Quase
5,5 milhões de eleitores catalães vão hoje às urnas para escolher os deputados
ao parlamento regional da Catalunha, numas eleições autonómicas convertidas
pelos partidos independentistas num "referendo de facto" sobre a
independência ou não da região.
Em
teoria, os catalães apenas vão escolher hoje - numas eleições antecipadas em
cerca de 13 meses pelo atual presidente e líder da principal fação
independentista, Artur Mas - a composição do novo Governo regional.
No
entanto, a plataforma Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) - que junta o partido de
Artur Mas, a Convergencia Democratica de Catalunya (CDC), a Esquerra
Republicana Catalana (ERC) e vários movimentos cívicos - considera que as
eleições constituem um "plebiscito" sobre a independência da região.
Os
dirigentes da Junts afirmam que, caso obtenham a maioria absoluta no parlamento
(pelo menos 68 deputados regionais) inicia um processo de negociações com
Espanha, a União Europeia e os Estados-membros com vista à independência da
Catalunha, no prazo de 18 meses. Podem ter de vir a contar com outro partido
que apoia este caminho, a Candidatura de Unidade Popular (CUP, esquerda radical
com posições anti-capitalismo e contra a União Europeia).
As
outras forças políticas - Ciudadanos, Podemos (na sua versão catalã "Sí
que es pot"), o PP da Catalunha, o Partido Socialista da Catalunha e a
Unió Democratica de Catalunya (UDC) - estão contra esta via.
A
campanha ficou marcada quase exclusivamente pela questão da independência
(convertendo-se, assim, de facto num referendo sobre esta questão). As
sondagens de todos os jornais colocam a Junts pel Sí muito perto ou já em
terreno de maioria absoluta, mas fica a dúvida sobre se vai precisar ou não do
apoio da CUP para ter maioria parlamentar.
Outra
questão é que, apesar de considerar as eleições um referendo, a Junts pel Sí
coloca a barreira da vitória no número de deputados e não na percentagem de
votos (a vitória num referendo consegue-se com 50% dos votos mais um). As
sondagens indicam que, graças ao método de Hondt (e a pesos diferentes do voto
urbano e rural), é provável que os independentistas possam ter a maioria de
deputados e ficarem abaixo dos 50% na votação.
Por
outro lado, está claro que a 28 de setembro não haverá uma declaração de
independência. No sistema eleitoral espanhol para as autonomias, os eleitores
escolhem os deputados que preenchem o Parlamento regional, mas depois são estes
que escolhem o presidente regional, abrindo caminho a acordos pós-eleitorais de
desfecho imprevisível.
O
atual presidente não surge como cabeça de lista da Junts (é o número 4) e, caso
a CUP seja necessária para formar maioria (e é diferente a Junts precisar de um
ou seis deputados da formação de extrema esquerda), a sua investidura como
presidente pode estar em risco. As negociações para a escolha de presidente, no
caso de não haver maioria absoluta de um único partido, podem durar meses (em
votações sucessivas no novo parlamento)
A
campanha ficou marcada pela questão da independência e as suas possíveis consequências,
com o PP e o Governo espanhol (bem como líderes europeus e a própria comissão
europeia) a defenderem a unidade de Espanha e a dizer que uma Catalunha
independente ficaria automaticamente de fora da UE, de Espanha (os catalães
renunciariam à nacionalidade espanhola), do sistema do euro, do espaço Shengen
e das instituições internacionais.
Também
foi levantada a possibilidade de uma saída em massa das empresas multinacionais
da Catalunha, um fecho dos bancos, a impossibilidade do pagamento de pensões
aos catalães (integrados na Segurança Social espanhola) ou o colapso do sistema
de Saúde catalão. Até a permanência ou não do FC Barcelona na Liga espanhola
foi discutida e usada como arma de campanha.
Os
partidos independentistas consideram estes avisos como "ameaças sem
sentido", defendendo que a Catalunha já faz parte da UE e não pode ser
expulsa, que poderia usar o euro e que tudo isto carece de negociações que
estão dispostos a fazer.
Lusa,
em RTP
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