Forte
aparato policial travou marcha dos ex-militares que nem sequer puderam se
aproximar do local previsto para a realização do protesto no sábado (04.05).
Pelo menos 20 pessoas foram detidas, algumas foram libertadas.
O
protesto frustrado deste sábado (02.05), havia sido convocado por três
plataformas representativas de ex-militares não desmobilizados, militares
desmobilizados e ex-funcionários da Casa Militar da Presidência da República,
que desde 2010 reclamam o pagamento de indemnizações e salários em atraso.
Segundo
os organizadores, o evento havia sido formalizado em 22 de abril. Dias antes da
manifestação, ainda de acordo com os organizadores, pelo menos 20 mil
ex-militares de todo o país estariam mobilizados para o protesto.
Mas,
no sábado (02.05), não se observou este número.
Direitos
sequestrados
Os
antigos militares começaram a ser detidos por homens da Polícia Nacional
Angolana por volta das dez horas da manhã, juntamente com os membros da União
Nacional dos Ativistas de Angola, quando concentravam-se junto à escola Njinga
Mbande com o objectivo de chegar ao Largo da Independência, local que esteve
cercado por policiais.
Num
relato por telefone à agência LUSA, Domingos António, da comissão organizadora
desta manifestação, afirmou estar sob custódia policial, bem como outros membros
da organização.
"Não
conseguimos fazer a manifestação porque a cada pessoa que se aproximava do
largo vinha uma carrinha [da polícia] e levava-a não sabemos para onde. Está
muita gente detida", declarou.
Em
entrevista à DW África, o jornalista da Rádio Despertar, Daniel Portácio, que
também esteve detido quando tentava reportar os fatos, disse que os
manifestantes ficaram cerca de dez horas na 19ª Esquadra da Policia Nacional do
bairro Catintó, onde foram interrogados por várias horas.
Dúvidas
e falta de informação
O
jornalista acredita que alguns manifestantes continuam presos, pelo fato de os
ex-militares dividirem-se por vários pontos do centro da capital, Luanda.
"Confirmo
que não foram todos libertados, porque estávamos em celas diferentes. Aqueles
que estavam próximos de mim, a rádio tinha conhecimento que na esquadra número
X havia lá manifestantes e um jornalista, esses foram libertados na mesma
tarde," explica o jornalista.
"Aqueles
que estavam isolados ou que não tinham nenhuma defesa ou alguma comunicação,
com certeza até domingo [03.05] ainda estavam detidos. Uma coisa a realçar é:
um dos elementos ligados às antigas forças ficou na esquadra porque estava a
ser fortemente questionado a que força pertencia - Forças Armadas de Libertação
de Angola (FALA, antigo braço armado da UNITA), ou Forças Armadas Populares de
Libertação de Angola (FAPLA, antiga organização militar do MPLA)",
denunciou Daniel Portácio.
O
jornalista da Rádio Desperta garantiu que, na sua presença, os agentes da
polícia não agrediram nenhum dos manifestantes durante o perído em que ficaram
detidos. "Felizmente, no sábado, a polícia – talvez pela minha presença ou
a presença da imprensa - não maltratou quase ninguém", disse.
Suspeita-se
que Mário Faustino, um dos organizadores da referida manifestação, esteja
detido pelo fato de ter o seu telemóvel desligado desde sábado.
A
Agência Lusa relatou também que seu jornalista se viu obrigado a retirar-se do
local onde o protesto deveria ter lugar, "por ordem superior"
invocada por agentes da polícia sem que fosse adiantada qualquer outra
justificativa.
Recorde-se
que, na quinta-feira (30.04), o presidente da Associação de Apoio aos
Combatentes das Extintas FAPLA, António Fernando Samora, apelou aos
ex-militares para não participarem nesta manifestação, contestando o
"aproveitamento político e oportunista de determinadas formações
políticas", denunciando o objetivo destas de utilizar estes homens para
ações de "desobediência e de vandalismo contra as instituições do
Estado".
Deutsche Welle - Pedro Borralho Ndomba (Luanda)/Lusa/cvt
Deutsche Welle - Pedro Borralho Ndomba (Luanda)/Lusa/cvt
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