À
meia noite do dia 21 de Setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty
Beirão e Sedrick de Carvalho tomaram a decisão extrema de iniciar uma greve de
fome.
Orlando
Castro – Folha 8, em Mukandas
Esta
questão, dramática e reveladora do desespero de uns e da prepotência do regime,
recorda uma situação similar, em 2011, quando os dirigentes da UNITA que
trocaram a mandioca pela lagosta decidiram, como foi o caso de Abílio Kamalata
Numa, então secretário-geral, fazer greve de fome como protesto contra a
política totalitária do regime angolano.
Alcides
Sakala explicou na altura que se tratava de uma nova estratégia do partido para
levar o executivo do MPLA a pôr cobro à “intolerância e arbitrariedade” em
relação à oposição. Ou seja, pôr cobro ao que o regime sempre praticou e vai
continuar a praticar.
Todos
parecem esquecer que a UNITA, por incapacidade dos seus mais altos dirigentes,
assinou a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte de Jonas Savimbi,
no dia 21 de Fevereiro de 2002.
E
se a assinou com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando
alguns dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram
dirigir a caça a Jonas Savimbi.
Não
adianta por isso continuar a dizer que a vitória seguinte começa com a derrota
anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá. Como não
anda, e como os seus discípulos o que querem é apenas lagosta, ao povo que se
alimenta da mandioca só resta passar também para o outro lado.
Apesar
de todas as enorme aldrabices do MPLA, as eleições acabam por derrotar em todas
as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas pelos “generais”
da UNITA.
Esperando
(santa ingenuidade!) que a Direcção da UNITA, esta ou qualquer outra, prefira
ser salva pela crítica do que assassinada pelo elogio, de vez em quando ainda
se pensa que é possível ver o Galo Negro voar.
Mas,
se calhar, nunca mais voará. Com tantos “generais” que apenas sabem levantar o
braço e içar um pano branco, é crer que o Galo Negro já nem sequer existe.
As
sucessivas hecatombes eleitorais mostram que a UNITA não estava, e
provavelmente continua a não estar, preparada para ser governo e quer apenas
assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.
O
sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga
vazia, não viu na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi
prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba
Gato, Alcides Sakala e Samuel Chiwale.
Terá
sido para ver a UNITA com pouco mais de 10% que Jonas Savimbi lutou e morreu?
Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de
nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta
da elite angolana.
É
pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber,
dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito
o Galo Negro.
Se
calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos
deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Se
calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente,
queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o
que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.
É
que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos
com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.
O
caso Maria da Conceição
Ainda
a propósito das greves de fome, recordo que, em 2008, a antiga chefe da contra
Inteligência Externa de Angola, Maria da Conceição, entrou em greve de fome
para protestar contra a indecisão judicial num processo de desobediência em que
foi condenada pelo Tribunal Supremo Militar.
“A
razão da greve de fome tem a ver com o silêncio dos órgãos judiciais angolanos
que não se decidem em relação a este caso”, afirmou na altura o seu advogado,
David Mendes. Não se decidiam em relação a este como a muitos outros. Sobretudo
aos que menos interessam.
Maria
da Conceição foi condenada, a 20 de Setembro de 2007, num crime de
desobediência pelo Tribunal Supremo Militar, na pena de dois anos e seis meses
de prisão, processo que incluiu o ex-director dos Serviços de Segurança Externa,
Fernando Garcia Miala, a quem coube a pena de quatro anos de prisão efectiva.
Por
essa altura a defesa interpôs recurso junto do tribunal que a condenou.
“Esgotaram-se todos os mecanismos legais e ela sente-se uma vítima do sistema
judiciário do país que a faz manter-se na cadeia até este momento”, salientou o
advogado. Ontem como hoje.
Salientou
na altura e vai ter de continuar a salientar já que, ao Poder este é um assunto
que não interessa, a não ser que os lesados aceitem dizer o que ele quer. Até
lá… Ontem como hoje.
O
causídico admitiu no entanto que, a greve poderia ser suspensa “logo que houver
uma decisão definitiva dos órgãos competentes”, porque a defesa interpôs
“recurso com efeitos suspensivos”.
“Que
seja definida a sua pena, aliás que a minha cliente seja condenada
efectivamente ou seja posta em liberdade. E como não há nada de concreto ela
enveredou pela greve de fome”, frisou.
Questionado
sobre se a greve de fome da sua constituinte não afectará o seu estado de
saúde, dado que a mesma já estivera internada depois de ser presa, David Mendes
referiu que aconselhou-a a não entrar em greve de fome, mas esta “preferiu não
acatar”.
Ontem
como hoje, a greve de fome não é solução. É que, morrer por morrer como quer o
Poder, sempre será melhor – presume-se – morrer com a barriga mais cheia.
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