Ariel Noyola Rodríguez
As
negociações entre a Grécia e o Eurogrupo não deverão avançar. A Troika insiste
que o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, apresente uma proposta de
reforma "plausível" para os credores. Em outras palavras, acabar com
os direitos trabalhistas, intensificar a austeridade e, assim, dar prioridade
para o pagamento da dívida. O tempo está se esgotando e a confiança depositada
no Syriza também, portanto, em nenhum outro momento como agora está tão claro
que a Grécia precisa buscar oxigênio fora dos limites da união monetária.
O Banco
Central da Grécia surpreendeu a todos com a publicação do seu relatório de
política monetária 2014-2015. É que além de revelar as consequências do
"estrangulamento econômico" imposto por Bruxelas, concluiu que se não
for possível chegar a um acordo com os seus parceiros europeus, em breve, uma
crise de enormes proporções será detonada.
"A
crise da dívida manejável, como a que estamos abordando atualmente com a ajuda
de nossos sócios, se tornaria ma crise incontrolável, com grande risco para o
sistema bancário e para a estabilidade financeira", disse [1].
Foi a primeira vez que a instituição contemplou seriamente a saída da Grécia da
zona do euro.
Imediatamente,
a mídia enfatizou que a maioria da população está relutante em deixar a União
Monetária, cerca de 70%, de acordo com uma pesquisa recente publicada por GPO.
Já que para manter a "moeda comum" debe-se adotar as normas do
Tratado de Maastricht, a imprensa ocidental conclui que o próprio povo grego
está disposto a aceitar as condições das autoridades europeias: a austeridade é
o custo da adesão à área do euro.
No
entanto, os impérios de mídia deixam de mencionar que esta mesma maioria se
opõe às medidas que a Troika (formada pelo Fundo Monetário Internacional, o
Banco Central Europeu e a Comissão Europeia) pretende impor. Além disso, essa
mesma maioria está agora convencida de que o programa de resgate original de
245 bilhões de euros só proporcionou dificuldades econômicas. O aumento da desigualdade
e da pobreza, falta de moradia, doenças mentais e suicídios, são a prova da
"crise humanitária" que os gregos sofrem diariamente [2].
É
urgente a mudança de curso na área econômica. A este respeito, o Governo grego
tem insistido mais em resolver as necessidades imediatas (promoção de
investimento, criação de emprego, maior distribuição de renda, etc.) e menos em
questionar os termos da dívida. No entanto, Bruxelas bloqueou todo acordo que
possibilite a recuperação, colocando o reembolso da dívida como a maior
prioridade [3].
O
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, está praticamente "de mãos
atadas" para implementar uma política econômica alternativa, uma situação
contrária à sua vontade, diminuindo gradualmente a confiança em seu partido
político, o Syriza.
Na
véspera da reunião com o Eurogrupo, as acusações entre o governo grego e a
Troika não se fizeram esperar. Frente a seu grupo parlamentário, Tsipras
denunciou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha
"responsabilidade criminal" na crise. Ele também reiterou que seu
governo não claudicaria à pressão da Troika, a proposta, em suas palavras, tem
o objetivo de "humilhar o povo grego." Ele prometeu que os “planos de
ajuste” seriam rejeitados em todos os momentos [4].
Sob
essa mesma linha de argumento, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis
Varoufakis, se recusou a apresentar propostas para o Eurogrupo que envolvam
elevar o "superávit primário", o aumento adicionais dos impostos
(IVA), o desmantelamento do sistema de pensões, etc [5].
Consequentemente,
as negociações voltaram a estancar em 18 de junho de 2015. A Troika mantém a
sua tentativa intransigência de impor as suas "reformas estruturais"
por qualquer meio, enquanto Tsipras se recusa a trair as demandas do povo
grego. Portanto, uma resolução tem sido adiada.
O
governo grego tem 10 dias para resolver a questão e pagar as quatro parcelas
mensais para o FMI (1,6 bilhões de euros) e abrir um novo plano de
financiamento para 5 bilhões de euros. Para o mês de julho, Atenas deve pagar
3,5 bilhões de euros para o Banco Central Europeu (BCE), 465 milhões de euros
ao FMI e 2 bilhões de euros para credores adicionais.
Dívida
e mais austeridade acabam por impor mais dívida, situação que coloca a Grécia
em uma "espiral depressiva" que parece interminável. Como, então,
obter recursos suficientes para honrar seus compromissos?
Se
Tsipras decidir deixar o euro, as consequências poderão ser dramáticas, tanto
para a economia grega, como para o resto das economias da região [6],
incluindo, naturalmente, a Alemanha e a França. Berlim teme um contágio em
escala massiça. Se a Grécia cair, os especuladores apostarão contra os países
com maior fragilidade financeira: Finlândia, Espanha, Itália, Países Baixos,
Portugal, etc.
Diminuída
pela fraqueza do crescimento econômico e pela deflação (queda de preços), a
zona do euro perderia ainda mais a confiança dos investidores internacionais. A
crescente "aversão ao risco" pela saída da Grécia causaria aumentos
nos rendimentos dos títulos soberanos (atualmente em níveis mínimos). Em
situações de pânico, as taxas de juros iriam subir rapidamente, reduzindo
severamente a liquidez entre os países.
A
incerteza aumentaria e os fluxos de capital sofreriam um "efeito
borboleta": ligeiros aumentos da volatilidade dos mercados de dívida
soberana, ligeiras quedas nos mercados de ações ou uma mudança na política
monetária seriam suficientes para desencadear enormes turbulências de crédito.
Apesar
de tudo, a Troika parece determinada a derrubar o programa econômico da
esquerda. O Syriza abriu as portas para as derrotas eleitorais do
neoliberalismo na Europa e, portanto, tornou-se o alvo preferido dos credores,
dispostos a impor sua vontade a qualquer custo. No entanto, os gregos devem
confiar em si mesmos, estabelecer alianças além das suas fronteiras
continentais e apostar na utopia.
A
democracia nasceu na Grécia Antiga e nela também deveriam estar a base de uma
Europa livre da "ditadura dos credores”, pois há uma alternativa.
Ariel Noyola
Rodríguez, Economista. Jornalista da revista Contralínea. –
Voltaire.net (28.05)
Tradução João Aroldo -Tradutor
freelance para sites como Rede Voltaire, Redecastorphoto e Tlaxcala.
Fonte
Russia Today
(Rússia)
Notas
[1]
«Report
on Monetary Policy 2014-2015», The Bank of Greece, June 17, 2015.
[2]
«Los
griegos se alistan para nuevas penurias», Nektaria Stamouli & Marcus
Walker, The Wall Street Journal, 16 de junio de 2015.
[3]
«The
Looming Austerity Package», Costas Lapavitsas, Jacobin, June 12, 2015.
[4]
«Greek
exit real prospect as eurozone hardens towards belligerent Athens», Larry
Elliott, Ian Traynor & Helena Smith, The Guardian, June 16, 2015.
[5]
«Greece
will not present new reform proposals at Eurogroup: Bild», Michael
Nienaber, Reuters, June 16, 2015.
[6]
«Greek
crisis: why policy makers in emerging markets should worry», Alan Beattie, The
Financial Times, June 18, 2015.
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