O
mais provável é que o Partido Socialista continue a ser liderado por António
Costa e isso revela uma série de fragilidades.
Paulo
Baldaia* - TSF, opinião
A
primeira e mais óbvia é que o PS já não tem uma alternativa capaz para
substituir um líder que saiu das eleições com uma pesada derrota. A segunda, em
consequência dessa, é que um líder fragilizado pela derrota da sua estratégia
não está em condições de impor uma linha política para o breve prazo. A
terceira é que tem já outras eleições para disputar e a melhor estratégia que
se apresenta aos socialistas é não ir a jogo, o mesmo é dizer não apoiar nenhum
candidato presidencial na primeira volta.
Fragilidade
1 - Sem medo das palavras, qualquer socialista sem memória curta se recorda que
Guterres apeou Sampaio da liderança, depois de uma derrota pesada às mãos de
Cavaco, afirmando-se em "estado de choque" com os resultados. O PS
encontrou uma alternativa forte depois de uma derrota e até encontrou depois de
uma vitória, quando Costa considerou que ganhar as europeias por
"poucochinho" era um mau resultado. Agora, perante uma derrota clara
à direita e à esquerda, o PS está sem alternativa. Costa tem de reinventar o PS
e reinventar-se a si próprio a tempo de discutir a vitória nas eleições
antecipadas que deverão ocorrer dentro de um ano ou dois.
Fragilidade
2 - Tendo perdido capacidade de mobilizar o eleitorado do centro e falhado
rotundamente o voto útil à esquerda, António Costa tem agora de provar que é
capaz de fazer internamente o que não foi capaz de fazer no país. A ala mais
centrista do PS vai puxar a direção para um compromisso com o governo, enquanto
a ala esquerda está desejosa de corresponder minimamente ao namoro do PCP e do
Bloco. Costa já decidiu que vai dar a mão ao governo, mas a esquerda vai
exigir-lhe que venda caro esse apoio, dificultando as negociações.
Fragilidade
3 - Costa tem um candidato presidencial no terreno que parece já estar
derrotado e uma militante em melhor posição de ganhar essas eleições numa
eventual segunda volta. Não pode transferir o apoio prometido a Sampaio da
Nóvoa para Maria de Belém e o melhor que pode fazer é alegar que as
candidaturas presidenciais são unipessoais e que um apoio do PS só deve ser
manifestado na segunda volta.
Para
a coligação PSD/CDS que ganhou as eleições, mas perdeu a maioria absoluta, este
conjunto de fragilidades pode parecer uma bênção, mas é o pior dos cenários. Um
partido ferido no seu orgulho coletivo é como um animal ferido, torna-se mais
instável e, por isso, mais perigoso.
*Diretor
da TSF
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