terça-feira, 17 de março de 2015

Portugal. UM ANO DE VIRA



David Pontes – Jornal de Notícias, opinião

Os dois emails da Lusa chegaram colados na caixa do correio. 19.41h: "Última Hora - Passos Coelho garante que serão aproveitadas perspetivas mais favoráveis da economia". 19.59h: "Última Hora - Cavaco Silva aponta 2014 como "um ano de viragem"". Os insondáveis desígnios da agência nacional de notícias tornaram ainda mais evidente a sintonia entre Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, que, estando longe de ser um amor à primeira vista, se tem tornado num robusto casamento de interesse.

Cavaco, perdida qualquer hipótese de terminar o seu mandato com uma base alargada de apoio, mantém-se fiel à sua família política, defendendo para memória futura a atuação que teve perante este Governo. Para o primeiro-ministro, quando a Europa dá sinais de querer mudar o rumo que foi a sua rota, as palavras do presidente surgem como um reforço de uma narrativa eleitoral que consiste em fazer os portugueses acreditar que se fez o que tinha de ser feito e que a partir de aqui é sempre a subir.

O problema é a síndrome de "Pedro e o lobo". É que se Passos apontou 2012 como "ano de viragem económica", a sua ministra das Finanças determinou que "2013 foi o ano de viragem na economia portuguesa" e se agora o presidente da República acha que 2014 é que foi "um ano de viragem", o primeiro-ministro também não fez por menos e já anunciou que 2015 "será o ano de viragem na recuperação do poder de compra".

Mas acreditem os portugueses que se 2015 não for um ano de "viragem" será pelo menos um ano do "vira", como sinónimo de boa festa. Basta reparar no cenário onde o primeiro-ministro fez as suas declarações, um artifício que quase tinha desaparecido e que julgo se irá repetir nos próximos meses. Foi à porta de uma daquelas tendas desmontáveis, que pulularam o mandato de Sócrates, onde os notáveis se reúnem para cortar fitas ou anunciar as obras que hão de vir, a Ilha dos Amores, onde chegaremos, depois de virarmos o Cabo das Tormentas.

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