Filomeno
Manaça – Jornal de Angola, opinião
Angola
é um Estado laico que reconhece a importância do papel que as diferentes
confissões religiosas jogam na construção da nova e moderna sociedade angolana.
Por
isso a Constituição consagra esse reconhecimento e o respeito que é devido às
diferentes religiões. Elas são livres de prosseguirem as suas actividades e de
se organizarem da melhor maneira que lhes convier, desde que, obviamente, não
ofendam os valores da Constituição e as demais leis ordinárias.
O Estado angolano entende que as igrejas são parceiras na implementação do grande projecto que é a construção de um novo país, de uma nação forte. Angola precisa de todos os seus filhos para continuar a erguer uma nação coesa e solidária, unida na sua diversidade de culturas e firme no propósito de conquistar sempre novas vitórias no campo económico, político e social. E não podia ser de outra maneira. O trabalho das igrejas, bem como de outras diversas entidades, é e deve sempre ser um complemento à actividade que o Executivo desenvolve, pois não cabem apenas responsabilidades ao Estado na condução dos destinos do país.
Em sentido lato, o Estado somos todos nós e a todos e a cada um a nação exige a sua quota de contribuição para o desenvolvimento do país.
Ao longo dos tempos as crenças religiosas e as igrejas sempre tiveram um particular papel de influenciar a conduta dos indivíduos em sociedade.
Os angolanos orgulham-se de poderem fazer um balanço positivo da participação das diferentes igrejas na construção de uma nova realidade social e cultural pós-guerra, de forte cunho psicológico positivo e que tem se afirmado como um importante contributo ético e moral para formatar a consciência do novo homem angolano.
Não temos dúvidas de que as várias confissões religiosas que têm existência legal primam por orientar os seus fiéis a abraçarem as melhores práticas, disseminando valores que induzem ao desenvolvimento da sociedade e à humanização das relações sociais. São várias e correríamos o risco de deixar algumas de fora e cometer involuntariamente uma injustiça se quiséssemos enumerá-las.
Com inteligência e perspicácia, vultos do cristianismo souberam, em épocas remotas, dar resposta a problemas existenciais que então se colocavam e, desse modo, imprimir novo sopro de vitalidade ao pensamento da igreja, afastando-a assim do obscurantismo, elegendo o conhecimento e a sabedoria como bases para o avanço da humanidade... com fé
É sempre o homem a fazer história. Uns pelo lado negativo e outros pelo positivo.
A verdade é que o cristianismo se desenvolveu, soube ultrapassar aspectos retrógrados que em dados momentos marcaram a sua existência, como a recusa das inovações tecnológicas e os avanços no ramo da medicina que permitir amaumentar a expectativa de vida. Entre nós, o surgimento como cogumelos de seitas religiosas é um fenómeno que preocupa, quer pelo facto de exercerem de modo ilegal a actividade, quer ainda porque em muitos casos é claramente visível o propósito comercial que está na base da sua criação. O negócio usurário acaba por beneficiar um pequeno núcleo de “bons samaritanos” que se aproveitam da falta de conhecimentos de muitos incautos que, na desesperança de verem os seus problemas resolvidos, caem nesses templos como se fossem o local onde, pensam, ainda podem encontrar um último sopro de vida.
Gente fácil de ser manipulada e que acredita piamente que a pessoa que está diante de si lhe vai dar o paraíso com que tanto sonhou ou sonha, acreditando ser isso possível sem sequer estudar e sem trabalhar.
O Estado angolano tem estado atento a essas situações e, fruto do trabalho desenvolvido, foram desmanteladas e interditas seitas que se dedicavam a práticas contrárias à lei. O caso do resgate de crianças acusadas de serem feiticeiras, no norte do país, e que eram submetidas às mais cruéis sevícias, é apenas um exemplo.
Quando uma determinada igreja ou seita religiosa põe em causa os valores essenciais à existência, conservação e desenvolvimento da sociedade, é obrigação do Estado intervir para eliminar o perigo que ela representa para a comunidade.
Ora, quando o líder de uma seita religiosa passa a ter no seu seio e a comandar elementos armados, não pode haver dúvidas que a partir desse momento está a prosseguir outros fins e não os de evangelização e pregação da palavra de Deus. É crime e não se discute.
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