segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Israel: suspeitos de crimes de ódio contra palestinos serão presos sem julgamento



Opera Mundi, São Paulo

Detenção sem acusação, provas ou julgamento, antes reservada a palestinos suspeitos de terrorismo, será estendida a cidadãos israelenses; milhares de pessoas foram às ruas do país em protestos em repúdio à violência

O ministro da Defesa de Israel, Moshe Ya’alon, declarou neste domingo (02/08) que instruiu o Shin Bet, serviço de segurança israelense, a aplicar a chamada “prisão administrativa” contra cidadãos israelenses suspeitos de envolvimento em ataques terroristas contra palestinos.

A medida se dá em resposta ao ataque contra a família palestina Dawabsha na última sexta-feira (31/07) em Duma, na Cisjordânia, em que um bebê de 18 meses foi morto quando sua casa foi incendiada por colonos israelenses em um ataque que deixou seus pais e seu irmão gravemente feridos.

Atualmente em Israel, a “prisão administrativa” ou detenção sem julgamento se dá somente contra palestinos. Para o jornal britânico The Guardian, sua extensão para cidadãos israelenses é um sinal da frustração do governo diante da dificuldade em identificar os responsáveis pelo último ataque. Nenhuma pessoa foi presa até agora e nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelo ataque em Duma.

“Não temos escolha a não ser tratar suspeitos de crimes de ódio contra palestinos da mesma maneira que tratamos palestinos suspeitos de terrorismo”, declarou um oficial israelense à Rádio Israel neste domingo.

A prisão administrativa permite detenção de suspeitos sem acusação e sem provas por período indeterminado. Em teoria, ela “dá tempo” para que investigadores reúnam provas e evitem novos ataques, mas Israel é acusada de abusar deste procedimento para manter palestinos atrás das grades sem julgamento.

De acordo com o The Guardian, este procedimento é permitido pela lei internacional somente em circunstâncias extremas, mas ao longo dos anos Israel a tem aplicado contra milhares de palestinos, presos sem julgamento por anos a fio. Segundo a associação israelense por direitos humanos B’Tselem, até junho de 2015, 5.442 palestinos estavam presos nestas condições.

Nos últimos anos, houve centenas de casos de ataques como o de Duma, em que inscrições incitando o ódio a palestinos são deixadas no local, e outros incidentes violentos contra a população árabe e palestina em Israel. Desde 2011, 17 mesquitas e igrejas foram incendiadas por extremistas israelenses, e nenhuma pessoa foi presa.

Manifestações antiviolência

Dois dias após o ataque contra a comunidade LGBT e no dia seguinte ao incêndio na casa da família palestina Dawabsha, milhares de pessoas se concentraram neste sábado (01/08) em várias partes de Israel em repúdio à violência e à radicalização extremista de parte da comunidade religiosa do país.

Em Tel Aviv, mais de três mil pessoas participaram de ato convocado pela ONG Peace Now na Praça Rabin, segundo a Agência Efe. Os participantes fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao bebê Ali Dawabsha.

O chefe da oposição israelense e líder trabalhista, Isaac Herzog, qualificou o ataque da última sexta-feira de "massacre". "Choramos pelo bebê e pela família. Terrorismo é terrorismo e ponto. Terroristas são terroristas e ponto. Estendo a minha mão ao povo palestino e a seus dirigentes e peço que façamos a paz", disse ele.

Nasser Dawabsha, tio do bebê morto em Duma, na Cisjordânia, também participou da manifestação em Tel-Aviv. “Netanyahu oferece suas condolências, mas nós pedimos ao ministro da Defesa e à IDF [Forças de Defesa de Israel] que restaure a segurança em Duma e em todas as vilas palestinas. Queremos que este seja o fim do sofrimento de nosso povo. Antes de Ali houve Mohammed Abu Khdeir [palestino de 16 anos sequestrado e morto por colonos israelenses em julho de 2014] e não sabemos quem será o próximo.”

Em Jerusalém, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, discursou diante de milhares de pessoas condenando o ataque à família palestina. “As chamas tomaram nosso país. As chamas da violência, do ódio, de crenças falsas e distorcidas. As chamas que permitem o derramamento de sangue em nome da Torá, da lei, da moralidade, de um amor por Israel.” Rivlin falou sobre sua visita à família Dawabsheh, que segue internada em estado crítico, na última sexta-feira (3107). “Eu os visitei em silêncio, envergonhado, tomado pelo desprezo pelo poder do ódio.”

“Cidadãos de Israel, de uma Israel judaica e democrática, precisamos acordar hoje”, disse Rivlin. “A Israel da Declaração da Independência, a Israel envisionada pelos profetas, a Israel da compaixão e da misericórdia, precisa acordar hoje.”

Também houve manifestações em Haifa e na cidade de Be'er Sheva em repúdio à violência contra palestinos.

Ato contra homofobia

Outra manifestação em Tel Aviv, já planejada para marcar os seis anos de um ataque a um centro para a juventude LGBT em que duas pessoas foram mortas, se tornou um protesto antiviolência contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans após o ataque à Parada Gay de Jerusalém na última quinta-feira. Na ocasião, seis pessoas foram esfaqueadas por um judeu ultraortodoxo recém-saído da cadeia por ter feito o mesmo em 2005. Duas das vítimas continuam no hospital em estado grave.

Segundo o jornal israelense Haaretz, cerca de 10 mil pessoas participaram da manifestação. O prefeito da cidade, Ron Huldai, e o ex-presidente de Israel Shimon Peres foram algumas das personalidades políticas que participaram e discursaram durante o ato.

*Com Efe, The Guardian e Haaretz

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