sábado, 21 de março de 2015

Portugal. A VERGONHA DAS POLÍCIAS



Paulo Pereira de Almeida – Diário de Notícias, opinião

Todas as organizações têm "ovelhas negras". Geralmente são elementos que - na melhor das hipóteses - deveriam ter prosseguido numa outra via, ter escolhido uma profissão diferente. Contudo, são precisamente estes elementos que - frequentemente - com o seu mau trabalho ou mau exemplo diminuem o respeito dos cidadãos perante essas mesmas organizações. Dois casos recentes mancharam - para mim - a imagem que vinha a construir de profissionalismo e de boa relação com os cidadãos da parte PSP (Polícia de Segurança Pública). Tratou-se - bem entendido - de dois casos pessoais mas que, depois de trocar impressões com outros colegas, amigos e familiares, considero que merecem uma denúncia e uma reflexão. Num deles, surge também a atuação deficitária - para não dizer revoltante - da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, E.M. SA (vulgo EMEL). Curiosamente, o presidente do conselho de administração da EMEL foi recentemente demitido pelo atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa e candidato do Partido Socialista a primeiro-ministro António Costa. Vamos - pois - aos dois casos.

Numa manhã tranquila de domingo, nos arredores de Lisboa, fui surpreendido por um corte temporário do trânsito relacionado - ao que pude apurar, pois os "agentes" da PSP no local nada esclareceram - com uma prova de atletismo. Como é habitual, e perante a inércia das autoridades, havia um conjunto de condutores parados no que parecia ser uma segunda fila de trânsito. Só mais tarde me apercebi de que se tratava de uma paragem motivada pela dita prova. Entretanto - e como é habitual nestes casos -, os condutores dos automóveis começaram a inverter a marcha; pelo meu lado, aguardava pacientemente que a prova terminasse quando, em sentido inverso, um "jovem agente" numa moto da PSP se dirigiu para o veículo que eu conduzia. Para me auxiliar na manobra de inversão de marcha? Para parar o trânsito de modo a que o veículo que eu conduzia pudesse deixar espaço para a passagem de um autocarro que se deslocava, com passageiros, em sentido inverso? Não. De todo. O que fez foi começar - literalmente - a falar em voz alta, solicitando-me que retirasse rapidamente o automóvel. Sem qualquer urbanidade. Sem qualquer demonstração de civismo ou de educação. Foi - na verdade - a primeira vez que me deparei com um PSP com tal falta de profissionalismo. Ele é - obviamente - uma vergonha para a instituição.

Por fim, um segundo caso, ocorrido em Lisboa. Depois de um compromisso social ao jantar que - naturalmente - terminara cedo pois no dia seguinte havia horários a cumprir, deparámo-nos com uma situação alarmante. Todos - literalmente - os três carros em que nos deslocáramos tinham desaparecido do local de estacionamento. Havia algo de errado com o local? Alguma indicação de que não fosse permitido estacionar na zona? Algum traço amarelo no pavimento, alguma limitação no acesso? Nada. Apenas - como mais tarde viemos a descobrir - uma indicação de "zona de residentes", num minúsculo sinal de parque colocado à entrada deste quarteirão de prédios. O que teria - então - ocorrido? Simples - embora, como disse, revoltante -, os veículos tinham sido rebocados pela EMEL que - perante o total desconhecimento da existência destas "zonas de moradores" a céu aberto - faz negócio com os mais incautos. Valor da coima? Cento e sessenta euros, se o carro for levantado nas primeiras 24 horas. Além do mais - e para cúmulo -, apesar destes valores exorbitantes, o parque fecha entre a meia--noite e as oito horas da manhã. Por isso - claro - já sabe: se os condutores chegarem para tentar pagar a coima e levantar o veículo à meia-noite e um minuto, o "sistema" encerra. Terão - obviamente - de esperar pelo dia seguinte. O que não deve fazer diferença, pois - como todos sabemos - os portugueses "vivem acima das suas possibilidades" e, por isso, todos temos dois ou mais carros estacionados nas nossas garagens. Esta EMEL é - evidentemente - uma outra vergonha nacional.

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