José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Luaty
Beirão e respectivos companheiros estão presos há mais de dois meses. O tempo
passa, e muitos de nós vão-se habituando à injustiça, aceitando-a como algo
inevitável, uma componente natural da vida, em toda a parte e em particular no
nosso país. A verdade, contudo, é que uma arbitrariedade que se prolonga no
tempo não se torna por isso menos arbitrária – pelo contrário, torna-se mais
grave a cada dia.
Seria
muito triste se o movimento de solidariedade que se criou ao longo destes meses
viesse a esmorecer. O regime espera isso, ao mesmo tempo que se esforça por
castigar todos aqueles que se insurgiram contra a injustiça. Paulo Flores, que
deu a cara no primeiro vídeo de solidariedade para com os jovens presos
políticos, terá sido uma das primeiras vítimas desta atitude. A ser verdade a
notícia segundo a qual o regime “desconvidou” o cantor das comemorações dos 40
anos da independência, e que se está a movimentar para impedir outros
contratos, isto não é só grave, de um ponto de vista moral e ético, como é
também incrivelmente estúpido, de um ponto de vista estratégico. Paulo Flores
tem uma carreira que fala por si. É um dos cantores e compositores mais
populares de Angola. Ao censurar Paulo Flores por delito de opinião o regime de
José Eduardo dos Santos comete um atentado contra a cultura e ofende certamente
muitas dezenas de milhares de angolanos. Se houvesse democracia em Angola eu
diria que com um gesto destes o MPLA estaria a perder um número impressionante
de eleitores. Perder eleitores, porém, não é uma preocupação do MPLA. O MPLA,
como todos sabemos, não precisa de eleitores para ganhar eleições. Aperfeiçou a
sua versão de “democracia especial” de forma a prescindir dos eleitores. Os
eleitores são um aborrecimento próprio das democracias burguesas – nunca se
sabe em quem irão votar.
Sem
surpresa, a “mãenifestação” da passada sexta-feira foi dispersa à força pela
polícia política. Sem surpresa, o regime encheu as ruas com alguns milhares de
“manifestantes profissionais”, pagos para festejarem o aniversário de José
Eduardo dos Santos, e apagarem os descontentes.
Enquanto
José Eduardo dos Santos e a sua família festejam, o preço do barril de
petróleo continua a cair. Centenas de empresas estão à beira da falência. A
inflação sobe, e em breve estará incontrolável. Os médicos, nos hospitais
públicos, já se confrontam com carências básicas. A agitação social deixou de
ser uma possibilidade académica.
Quando
a tempestade chegar José Eduardo dos Santos compreenderá que está mais
prisioneiro no seu palácio, do que Luaty Beirão na sua cela. Nessa altura
talvez pense em como seria bom ter um governo de unidade nacional, formado por
algumas das pessoas que estavam na famosa lista apreendida aos jovens
democratas: Justino Pinto de Andrade, Alexandra Simeão, Rafael Marques,
Filomeno Vieira Lopes e tantos outras pessoas honestas, competentes e credíveis
que este país tem vindo a desperdiçar. Para ele será tarde demais. Para nós,
talvez não.
1 comentário:
Entristece-me pensar que os "libertadores" em Angola e Mocambique, afinal nao passam de auto libertadoes. Nestes Paises, hoje, digo que vale o colono portugues (estrangeiro) que os actuais colonos autotones, insensiveis ao sofrimento dos outros compatriotas.
Me doi mas eles merecem os povos que (des)governam ou dominam.
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