Martinho Júnior, Luanda
1
– Os “activistas” contemporâneos que se afirmam de “revolucionários” e
os “activistas” dos“direitos humanos”, não se reportam à história e
agora procuram afrontar muitos daqueles que integraram e integram a saga de
resgates que se têm alcançado com o Movimento de Libertação em África,
procurando criar obstáculos agenciados a um rumo que só foi possível com o sacrifício
assumido por várias gerações de africanos (e de angolanos), bem como de seus
aliados como os cubanos, tendo como horizonte os benefícios que há que consumar
dando a volta a tantas sequelas dum passado que histórica e antropologicamente
advêm das trevas…
…
E no entanto lutar contra o colonialismo, lutar contra o “apartheid”,
lutar contra algumas das suas sequelas e lutar hoje contra o
subdesenvolvimento, em 50 anos consecutivos, degrau a degrau e nunca perdendo o
rumo, é essencial para efectivamente se irem consumando os “direitos
humanos” que todos os africanos e seus descendentes devem usufruir nos
relacionamentos internacionais, no concerto das nações e dos povos e num
processo em busca dos equilíbrios saudáveis que beneficiarão em paz todos os seres
humanos e o próprio planeta!
2
– Há 50 anos, no dia 8 de Agosto de 1965, chegava a Brazzaville a 2ª coluna do
Che, comandada por Jorge Risquet, em apoio ao governo congolês ameaçado por
Mobutu que entretanto assumia o poder do outro lado do rio Congo, em Kinshasa e
dando curso à estreita aliança da Revolução Cubana com o Movimento de
Libertação em África, neste caso com o MPLA.
Os
povos africanos e cubano encetaram então um relacionamento que trouxe
conquistas inestimáveis: para trás ficaram escravatura, colonialismo, fascismo, “apartheid” e
sequelas poderosas que foram sendo instrumentalizadas por uns e por outros,
sempre com todos os sentidos postos no desenvolvimento sustentável, na justiça
social, no aprofundamento da democracia e na paz.
Nenhum
dos projectados “activistas de direitos humanos” contemporâneos,
projectados sob os cânones da própria hegemonia unipolar, tem como eles uma
folha de serviços tão decisiva em benefício de facto dos direitos humanos em
África e muito para lá de África, já que os resgates a realizar são-no em nome
de toda a humanidade!
3
– Por isso o afrontamento, que é herança de quem concebeu e fez parte, no
concerto duma globalização perseguindo a pista da hegemonia unipolar, da Guerra
Fria na sequência da IIª Guerra Mundial, faz tábua rasa desse esforço, não o
reconhecendo como um longo e legítimo processo em busca de independência, de
soberania, de paz, de aprofundamento da democracia e de justiça social, não o
reconhecendo nos ganhos obtidos desde logo pelos direitos humanos daqueles que
foram tão historicamente oprimidos, marginalizados e desprezados.
Não
reconhecendo esse rumo histórico da emancipadora e solidária libertação,
recusando-se terminantemente a evocá-lo, o afrontamento parte de forma avulsa
para a guerra psicológica, recorrendo às filosofias que têm suportado, entre
outros fenómenos sócio-políticos, as “revoluções coloridas” e as “primaveras
árabes”, como se essas fossem as verdades absolutas de que precisam“para seu
consumo” os povos africanos.
Como
se não bastasse, através de instrumentos como a NATO e o AFRICOM, os promotores
desses “direitos humanos” têm feito tudo para expandir o caos em
África, de modo a surgirem agora como os grandes campeões duma liberdade que
jamais o foi, jamais oé e jamais o será!
50
anos depois da passagem do Che por África, ter consciência crítica sobre os
fenómenos humanos que se inscrevem na antropologia e na história, é tão
importante como os acontecimentos progressistas que marcaram aqueles anos
decisivos de 1965:
Só
poderão subsistir direitos humanos, se houver sequência para o Movimento de
Libertação na luta contra o subdesenvolvimento crónico que os africanos
herdaram do seu passado, jamais mediante “direitos humanos” que sejam
injectados por cartilhas de poderes dominantes, cujo fito inquestionável será
sempre enfraquecer, manipular, vulnerabilizar e subverter o rumo que foi tão
duramente conquistado, de acordo com princípios e convicções que se identificam
por completo com os povos africanos e de todo o mudo que se contrapõe à
hegemonia unipolar
Marcando
a efeméride, estas questões mantêm vivo o inquestionável pensamento
terceiro-mundista do Che, como dos pais fundadores das jovens nações africanas
como Ben Bella, Kwame N’Krumah, Amilcar Cabral, Agostinho Neto, Samora Machel e
tantos outros que sabem que a verdadeira residência dos direitos humanos está
na construção do socialismo, da paz e da afirmação da identidade própria dos
povos africanos e não na injecção perturbadora de programas que procuram a todo
o custo ser injectados, como se de autênticas drogas alienantes (e subversivas)
se tratassem!
Foto
do último encontro entre Jorge Risquet e o Presidente José Eduardo dos Santos,
em Luanda.
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