sábado, 13 de junho de 2015

Angola. REPRESSÃO PARA DAR A VOLTA À CRISE



Folha 8 digital (ao) - 13 junho 2015

A repressão tem au­mentado em Ango­la devido à queda dos preços do petróleo, diz a revista The Economist. De acor­do com a jornalista Joana Rodrigues, da DW (Voz da Alemanha), analistas económicos da revista britânica escrevem que “a principal segurança do Governo contra a insur­reição é a violência”.

Por imperativo ético para com um povo sofredor, importa dizer que são cada vez mais os meios de comunicação social que, a nível internacional, acor­daram para a nossa triste realidade. Importa, igual­mente, salientar que tudo o que dizem tem sido es­crito por nós, com risco da própria vida, há já muitos anos. Segundo a revista The Economist, a queda do preço do petróleo au­mentou a repressão e as disparidades em Angola. A resposta do Governo de José Eduardo dos Santos à desaceleração da econo­mia foi o lançamento da “maior campanha de pro­paganda desde os tempos coloniais”. Para os analis­tas da revista britânica, isto serve de máscara para as “enormes desigualda­des entre as elites e o resto da população do país.”

Cá na casa costumamos escrever que poucos têm cada vez mais milhões e que, ao mesmo tempo, cada vez mais milhões têm pouco… ou nada. O regime cataloga-nos como inimigos e não perde uma oportunidade para exerce o que melhor sabe fazer: pôr a razão da força acima da força da razão. Já esta­mos, é claro, tarimbados nesta luta. Por alguma ra­zão o nosso Director tem mais de 100 processos em “tribunal”. Sebastien Marlier é economista e especialista em assuntos africanos na Economist Intelligence Unit, e con­sidera que a situação é bastante mais complexa, e que a repressão sempre esteve presente em An­gola. É verdade. Alguns só agora estão a ver. Até agora olharam para o lado. Mais vale tarde do que nunca? Certamente.

“O governo angolano nun­ca reagiu bem a críticas, protestos ou tudo o que possa ameaçar a sua he­gemonia. Com a crise do preço do petróleo aumen­tou o descontentamento da população devido ao enfraquecimento da eco­nomia e aumentou a cons­ciência de que a maioria dos lucros petrolíferos vai apenas para as elites,” afir­ma Sebastien Marlier.

Segundo o economista, ca­sos como Rafael Marques ou Kalupeteka não estão directamente ligados ao actual contexto econó­mico, mas as dificuldades têm pressionado o gover­no do MPLA que tem rea­gido através desta maior repressão. Não se esqueça que o MPLA está no poder desde 1975 e , ainda, que José Eduardo dos Santos é o dono desse poder sem, contudo, nunca ter sido nominalmente eleito.

Sebastien Marlier afirma que Angola foi gravemen­te afectada por esta desci­da do preço do petróleo, tanto a curto como a mé­dio prazo: “A economia angolana foi bastante afec­tada por esta crise. Angola depende muito do petró­leo e por isso o crescimen­to económico abrandou, o kwanza enfraqueceu e a dívida pública aumentou. As perspectivas a mé­dio prazo também estão ameaçadas. Vai ser mais difícil diversificar a eco­nomia agora que há me­nos dinheiro para investir noutros sectores”.

Apesar de tudo, o Presi­dente José Eduardo dos Santos achou por bem visitar a China, diz a DW, com o intuito de reforçar a cooperação bilateral en­tre os dois países. Sebas­tien Marlier vê esta visita como uma forma de An­gola tentar superar a crise do sector económico sem ter de recorrer a organiza­ções como o Fundo Mone­tário Internacional (FMI).

“A China é o maior com­prador do petróleo ango­lano e é também o maior credor do país. Penso que nesta visita o Presidente vai tentar expandir a re­lação entre os dois países para além do petróleo. Em 2009 houve outra crise petrolífera e Angola re­correu à China para evitar ter de pedir ajuda ao FMI, e penso que isso pode acontecer de novo”, diz o economista. Angola é o segundo maior produtor petrolífero da África sub­sariana, e a sua economia é quase exclusivamente dependente deste produ­to. A descida nos preços do petróleo teve efeitos económicos muito negati­vos no país. Espera-se que este ano o crescimento do Produto Interno Bruto seja de apenas 3%, em compa­ração com os 6.8% de 2013.

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