David
Pontes – Jornal de Notícias, opinião
Os
dois emails da Lusa chegaram colados na caixa do correio. 19.41h: "Última
Hora - Passos Coelho garante que serão aproveitadas perspetivas mais favoráveis
da economia". 19.59h: "Última Hora - Cavaco Silva aponta 2014 como
"um ano de viragem"". Os insondáveis desígnios da agência
nacional de notícias tornaram ainda mais evidente a sintonia entre Cavaco Silva
e Pedro Passos Coelho, que, estando longe de ser um amor à primeira vista, se
tem tornado num robusto casamento de interesse.
Cavaco,
perdida qualquer hipótese de terminar o seu mandato com uma base alargada de
apoio, mantém-se fiel à sua família política, defendendo para memória futura a
atuação que teve perante este Governo. Para o primeiro-ministro, quando a
Europa dá sinais de querer mudar o rumo que foi a sua rota, as palavras do
presidente surgem como um reforço de uma narrativa eleitoral que consiste em
fazer os portugueses acreditar que se fez o que tinha de ser feito e que a
partir de aqui é sempre a subir.
O
problema é a síndrome de "Pedro e o lobo". É que se Passos apontou
2012 como "ano de viragem económica", a sua ministra das Finanças
determinou que "2013 foi o ano de viragem na economia portuguesa" e
se agora o presidente da República acha que 2014 é que foi "um ano de
viragem", o primeiro-ministro também não fez por menos e já anunciou que
2015 "será o ano de viragem na recuperação do poder de compra".
Mas
acreditem os portugueses que se 2015 não for um ano de "viragem" será
pelo menos um ano do "vira", como sinónimo de boa festa. Basta reparar
no cenário onde o primeiro-ministro fez as suas declarações, um artifício que
quase tinha desaparecido e que julgo se irá repetir nos próximos meses. Foi à
porta de uma daquelas tendas desmontáveis, que pulularam o mandato de Sócrates,
onde os notáveis se reúnem para cortar fitas ou anunciar as obras que hão de
vir, a Ilha dos Amores, onde chegaremos, depois de virarmos o Cabo das
Tormentas.
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