Em
entrevista à SIC, Catarina Martins diz que o acordo de viabilização do governo
dá a garantia de não haver perda de poder de compra de salários e pensões nos
próximos anos.
No
início da entrevista conduzida por Ana Lourenço, a porta-voz do Bloco afirmou
ter a certeza de que na próxima semana será apresentado um acordo para um
governo alternativo ao da direita. “O Presidente da República decidiu dar-nos
tempo, Passos Coelho decidiu esperar os dez dias a que tinha direito para
apresentar o programa na Assembleia da República”, explicou Catarina Martins,
garantindo que nenhum dia foi perdido no trabalho complexo destas negociações.
“Aconteceu
um facto político muito relevante nestas eleições: a direita perdeu a maioria.
Eu julgo que a direita tem alguma dificuldade em entender isto”, prosseguiu
Catarina, a propósito do comportamento de figuras do PSD e CDS que têm agitado
os fantasmas da instabilidade ou até, nas palavras de Paulo Portas, um “PREC
2”.
Catarina
falou de negociações que têm sido complexas, mas que “convergiram no essencial:
travar o ciclo de empobrecimento do país”. “Se a maioria de direita for
governo, as pessoas sabem que em janeiro de 2016 vão viver pior”, com mais
cortes anunciados nas pensões e nos custos do trabalho e mais instabilidade na
vida das pessoas. Pelo contrário, a alternativa que tem sido negociada com o PS
é “uma solução credível que possa responder à vida das pessoas, não é uma
solução de meses”, acrescentou a porta-voz do Bloco.
Questionada
sobre detalhes da negociação, Catarina explicou que só se pronuncia sobre a
resposta aos desafios que colocou ao PS antes das eleições. “Sobre outras
medidas que estão em negociação, não devo pronunciar-me até estarem fechadas e
acabadas. As negociações fazem-se à mesa, com relações de trabalho e confiança
entre os partidos, justificou. Há uma coisa que o acordo garante, acrescentou:
“Aconteça o que acontecer, a cada ano não pode haver perda de poder de compra dos
salários e pensões”.
“Sabemos
que é preciso fazer muito mais do que o PS está disposto a fazer”
As
diferenças entre os partidos que irão compor a maioria parlamentar e o seu
impacto na negociação do acordo tamém foram tema desta entrevista. “Temos
divergências com o PS que são claras. Nós consideramos que para haver uma
rotura com a austeridade que permita uma redistribuição de rendimentos em favor
de quem vive do seu trabalho ou trabalhou toda a vida, é preciso fazer muito
mais do que o PS está disposto a fazer. Por exemplo, consideramos que é preciso
restruturar a dívida para haver essa redistribuição de rendimentos e proteger o
país”, declarou a porta-voz do Bloco.
No
entanto, prosseguiu Catarina, “aceitámos trabalhar dentro do quadro
macroeconómico do PS, o que significa que a recuperação e redistribuição de
rendimentos não é feita ao ritmo que o Bloco de Esquerda considera que seria
importante”, por causa das metas do Tratado Orçamental, dado que “o PS quer
manter a sua atuação dentro destes constrangimentos, mas ainda assim aceita
negociar redistribuição de rendimentos”.
“O
milhão de eleitores do Bloco e PCP são os obreiros de uma solução diferente de
governo”
Questionada
sobre a posição do PCP nas negociações, a porta-voz bloquista manifestou
“inteira confiança que o PCP está tão empenhado como o Bloco numa solução que
recupere rendimentos e direitos do trabalho”. “Tenho a certeza que o milhão de
pessoas que depositou o seu voto no Bloco de Esquerda e no PCP são os obreiros
de uma solução diferente de governo. São os que permitiram que hoje se fale de
uma esperança de um governo que não faça mais empobrecimento no próximo ano”,
sublinhou Catarina.
Destacando
a “situação particular” do Bloco neste debate, “porque colocou este cenário em
cima da mesa antes das eleições, com condições concretas”, Catarina Martins
explicou a escolha que o partido teve de fazer ao tornar-se a terceira força
política do país a 4 de outubro. Uma escolha “entre sermos intransigentes com
as nossas metas de recuperação de rendimento, e deixarmos a direita ser governo
e cortar os rendimentos; ou fazermos uma convergência com um denominador comum
com três pontos essenciais: travar o empobrecimento, proteger o estado social e
parar privatizações, e com estes três pontos conseguir uma mudança concreta na
vida das pessoas”.
“Vai
essa mudança tão longe como o Bloco defende que é necessário para o país? Não
vai. Mas é essa mudança concreta o suficiente para que o Bloco garanta o seu
compromisso com ela? É”, respondeu Catarina. “Ninguém votou no Bloco sem saber
qual era o programa do Bloco e qual o programa de convergência a que o Bloco
estaria disponível”, concluiu.
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