Martinho Júnior, Luanda
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– Os Estados Unidos detêm de longe o maior pendor ofensivo no âmbito dos
programas do exercício de hegemonia unipolar, no que diz respeito aos seus
instrumentos militares, com o Pentágono a estabelecer a quadrícula do mundo e
com a disseminação de bases, que ultrapassam as 800, em todos os continentes.
Por
essa razão os orçamentos para garantir essa cobertura típica dum império, que
exige um enorme esforço de organização e manobra, são de longe os maiores do
mundo, comparativamente a todos os outros.
Essa
cobertura determina que sejam os Estados Unidos a deter o maior número de
aviões e de porta-aviões, pois uma parte substancial das suas forças estão fora
do seu território e as bases circundam o globo, embora haja concentrações em
função das tónicas geo estratégicas e dos conflitos em curso.
Neste
momento os Estados Unidos procuram aligeirar a sua presença no Oriente Médio,
fortalecendo a NATO na Europa do Leste, em torno do contencioso da Ucrânia, ao
mesmo tempo que começam a concentrar esforços e meios em direcção à China, via
Pacífico.
Quer
dizer que os Estados Unidos estão a todo o transe a procurar conter a
emergência dos BRICS, começando por fixar a Rússia a oeste e a China a partir
do Pacífico, integrando aliados como o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas e
outros que procura manipular alimentando discórdias e disputas regionais.
A
doutrina Obama aproveita a doutrina Bush, ao colocar o Estado Islâmico como
prioridade em termos de ameaça, a par da Rússia, de modo a poder aproveitar o
esboço de “conflito de civilizações” que herdou.
À
falta de “comunismo”, quem detém o poder ofensivo precisa de ter um
contraditório na definição da ameaça, que cumpra com um papel que justifique o
seu próprio poder.
Os
Estados Unidos para o efeito dominam em muitas regiões do globo e mantêm uma panóplia de alianças, que enquadram autênticos regimes de vassalagem, como os
casos multilaterais da NATO,“Organização do Tratado do Atlântico Norte”, ou do
ANZUS, “Pacto Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos”, ou os casos
bilaterais como o Japão, ou as Filipinas.
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Por
tabela, em África, a situação é similar, particularmente com o “laboratório” criado
com a implantação do AFRICOM: a partir da destruição da Líbia, semeou-se o caos
no Sahara, no Sahel, até Ogaden… e agora há toda a justificação para os Estados
Unidos e seus vassalos da OTAN,“socorrerem” os débeis estados africanos
que lhes caem nos braços em estranhas “parcerias”, a fim de fazerem face
aos mentores tácticos do caos herdado, ao “terrorismo” do AQMI, do
Boko Haram, ou do al Shabaad…
As
suas forças situam-se sobretudo no hemisfério norte, mas também fazem cobertura
de seus interesses no hemisfério sul, onde não é preciso muito, nem muitos
recursos, para assumir a liderança em proveito da aristocracia financeira
mundial.
A
internacionalização do dólar e as manipulações que com ele são feitas, permitem
que uma grande parte das verbas para os orçamentos sejam provenientes de
outros, inclusive de alguns dos alvos (casos da Rússia e da China).
O
recurso a ideologias de raiz feudal é comum nas doutrinas militares que os
Estados Unidos têm vindo a elaborar.
Os
Estados Unidos implantam assim as dialécticas manipuladoras, estabelecendo
artificiosamente campos de “conflito de civilizações”, de “conflitos
étnicos”, ou de “conflitos religiosos”…
Desde
a IIª Guerra Mundial que os Estados Unidos estão por isso em conflito
permanente onde quer que seja, com guerras de intensidade variável e recorrendo
a todo o tipo de justificações, depois do “laboratório” de suas
manipulações e ingerências.
Durante
o período da “Guerra Fria”, os Estados Unidos disseminaram ingerências em
todos os continentes e agora multiplicaram essas ingerências, ainda que
alterando as perspectivas geo estratégicas de suas condutas tendo em conta a
interligação de interesses e das capacidades de resposta que encontrem por
parte de quem lhes é resistente.
O
capitalismo, selvagem ou não, procurará sempre fórmulas “concorrenciais” que
estimulem processos dialécticos de manipulação e ingerência, pois de outra
maneira é impossível a implantação do domínio indispensável.
Mentores
da tese, estimulam agora a antítese, para que a síntese seja o mais proveitosa
possível.
A “guerra
entre civilizações”, a “guerra entre etnias”, ou a “guerra entre
religiões”, com todos os ingredientes de “guerra psicológica”, faz parte
de suas mais estimulantes agendas e ementas que servem aos processos de domínio
de que se socorre a hegemonia unipolar, ou seja, o que move as potencialidades
de manipulação, ingerência e sobretudo de agressão ofensiva.
As “revoluções
coloridas”, ou as “primaveras árabes”, inscrevem-se nessa guerra
psicológica sem fim e de carácter sempre retrógrado, semeando o caos, dividindo
sempre, subvertendo outras opções, ou interesses, corroendo todas as
iniciativas e geo estratégias de paz!
Imagem:
Mapa de William Blum, relativo às acções levadas a cabo pelos Estados Unidos
depois da IIª Guerra Mundial.