sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Brasil. A CARNE MAIS BARATA, ESPANCADA, ESTUPRADA E MORTA É DA MULHER NEGRA



Luka – Opera Mundi Blogs

Saiu mais uma pesquisa do Mapa da Violência sobre feminicídio. O trabalho traz dados importantes para podermos debater não só junto ao movimento feminista, mas com a sociedade em geral. O Brasil possui 5ª maior taxa de feminicídio do mundo e nem para o capital é uma estatística boa para um país “emergente” na economia global.

Antes que os homens, cis, hetero e brancos comecem a dizer: mas os homens tem maiores taxas de homicídio que mulheres. Vamos limpar o meio de campo e lembrar que os homens negros morrem muito mais que os homens brancos por conta da política de extermínio racista existente em nosso país, e a maior motivação de assassinatos contra as mulheres é justamente por conta do lugar secundário que nos foi imposto na sociedade, principalmente, com a divisão sexual do trabalho. Ou seja, quem mais morre no Brasil são os setores marginalizados e não você pessoa cheia de privilégios, agora bora voltar pro tema do post.

Os dados revelados pelo estudo dão ao movimento feminista, negro e de mulheres negras ferramentas importantes para o combate ao racismo e machismo na sociedade. Vamos lá, nós mulheres negras somos 25% da população brasileira sozinhas, ou seja, somos metade da população que sofre com machismo e metade da população que sofre com o racismo. Esse dado é importante, pois quando pensamos o que significa a violência contra mulher e a desigualdade de gênero a questão racial está profundamente correlacionada e não visibilizar este dado é não querer lidar com o problema da violência contra mulher de forma concreta (o mesmo deve ser dito sobre a dificuldade de termos dados sobre violência contra mulheres trans e travestis e qual a sua raça).

Segundo o Mapa da Violência, em 10 anos o número de mulheres negras mortas aumentou em 54%, no mesmo período o número de assassinatos de mulheres brancas caíram 9,8%. Isso não quer dizer que as mulheres brancas não sofram diretamente com a violência machista, só lembrarmos da semana passada quando sites, páginas de jornais e matérias de TV noticiaram a história de Ana Carolina Souza Vieira morta por causa do machismo da nossa sociedade. Esse dados demonstram o quanto o debate racial não pode ser dissociado do debate de gênero. É, praticamente, um desenho macabro para entendermos a necessidade da interseccionalidade dos debates.

Além disso, o documento também revela que 55,3% desses crimes aconteceram no ambiente doméstico, sendo 33,2% cometidos pelos parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Neste segundo semestre, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou o 9º Anuário sobre o tema, apresentando que no Brasil uma mulher é estuprada a cada 11 minutos e em nota técnica publicada pelo IPEA em março de 2014 foi apresentado que 70% dos estupros contra mulheres adultas são cometidos por parentes, namorados ou amigos das vítima, neste mesmo documento do IPEA é apresentado que 51% das vítimas de violência sexual eram mulheres negras.

“Ah! mas as mulheres brancas também sofrem com o machismo”, não estou negando que as mulheres brancas sofram com o machismo, morram por conta da sociedade patriarcal em que vivemos. Reuni estes dados que mostram a discrepância gigante entre a porcentagem de violência cometida contra a mulher branca e a mulher preta para conseguirmos pensar o quanto a realidade concreta clama por um feminismo que seja interseccional. A violência contra mulher no Brasil também tem profunda ligação com o racismo, não é coincidência que mulheres negras sejam mais mortas ou mais estupradas em nosso país.

As mulheres negras são sim mais objetificadas e mais afetadas pela violência racista herdada dos tempos de escravidão. Sofrermos mais com a violência machista e patriarcal só demonstra o quanto não rompemos com a lógica de que as pretas são objetos de consumo e apenas isso, são parte da mobília da casa que pode ser arranhada, quebrada e morta.

Em tempos que o debate feminista toma as ruas, no meio do novembro negro e às vésperas da Marcha de Mulheres Negras compreendermos a urgência de se enegrecer o feminismo e espraiar isso para todos os setores do movimento social que visam a emancipação humana é fundamental para não aprofundarmos a bárbarie em que vivemos. Precisamos compreender profundamente que nossos passos vem de longe e que uma sobe e puxa a outra, e não invisibiliza.

Foto: Campanha contra Racismo e Machismo no Carnaval / Coletivo Negração


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