Macau,
China, 19 mai (Lusa) - A organização não-governamental Human Rights Watch
considera improvável que a União Europeia exerça pressão para pôr fim à crise
dos imigrantes asiáticos devido aos seus interesses económicos, que a levam a
"ignorar problemas de direitos humanos".
"O
problema é que os países da UE olham para a Birmânia como uma grande
oportunidade de investimento, como um lugar para fazer dinheiro, e têm ignorado
os problemas de direitos humanos", disse à agência Lusa o diretor adjunto
da Human Rights Watch (HRW) para a Ásia, Phil Robertson.
Para
o responsável regional da organização internacional de defesa dos direitos
humanos, no que toca à atuação da europeia, "há muitas coisas que vêm
antes" dos valores humanitários.
"Não
temos visto nenhuma mudança nas políticas da UE ou dos países membros de modo a
serem mais firmes com a Birmânia", afirmou Phil Robertson.
Desde
o início deste mês que várias embarcações precárias, vindas da Birmânia e
Bangladesh, se têm aproximado das costas da Indonésia, Malásia e Tailândia,
numa situação semelhante à crise migratória que está a acontecer no
Mediterrâneo, mas a HRW não espera atos de compaixão.
Para
o responsável, o Ocidente só tem dado maus exemplos à Ásia: "Se há um
exemplo do Ocidente em que os asiáticos têm estado a pensar é o exemplo
australiano. No último ano e meio a Austrália tem rejeitado barcos com
migrantes que buscam asilo no país. Isso leva [os governos asiáticos] a
concluírem que se a Austrália pode fazê-lo, eles também podem".
Estima-se
que existam neste momento cerca de 8.000 pessoas em barcos no Mar de Andamão e
no Estreito de Malaca, vindas da Birmânia e do Bangladesh. Os governos da
Indonésia, Malásia e Tailândia têm recusado deixar as embarcações atracar,
mesmo quando os ocupantes se encontram há semanas à deriva, muitas vezes sem
alimentos ou água.
Em
alguns casos, as pessoas foram autorizadas a desembarcar, como aconteceu a 10
de maio, em Langkawi, na Malásia, mas na maioria das situações, os governos têm
apenas entregue mantimentos e combustível e ordenado que os barcos zarpem.
Parte
desta crise deve-se à perseguição da minoria muçulmana rohingya na Birmânia e,
em menor escala, no Bangladesh, que tem obrigado à fuga de milhares de pessoas.
Até
ao início deste mês, os imigrantes entravam secretamente na Tailândia, onde
eram entregues a redes de tráfico. No entanto, com a descoberta de vários
corpos e a revelação de abusos, o Governo tailandês "decidiu bloquear as
redes de tráfico", o que resultou nesta "acumulação" de
imigrantes no mar.
"Houve
uma repressão maior sobre as redes de traficantes e o encerramento dos campos
onde as pessoas eram colocadas e agredidas antes de serem enviadas para a
Malásia", explica Robertson.
Há
quase duas semanas que os governos dos três países asiáticos fazem o que a HRW
chama de "pingue-pongue de vidas humanas", empurrando as embarcações
para as costas dos países vizinhos.
"Os
governos estão a brincar ao jogo da batata quente, o primeiro a deixar cair a
batata perde. Empurram a responsabilidade de uns para os outros, mas nenhum a
assume. Os barcos vão continuar a deslocar-se entre as costas dos diferentes
países até as pessoas não estarem vivas", alerta.
Para
29 de maio está marcada uma reunião regional na Tailândia para debater o
problema. A Birmânia já anunciou que não vai comparecer.
"Esperamos
que haja um acordo sobre o desembarque das pessoas. Não queremos que isso
espere até ao dia 29, queremos que recebam proteção e total assistência
humanitária de imediato", frisou Robertson.
Após
esta resposta urgente, é preciso "decidir onde é que estas pessoas vão ser
colocadas, se vão ser enviadas para um terceiro país, se vão ser enviadas de
volta ao seu país, mas isso é secundário, primeiro temos de impedi-las de
morrer em barcos", sublinhou o responsável.
Robertson
não se mostra, no entanto, otimista, e lembra que há reuniões a acontecer entre
ministros dos Negócios Estrangeiros sobre as quais pouco de sabe.
"Desejamos
o melhor, mas esperamos o pior", lamentou.
O
diretor adjunto da HRW para a Ásia prevê um desfecho negro para esta crise:
"Receio que se não houver nenhum acordo entre os países, todas as pessoas
nestes barcos irão morrer".
ISG
// JMR
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