Paulo
Pereira de Almeida – Diário de Notícias, opinião
Todas
as organizações têm "ovelhas negras". Geralmente são elementos que -
na melhor das hipóteses - deveriam ter prosseguido numa outra via, ter
escolhido uma profissão diferente. Contudo, são precisamente estes elementos
que - frequentemente - com o seu mau trabalho ou mau exemplo diminuem o
respeito dos cidadãos perante essas mesmas organizações. Dois casos recentes
mancharam - para mim - a imagem que vinha a construir de profissionalismo e de
boa relação com os cidadãos da parte PSP (Polícia de Segurança Pública).
Tratou-se - bem entendido - de dois casos pessoais mas que, depois de trocar
impressões com outros colegas, amigos e familiares, considero que merecem uma
denúncia e uma reflexão. Num deles, surge também a atuação deficitária - para
não dizer revoltante - da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de
Lisboa, E.M. SA (vulgo EMEL). Curiosamente, o presidente do conselho de
administração da EMEL foi recentemente demitido pelo atual presidente da Câmara
Municipal de Lisboa e candidato do Partido Socialista a primeiro-ministro
António Costa. Vamos - pois - aos dois casos.
Numa
manhã tranquila de domingo, nos arredores de Lisboa, fui surpreendido por um
corte temporário do trânsito relacionado - ao que pude apurar, pois os
"agentes" da PSP no local nada esclareceram - com uma prova de
atletismo. Como é habitual, e perante a inércia das autoridades, havia um
conjunto de condutores parados no que parecia ser uma segunda fila de trânsito.
Só mais tarde me apercebi de que se tratava de uma paragem motivada pela dita
prova. Entretanto - e como é habitual nestes casos -, os condutores dos
automóveis começaram a inverter a marcha; pelo meu lado, aguardava
pacientemente que a prova terminasse quando, em sentido inverso, um "jovem
agente" numa moto da PSP se dirigiu para o veículo que eu conduzia. Para
me auxiliar na manobra de inversão de marcha? Para parar o trânsito de modo a
que o veículo que eu conduzia pudesse deixar espaço para a passagem de um
autocarro que se deslocava, com passageiros, em sentido inverso? Não. De todo.
O que fez foi começar - literalmente - a falar em voz alta, solicitando-me que
retirasse rapidamente o automóvel. Sem qualquer urbanidade. Sem qualquer
demonstração de civismo ou de educação. Foi - na verdade - a primeira vez que me
deparei com um PSP com tal falta de profissionalismo. Ele é - obviamente - uma
vergonha para a instituição.
Por
fim, um segundo caso, ocorrido em Lisboa. Depois de um compromisso social ao jantar
que - naturalmente - terminara cedo pois no dia seguinte havia horários a
cumprir, deparámo-nos com uma situação alarmante. Todos - literalmente - os
três carros em que nos deslocáramos tinham desaparecido do local de
estacionamento. Havia algo de errado com o local? Alguma indicação de que não
fosse permitido estacionar na zona? Algum traço amarelo no pavimento, alguma
limitação no acesso? Nada. Apenas - como mais tarde viemos a descobrir - uma
indicação de "zona de residentes", num minúsculo sinal de parque
colocado à entrada deste quarteirão de prédios. O que teria - então - ocorrido?
Simples - embora, como disse, revoltante -, os veículos tinham sido rebocados
pela EMEL que - perante o total desconhecimento da existência destas
"zonas de moradores" a céu aberto - faz negócio com os mais incautos.
Valor da coima? Cento e sessenta euros, se o carro for levantado nas primeiras
24 horas. Além do mais - e para cúmulo -, apesar destes valores exorbitantes, o
parque fecha entre a meia--noite e as oito horas da manhã. Por isso - claro -
já sabe: se os condutores chegarem para tentar pagar a coima e levantar o
veículo à meia-noite e um minuto, o "sistema" encerra. Terão -
obviamente - de esperar pelo dia seguinte. O que não deve fazer diferença, pois
- como todos sabemos - os portugueses "vivem acima das suas possibilidades"
e, por isso, todos temos dois ou mais carros estacionados nas nossas garagens.
Esta EMEL é - evidentemente - uma outra vergonha nacional.
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