Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1.
Nunca se tinha anunciado tanto confronto de ideias. Só frente a frente entre os
diferentes líderes dos partidos com representação parlamentar seriam 12 (com
Costa e Passos a repetirem a dose três vezes). E mais dois debates com a
presença simultânea de todos os candidatos da primeira liga. Ao todo, 14
oportunidades para uns quantos eleitores avaliarem os dotes de oratória e a
consistência das propostas de cada um dos candidatos. Ainda que se deva admitir
que, dado o atual nível de estima pela política e pelos políticos, para outros
tantos fosse um pesadelo a evitar.
Na
verdade, nunca saberemos se seria uma boa medida para diminuir a abstenção, ou
se, pelo contrário, se corria o risco de fazer crescer o número dos que já não
se dão ao trabalho de acorrer às mesas de voto, uma vez que a vertigem circense
que sempre toma conta dos partidos nestas alturas se encarregou de provocar uma
erosão nos debates, porventura até não sobrar nenhum. Seja porque a coligação
PSD/CDS quis impor Portas, seja porque a Oposição vetou Portas - um enigma ao
nível daquele do ovo e da galinha -, as comadres zangaram-se e o número de
debates diminuiu de dia para dia.
Não
tarda e ficaremos reduzidos ao que verdadeiramente interessa: duas ou três
ideias repetidas até à náusea em sucessivos comícios, o som dos bombos nas
arruadas, o entusiasmo dos convertidos que carregam as bandeirinhas nas feiras
e os cartazes nas rotundas com fotos narcisistas e frases vazias.
Do
mal, o menos, esta história já permitiu um daqueles momentos que marcam todas
as campanhas: Paulo Portas, sentido de humor refinado, lembrou que "em
nenhum país comunista haveria um debate com os adversários políticos, porque,
se houvesse, era o último (...) Como sabem, ou lhes cortavam a cabeça ou os prendiam".
Podem rir, era para ter graça.
2.
Se a trapalhada da privatização da Metro e da STCP serve para alguma coisa é
para demonstrar a urgência de uma reforma administrativa que permita atenuar a
asfixia centralista que se acentuou nos últimos anos, chamem-lhe regionalização
ou outra coisa qualquer. Entre as forças políticas do Porto, haverá quem não concorde
de todo com a concessão de um serviço público a privados, como haverá quem a
aceite, ainda que em termos diferentes dos que impõe o Terreiro do Paço. Com o
que ninguém pode concordar é que uma decisão desta importância seja tomada à pressa
e às escondidas do poder local, aquele que, com todos os seus defeitos, melhor
conhece e defende os interesses dos habitantes da Área Metropolitana do Porto.
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