Milhares
de pessoas desceram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para comemorar o 41º
aniversário do 25 de Abril. De cravo na mão, todas as gerações - avós, pais,
filhos, netos - clamaram pelos valores de Abril.
"Pela
democracia, pela liberdade, pela solidariedade, pela liberdade de
expressão", ouvia-se, ao mesmo tempo que no ar ecoava o pregão "olha
ó cravo liiiiindo".
E
de cravo na lapela, Álvaro Faria, 68 anos, contou que votou para a Assembleia
Constituinte em 1975, as primeiras eleições livres com sufrágio universal
realizadas no país. Não teve reticências quando disse que nesse dia recuperou
"a sensação de dignidade pessoal e coletiva". Hoje "os
princípios de Abril estão muito ameaçados", lamentou.
Ameaçados
com o desemprego, com a precariedade, com um Estado Social cada vez mais débil,
com a emigração dos mais jovens, disse a voz do povo, canto sim, canto não,
avenida abaixo. Disse a voz de Inês Sousa, de 26 anos, que emigrará no final do
ano, "se até lá não conseguir emprego". Esta licenciada em engenharia
civil garante que vê "o país a regredir" e que "é preciso lutar
contra isso e devolver a dignidade às pessoas".
Dignidade
"retirada também aos que trabalham", indignou-se Sofia Carvalho. A
professora de 43 anos não teve pejo em afirmar que "a escola pública está
a ser arruinada" e que "os que nos governam nunca tiveram os valores
de Abril".
Mais
à frente, Pedro Costa, com 43 anos também, lamentava o facto de estar sozinho,
sem a esposa, a descer a avenida. A sua mulher "foi para fora",
porque sendo investigadora, "não conseguiu trabalho em Portugal".
Um
Portugal que foi este sábado à rua dizer de sua Justiça. E não faltaram as
crianças. João, 10 anos, sabia na ponta da língua o que foi o 25 de Abril de
1974. "Foi uma revolução que acabou com uma ditadura. As pessoas viviam
pior; as crianças, por exemplo, não podiam ir à escola e agora vão". E
isso é uma coisa boa? "Sim, claro". Simples assim. Simples como a
música de Sérgio Godinho, que também foi entoada: "Só há liberdade a sério
quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação".
No
meio do povo, Sampaio da Nóvoa, candidato presidencial que se apresenta
oficialmente na próxima quarta-feira, passava discreto. Testa assim "se
Portugal está preparado para uma candidatura que nasce fora de um partido".
Leonor
Paiva Watson – Jornal de Notícias foto Mário Cruz/Lusa
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