Díli,
18 mar (Lusa) - O ministro Coordenador dos Assuntos da Justiça timorense considerou
hoje ser preciso "dar confiança" aos agentes da justiça, um sistema
que está "a amadurecer" em Timor-Leste e que está a ser alvo de uma
análise em detalhe pelo Governo.
"Temos
que dar confiança aos que estão a trabalhar no sistema de justiça, que está a
crescer, para irem amadurecendo e ser uma instituição cada vez mais
credível", disse à agência Lusa Dionísio Babo, que é também ministro de
Estado e da Administração Estatal.
"As
expressões de cada cidadão, principalmente os que tenham casos nos tribunais
neste momento, devem ser consideradas também para ver como melhorar essa
instituição no futuro", disse ainda.
Dionísio
Babo reagia, em declarações à Lusa a uma carta aberta, endereçada às
autoridades timorenses pela ex-ministra das Finanças, Emília Pires, que
considera que no processo em que é arguida tem havido "violações
sistemáticas e graves" dos seus direitos e "decisões arbitrárias e
incompreensíveis".
Em
causa está o processo 722/2014 em
que Pires é acusada da prática de crimes de participação económica
em negócio e administração danosa, por factos que alegadamente ocorreram quando
ainda era ministra.
Emília
Pires e a ex-vice-ministra da Saúde, Madalena Hanjam, são arguidas por alegadas
irregularidades na compra de camas hospitalares em contratos adjudicados à
empresa do marido da ex-ministra das Finanças, com um suposto conluio entre os
três para o negócio.
"Como
cidadã tem todo o direito de expressar o que sente em relação ao caso em que
está arguida. É normal", disse Dionísio Babo, ex-ministro da Justiça.
Questionado
sobre se considera que o sistema judicial timorense tem condições para garantir
julgamentos livres, imparciais e objetivos, Babo recusou-se a comentar
"questões que podem ser interpretadas como interferências no poder
judicial ou no poder dos magistrados".
"Não
sou ministro da Justiça, mas também estou a coordenar o trabalho nessa área.
Vamos discutir e ver qual será a melhor saída para pode satisfazer todas as
partes", disse.
Sobre
a auditoria ao setor judicial, que o Governo anunciou iria levar a cabo, Babo
explicou que o executivo só tomou posse em fevereiro e que o assunto está a ser
coordenado com o ministro da Presidência do Conselho de Ministros.
"A
lei orgânica só foi promulgada muito recentemente. E só agora é que vamos entrar
num debate mais sério e ver que medidas podemos tomar em relação a estes
assuntos", disse.
Questionado
sobre o pedido de Emília Pires para a contratação "imediata" de
observadores independentes para acompanhar processos pendentes, incluindo o
seu, Dionísio Babo recordou que os julgamentos são abertos.
"Os
julgamentos nos tribunais são abertos ao público, a não ser que a lei declare o
contrário. Compreendo essa aspiração (de Emília Pires) e deve ser
respeitada", disse.
No
documento, em que refuta as acusações de que é alvo, Emília Pires pede aos
destinatários que "procedam, com urgência, a todas as diligências
necessárias a assegurar aos cidadãos timorenses (...) o real acesso à Justiça e
o direito a um processo justo".
Pede
ainda que se implementem as polémicas resoluções do ano passado, com base nas
quais foram expulsos os magistrados internacionais que estava no sistema de
justiça em Timor-Leste, e a contratação "imediata" de observadores
independentes para acompanhar processos pendentes incluindo o seu.
Finalmente
pede também o "desenvolvimento de mecanismos de proteção jurídica mais
eficazes, designadamente de reforço da capacidade da defensória pública".
ASP
// JCS
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