terça-feira, 6 de outubro de 2015

Portugal. AS FRAGILIDADES DO PS



O mais provável é que o Partido Socialista continue a ser liderado por António Costa e isso revela uma série de fragilidades.

Paulo Baldaia* - TSF, opinião

A primeira e mais óbvia é que o PS já não tem uma alternativa capaz para substituir um líder que saiu das eleições com uma pesada derrota. A segunda, em consequência dessa, é que um líder fragilizado pela derrota da sua estratégia não está em condições de impor uma linha política para o breve prazo. A terceira é que tem já outras eleições para disputar e a melhor estratégia que se apresenta aos socialistas é não ir a jogo, o mesmo é dizer não apoiar nenhum candidato presidencial na primeira volta.

Fragilidade 1 - Sem medo das palavras, qualquer socialista sem memória curta se recorda que Guterres apeou Sampaio da liderança, depois de uma derrota pesada às mãos de Cavaco, afirmando-se em "estado de choque" com os resultados. O PS encontrou uma alternativa forte depois de uma derrota e até encontrou depois de uma vitória, quando Costa considerou que ganhar as europeias por "poucochinho" era um mau resultado. Agora, perante uma derrota clara à direita e à esquerda, o PS está sem alternativa. Costa tem de reinventar o PS e reinventar-se a si próprio a tempo de discutir a vitória nas eleições antecipadas que deverão ocorrer dentro de um ano ou dois.

Fragilidade 2 - Tendo perdido capacidade de mobilizar o eleitorado do centro e falhado rotundamente o voto útil à esquerda, António Costa tem agora de provar que é capaz de fazer internamente o que não foi capaz de fazer no país. A ala mais centrista do PS vai puxar a direção para um compromisso com o governo, enquanto a ala esquerda está desejosa de corresponder minimamente ao namoro do PCP e do Bloco. Costa já decidiu que vai dar a mão ao governo, mas a esquerda vai exigir-lhe que venda caro esse apoio, dificultando as negociações.

Fragilidade 3 - Costa tem um candidato presidencial no terreno que parece já estar derrotado e uma militante em melhor posição de ganhar essas eleições numa eventual segunda volta. Não pode transferir o apoio prometido a Sampaio da Nóvoa para Maria de Belém e o melhor que pode fazer é alegar que as candidaturas presidenciais são unipessoais e que um apoio do PS só deve ser manifestado na segunda volta.

Para a coligação PSD/CDS que ganhou as eleições, mas perdeu a maioria absoluta, este conjunto de fragilidades pode parecer uma bênção, mas é o pior dos cenários. Um partido ferido no seu orgulho coletivo é como um animal ferido, torna-se mais instável e, por isso, mais perigoso.

*Diretor da TSF

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