Luka
– Opera Mundi Blogs
Saiu
mais uma pesquisa do Mapa
da Violência sobre feminicídio. O trabalho traz dados importantes para
podermos debater não só junto ao movimento feminista, mas com a sociedade em
geral. O Brasil possui 5ª maior taxa de feminicídio do mundo e nem para o
capital é uma estatística boa para um país “emergente” na economia global.
Antes
que os homens, cis, hetero e brancos comecem a dizer: mas os homens tem maiores
taxas de homicídio que mulheres. Vamos limpar o meio de campo e lembrar que os
homens negros morrem muito mais que os homens brancos por conta da política de
extermínio racista existente em nosso país, e a maior motivação de assassinatos
contra as mulheres é justamente por conta do lugar secundário que nos foi
imposto na sociedade, principalmente, com a divisão sexual do trabalho. Ou
seja, quem mais morre no Brasil são os setores marginalizados e não você pessoa
cheia de privilégios, agora bora voltar pro tema do post.
Os
dados revelados pelo estudo dão ao movimento feminista, negro e de mulheres
negras ferramentas importantes para o combate ao racismo e machismo na
sociedade. Vamos lá, nós mulheres negras somos 25% da população brasileira
sozinhas, ou seja, somos metade da população que sofre com machismo e metade da
população que sofre com o racismo. Esse dado é importante, pois quando pensamos
o que significa a violência contra mulher e a desigualdade de gênero a questão
racial está profundamente correlacionada e não visibilizar este dado é não
querer lidar com o problema da violência contra mulher de forma concreta (o
mesmo deve ser dito sobre a dificuldade de termos dados sobre violência contra
mulheres trans e travestis e qual a sua raça).
Segundo
o Mapa da Violência, em 10 anos o número de mulheres negras mortas aumentou em
54%, no mesmo período o número de assassinatos de mulheres brancas caíram 9,8%.
Isso não quer dizer que as mulheres brancas não sofram diretamente com a
violência machista, só lembrarmos da semana passada quando sites,
páginas de jornais e matérias de TV noticiaram a história de Ana Carolina Souza
Vieira morta por causa do machismo da nossa sociedade. Esse dados demonstram o
quanto o debate racial não pode ser dissociado do debate de gênero. É,
praticamente, um desenho macabro para entendermos a necessidade da interseccionalidade
dos debates.
Além
disso, o documento também revela que 55,3% desses crimes aconteceram no
ambiente doméstico, sendo 33,2% cometidos pelos parceiros ou ex-parceiros das
vítimas. Neste segundo semestre, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
divulgou o 9º Anuário sobre o tema, apresentando que no Brasil
uma mulher é estuprada a cada 11 minutos e em nota técnica publicada pelo IPEA em março de 2014 foi
apresentado que 70% dos estupros contra mulheres adultas são cometidos por
parentes, namorados ou amigos das vítima, neste mesmo documento do IPEA é
apresentado que 51% das vítimas de violência sexual eram mulheres negras.
“Ah!
mas as mulheres brancas também sofrem com o machismo”, não estou negando que as
mulheres brancas sofram com o machismo, morram por conta da sociedade
patriarcal em que vivemos. Reuni estes dados que mostram a discrepância gigante
entre a porcentagem de violência cometida contra a mulher branca e a mulher
preta para conseguirmos pensar o quanto a realidade concreta clama por um
feminismo que seja interseccional. A violência contra mulher no Brasil também
tem profunda ligação com o racismo, não é coincidência que mulheres negras
sejam mais mortas ou mais estupradas em nosso país.
As
mulheres negras são sim mais objetificadas e mais afetadas pela
violência racista herdada dos tempos de escravidão. Sofrermos mais com a
violência machista e patriarcal só demonstra o quanto não rompemos com a lógica
de que as pretas são objetos de consumo e apenas isso, são parte da mobília da
casa que pode ser arranhada, quebrada e morta.
Em
tempos que o debate feminista toma as ruas, no meio do novembro negro e às
vésperas da Marcha de Mulheres Negras compreendermos a urgência de se enegrecer
o feminismo e espraiar isso para todos os setores do movimento social que visam
a emancipação humana é fundamental para não aprofundarmos a bárbarie em que
vivemos. Precisamos compreender profundamente que nossos passos vem de longe e
que uma sobe e puxa a outra, e não invisibiliza.
Foto:
Campanha contra Racismo e Machismo no Carnaval / Coletivo Negração
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