Emildo Sambo, em Tema de
Fundo – Verdade (mz)
No
primeiro dia da I Sessão Ordinária do Parlamento, o Movimento Democrático de
Moçambique (MDM) criticou o Governo pela falta de soluções para pôr fim à
tensão política que prevalece no país, pela pouca eficácia das políticas
públicas na redução da pobreza e pela assimetrias entre os moçambicanos. Estes,
no entender da Renamo, além de serem na sua maioria analfabetos, vivem e
trabalham em condições péssimas e desumanas, com os sonhos “congelados” pelo
elevado custo de vida, supostamente porque em 40 anos de governação houve
poucos esforços com vista a evitar-se tal situação por parte da Frelimo. Esta
marca passo, diz que está aberta ao diálogo e que vai respeitar as diferenças
políticas.
Para
o MDM, a VIII Legislatura “realiza-se num período difícil para o país”, pois há
“muitas incertezas e medo”. Instalou-se “um ambiente de terror, intimidação,
ameaças e insegurança pública”. Por conseguinte, no campo económico os ganhos
são “negativos e expressos”, facto que se nota “pela redução de volumes de
negócios e lucros de determinadas empresas”. O outro impacto negativo de tal
situação é a redução da capacidade de empregabilidade e de produzir alimentos
para fazer face à “importação de produtos básicos de alimentação”.
Lutero
Simango, chefe daquela bancada, disse ainda que na educação e saúde a situação
também “não está boa” e as estratégias até agora aplicadas não têm produzido os
efeitos desejados”, o que torna estes dois sectores antros de descontentamento
dos trabalhadores a eles afectos. “Urgente a intervenção do Governo do dia”.
No
seu discurso de 18 páginas, o líder da terceira maior força de oposição em
Moçambique considera que o futuro do país depende de uma sociedade civil forte
e actuante, para se evitar, sobretudo, o que ele chama de bipartidarismo, em
alusão à Frelimo e à Renamo.
O
povo sofre
Ivone
Soares, chefe da bancada da Renamo, leu um discurso de 14 páginas, no qual
afirmou que há 40 anos que homens e mulheres mantêm a esperança de que as suas
vidas irão melhorar, mas tal não se concretiza. Pelo contrário, não há emprego
formal e suficiente, o que leva a população a depender do comércio informal.
De
acordo com a Renamo, o povo está cansado de sofrer, daí que lhe atribui o
estatuto de herói, uma vez que tem sabido sobreviver, apesar da falta de água,
de medicamentos e do que considerou uso excessivo da força pela Polícia para
reprimir os cidadãos. “A Frelimo já mostrou que não sabe, que não pode e que
não quer governar num sistema onde o povo é soberano. Um Estado que não
consegue combater a criminalidade e proteger eficazmente os cidadãos é fraco e
abre as portas às maiores arbitrariedades”, disse Ivone, acrescentado que o
Parlamento não se pode tornar irrelevante e legislar ao sabor dos interesses de
um só partido e da sua classe de dirigentes privilegiados.
A
Frelimo é pela abertura e pelo diálogo
O
partido no poder fez um discurso mais contido e sem protagonismo, mas marcado
por bajulações e endeusamento aos actuais e antigo Presidentes da República,
Filipe Nyusi e Armando Guebuza, respectivamente. Condenou ainda o assassinato
do constitucionalista Gilles Cistac e endereçou palavras de conforto às vítimas
das cheias. A Renamo e o MDM alinharam no mesmo diapasão.
A
chefe da bancada da Frelimo, Margarida Talapa, disse que nesta legislatura as
vontades individuais não se devem sobrepor aos princípios constitucionais; por
isso, a sua formação política vai respeitar a pluralidade de opiniões, a
liberdade de expressão e reafirma a abertura para o diálogo com vista à
consolidação do Estado e das instituições democraticamente eleitas.
Repercutindo
as palavras do Chefe de Estado, Filipe Nyusi, também presidente do seu partido,
segundo as quais “as boas ideias não têm cor partidária”, Talapa afirmou que o
seu partido estará aberto a um debate franco no sentido de ver integradas todas
as boas propostas vindas de dentro e fora da Assembleia da República (AR).
Verónica
Macamo, presidente da AR, disse aos deputados que o Parlamento tem vários
desafios nesta legislatura, tais como o melhoramento da produção de leis e a
fiscalização do Governo, mas para tal é preciso que os representantes do povo
tenham maior planificação, coordenação, emprenho e muita dedicação.
Para
Macamo “nenhuma força política é uma ilha e a convivência política não deve
espezinhar, impedir ou dificultar a harmonia, a construção do bem-estar do
país, nem desacreditar as instituições democraticamente eleitas. Os partidos
políticos (...) devem respeitar as suas diferenças (...)”.
Renamo
tenta forçar debate do Projecto das Autarquias Provinciais
Aquando
da aprovação da agenda desta primeira sessão, a Renamo tentou forçar a
discussão do Projecto de Lei Sobre o Quadro Institucional das Autarquias
Provinciais com o objectivo de o ver aprovado antes da ratificação do Plano
Económico e Social (PES) e do respectivo orçamento do Estado para 2015. A
intenção desta formação política era evitar que o seu instrumento fosse
preterido como forma de evitar gerir as províncias onde diz que obteve a
maioria nas últimas eleições gerais.
O
partido no poder disse que a urgência é aprovar o Plano Quinquenal do Governo,
o PES e Orçamento do Estado por serem instrumentos indispensáveis para o
funcionamento do país. Assim, o assunto foi remetido às comissões
especializadas para se produzir pareceres, devendo ser retomado a 08 de Abril
em curso, data em que o Parlamento volta a estar em plenário para apreciar e
debater os instrumentos imprescindíveis acima referidos.
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