Opera
Mundi, São Paulo
Detenção
sem acusação, provas ou julgamento, antes reservada a palestinos suspeitos de
terrorismo, será estendida a cidadãos israelenses; milhares de pessoas foram às
ruas do país em protestos em repúdio à violência
O
ministro da Defesa de Israel, Moshe Ya’alon, declarou neste domingo (02/08) que
instruiu o Shin Bet, serviço de segurança israelense, a aplicar a chamada
“prisão administrativa” contra cidadãos israelenses suspeitos de envolvimento
em ataques terroristas contra palestinos.
A
medida se dá em resposta ao ataque contra a família palestina Dawabsha na
última sexta-feira (31/07) em Duma, na Cisjordânia, em que um bebê de 18 meses
foi morto quando sua casa foi incendiada por colonos israelenses em um ataque
que deixou seus pais e seu irmão gravemente feridos.
Atualmente
em Israel, a “prisão administrativa” ou detenção sem julgamento se dá somente
contra palestinos. Para o jornal britânico The Guardian, sua extensão para
cidadãos israelenses é um sinal da frustração do governo diante da dificuldade
em identificar os responsáveis pelo último ataque. Nenhuma pessoa foi presa até
agora e nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelo ataque em Duma.
“Não
temos escolha a não ser tratar suspeitos de crimes de ódio contra palestinos da
mesma maneira que tratamos palestinos suspeitos de terrorismo”, declarou um
oficial israelense à Rádio Israel neste domingo.
A
prisão administrativa permite detenção de suspeitos sem acusação e sem provas
por período indeterminado. Em teoria, ela “dá tempo” para que investigadores
reúnam provas e evitem novos ataques, mas Israel é acusada de abusar deste
procedimento para manter palestinos atrás das grades sem julgamento.
De
acordo com o The Guardian, este procedimento é permitido pela lei
internacional somente em circunstâncias extremas, mas ao longo dos anos Israel
a tem aplicado contra milhares de palestinos, presos sem julgamento por anos a
fio. Segundo a associação israelense por direitos humanos B’Tselem, até junho
de 2015, 5.442 palestinos estavam presos nestas condições.
Nos
últimos anos, houve centenas de casos de ataques como o de Duma, em que
inscrições incitando o ódio a palestinos são deixadas no local, e outros incidentes
violentos contra a população árabe e palestina em Israel. Desde 2011,
17 mesquitas e igrejas foram incendiadas por extremistas israelenses, e nenhuma
pessoa foi presa.
Manifestações
antiviolência
Dois
dias após o ataque contra a comunidade LGBT e no dia seguinte ao incêndio na
casa da família palestina Dawabsha, milhares de pessoas se concentraram neste
sábado (01/08) em várias partes de Israel em repúdio à violência e à
radicalização extremista de parte da comunidade religiosa do país.
Em Tel Aviv, mais de três mil pessoas participaram de ato convocado pela ONG Peace Now na Praça Rabin, segundo a Agência Efe. Os participantes fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao bebê Ali Dawabsha.
O chefe da oposição israelense e líder trabalhista, Isaac Herzog, qualificou o ataque da última sexta-feira de "massacre". "Choramos pelo bebê e pela família. Terrorismo é terrorismo e ponto. Terroristas são terroristas e ponto. Estendo a minha mão ao povo palestino e a seus dirigentes e peço que façamos a paz", disse ele.
Em Tel Aviv, mais de três mil pessoas participaram de ato convocado pela ONG Peace Now na Praça Rabin, segundo a Agência Efe. Os participantes fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao bebê Ali Dawabsha.
O chefe da oposição israelense e líder trabalhista, Isaac Herzog, qualificou o ataque da última sexta-feira de "massacre". "Choramos pelo bebê e pela família. Terrorismo é terrorismo e ponto. Terroristas são terroristas e ponto. Estendo a minha mão ao povo palestino e a seus dirigentes e peço que façamos a paz", disse ele.
Nasser
Dawabsha, tio do bebê morto em Duma, na Cisjordânia, também participou da
manifestação em Tel-Aviv. “Netanyahu oferece suas condolências, mas nós pedimos
ao ministro da Defesa e à IDF [Forças de Defesa de Israel] que restaure a
segurança em Duma e em todas as vilas palestinas. Queremos que este seja o fim
do sofrimento de nosso povo. Antes de Ali houve Mohammed Abu Khdeir [palestino
de 16 anos sequestrado e morto por colonos israelenses em julho de 2014] e não
sabemos quem será o próximo.”
Em
Jerusalém, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, discursou diante de milhares
de pessoas condenando o ataque à família palestina. “As chamas tomaram nosso
país. As chamas da violência, do ódio, de crenças falsas e distorcidas. As
chamas que permitem o derramamento de sangue em nome da Torá, da lei, da
moralidade, de um amor por Israel.” Rivlin falou sobre sua visita à família
Dawabsheh, que segue internada em estado crítico, na última sexta-feira (3107).
“Eu os visitei em silêncio, envergonhado, tomado pelo desprezo pelo poder do
ódio.”
“Cidadãos
de Israel, de uma Israel judaica e democrática, precisamos acordar hoje”, disse
Rivlin. “A Israel da Declaração da Independência, a Israel envisionada pelos
profetas, a Israel da compaixão e da misericórdia, precisa acordar hoje.”
Também
houve manifestações em Haifa e na cidade de Be'er Sheva em repúdio à violência
contra palestinos.
Ato
contra homofobia
Outra
manifestação em Tel Aviv ,
já planejada para marcar os seis anos de um ataque a um centro para a juventude
LGBT em que duas pessoas foram mortas, se tornou um protesto antiviolência
contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans após o ataque à Parada Gay de Jerusalém na última quinta-feira.
Na ocasião, seis pessoas foram esfaqueadas por um judeu ultraortodoxo
recém-saído da cadeia por ter feito o mesmo em 2005. Duas das vítimas continuam
no hospital em estado grave.
Segundo
o jornal israelense Haaretz, cerca de 10 mil pessoas participaram da
manifestação. O prefeito da cidade, Ron Huldai, e o ex-presidente de Israel
Shimon Peres foram algumas das personalidades políticas que participaram e
discursaram durante o ato.
*Com
Efe, The Guardian e Haaretz
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