segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O IMBRÓGLIO SÍRIO



Rui Peralta, Luanda

A Federação da Rússia tornou-se no 10º país a intervir na Síria, numa guerra que já fez mais de 240 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados. A intervenção russa mereceu críticas dos USA e aliados que acusam os russos de atacar os rebeldes sírios que se opõem ao presidente sírio Bashar al-Assad, na mesma proporção que atacam o Califado. O Kremlin respondeu que as suas acções militares são coordenadas com o governo sírio e aqui reside um dos pontos de desacordo entre os USA e a Rússia no que respeita á questão Síria.

A coligação liderada pelos USA inclui a Grã-Bretanha, Canadá, França, Austrália, Turquia, Israel, Emiratos Árabes Unidos e Jordânia. O Secretário de Estado John Kerry encontrou-se com o Sergey Lavrov o ministro russo das relações exteriores, para discutirem assuntos de coordenação no combate ao Estado Islâmico. No final do encontro ficou claro que ambas as partes apostam numa resolução politica para o conflito sírio, mas a questão central é coo o fazer. Todos estão de acordo quanto ao combate ao Estado Islâmico, mas no que respeita á resolução do conflito interno sírio entre o governo e a oposição, o acordo anda longe. Os russos pretendem incluir Assad na solução enquanto, para a coligação, Assad é grande parte do problema.

A guerra civil prossegue, 10 países lançam ataques aéreos e bombardeiam alvos no terreno, as infraestruturas sírias estão destruídas e as diversas facções são subsidiadas externamente ou vivem do negócio do petróleo, clandestinamente vendido nos mercados limítrofes a 20 USD o barril. A intervenção russa pode significar uma clarificação da situação e um avanço para uma situação politica – inclusive para o “descartar” de Assad – mas pode, também resultar no efeito contrário e representar uma nova fase na escalada do conflito interno e alarga-lo a um conflito externo aberto.

A Arábia Saudita - que não faz parte da coligação internacional no conflito sírio, mas que desempenha um importante papel no financiamento às facções sunitas, mesmo as mais radicais – já criticou a decisão russa e condenou os ataques aéreos lançados pela aviação russa. A Arábia Saudita está envolvida, desde á muito, com os outros Estados do Golfo, numa “guerra fria” regional contra o Irão. Financiam os grupos sunitas, sejam moderados ou extremistas na Síria e no Iraque com o intuito de provocar um isolamento do Irão através da instabilidade nos países vizinhos.

Putin alega que o governo russo suporta o governo sírio, que este é legítimo e que a destituição do governo sírio gerará uma situação incontrolável em toda a região, á semelhança ao que aconteceu com a Líbia e com o Iraque. Para os russos não existe outra solução, de momento, que não seja a de apoio ao governo sírio na luta contra o terrorismo do Estado Islâmico, embora os russos mostrem-se dispostos – “mais do que nunca” - a iniciar um “dialogo positivo com a oposição moderada que conduza a uma solução politica e a uma reforma do regime”, conforme as palavras de Putin.

Neste discurso novo sobre a Síria, Putin revela a disposição dos russos em concordarem com a necessidade de mudar de governo, ou seja, a resolução politica passa pela remoção do regime de Assad (que depois da NATO é efectivamente o grande responsável pela actual situação do país). Mas para a Rússia – e bem – essa remoção não pode ser efectuada agora. Este é o momento para engajar Assad na luta contra o Estado Islâmico (formado pela facções extremistas sunitas do Baas iraquiano, o partido similar – embora antagónico – ao partido Baas Sírio que é o partido do regime) e ao mesmo tempo, na base desse combate, reiniciar as negociações com a oposição síria (moderados e a Exercito Livre, apoiado pela NATO) de forma a criar uma resolução politica que force Assad a reformas que tornem inevitável o seu afastamento político e o destronar do Baas.

Perante a confusa e inábil posição dos USA sobre a Síria, a posição russa revela-se realista. Derrotar o fascismo islâmico é uma prioridade para resolver a guerra civil síria. O problema é que o fascismo islâmico é uma consequência da política norte-americana na região desde meados da década de 80 (e muito antes, se atendermos á questão palestiniana) e parece não ser uma prioridade para os Estados do Golfo que continuam a financiar o Estado Islâmico e as correntes extremistas sunitas. Também para os USA a derrota do Estado Islâmico não é uma prioridade, embora seja uma necessidade. A prioridade para os norte-americanos é Assad. Ora, para que a Assad caia é necessário primeiro que existam condições para os seus opositores assumirem o Poder e proceder às reformas democráticas necessárias.

Com o fascismo islâmico a aterrorizar o país não se encontram reunidas as condições para que isso aconteça. A posição russa é portanto, uma porta de ouro para a oposição síria, se a souber aproveitar. Quanto á coligação internacional terá de existir um entendimento sobre os objectivos. É que uma coisa é ajudar um pais a combater o inimigo comum (o fascismo islâmico e o terrorismo fascista) outra coisa é aproveitar-se das debilidades internas para destruturar nações…e para isso, à luz do direito internacional, nenhuma coligação internacional é mandatada.

Leituras aconselhadas
Khalidi, R. Brokers of Deceit: How the U.S. Has Undermined Peace in the Middle East Columbia University Press, 2014

Portugal. DUAS NOTAS SOBRE ESTAS ELEIÇÕES – Mariana Mortágua



Não será por nós que uma minoria de direita governará o país, e imporá um programa de mais austeridade.


Em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, o resultado histórico do Bloco de Esquerda. Recorde de votos, recorde de mandatos, muito mais força. Entendemos que é um voto de confiança de quem não desistiu do país, de quem viu em nós a clareza, a vontade a e capacidade para defender o que interessa: o salário, o emprego, a dignidade.

Em segundo lugar, o que mais importa. O futuro. É claro que a direita não terá uma maioria na Assembleia da República. Esse facto acrescenta responsabilidade e sentido ao nosso mandato. Afirmamos na manhã depois das eleições o mesmo que dissemos na noite da véspera: não será por nós que uma minoria de direita governará o país, e imporá um programa de mais austeridade e empobrecimento, faça o Presidente da República o que fizer.

O tempo é de esperança e serenidade. Que todas as forças políticas saibam estar à altura do desafio.

Esquerda.net - Artigo publicado em publico.pt em 5 de outubro de 2015

Mariana Mortágua - Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista

“TSUNAMI” BE, (DES)ILUSÃO PS. PORTUGAL NA MÃO DOS MESMOS



A coligação PSD/CDS-PP foi a força política mais votada com 38,55% dos votos e com 104 mandatos. O PS foi o segundo partido mais votado com 32,38% elegendo 85 deputados. O Parlamento português conta com 230 deputados. BE teve o melhor resultado de sempre, reconquistou distritos perdidos e chegou à Madeira.

O Bloco de Esquerda conseguiu nas legislativas de domingo o melhor resultado da história do partido, com uma bancada recorde de 19 deputados, a reconquista de todos os distritos perdidos em 2011 e a eleição pela primeira vez na Madeira.

As metas eleitorais traçadas ao longo da campanha pela porta-voz do partido, Catarina Martins, foram atingidas: mais mandatos e a recuperação dos deputados perdidos nos distritos de Coimbra, Braga, Leiria e Santarém, num total de representação em dez círculos eleitorais.

A conquista, pela primeira vez, de um deputado do BE pelo círculo eleitoral da Madeira foi um dos momentos mais festejados da noite no “quartel-general” bloquista montado no cinema São Jorge, em Lisboa.

Globalmente, e com apenas os consulados por apurar, o BE conseguiu 10,22% – ultrapassando a CDU e passando a ser a terceira força política com mais representação parlamentar – tendo recebido 549.153 dos votos, quase duplicando os conseguidos em 2011, quando elegeram apenas oito deputados.

Comparativamente com 2009, o ano em que o BE tinha até então conseguido o melhor resultado, os bloquistas conseguiram mais três deputados, tendo então, em valores absolutos tido 558 mil votos.

Em 2011, o BE perdeu metade da bancada parlamentar, elegendo apenas oito deputados, tendo conseguido 5,17% dos votos, 288.973 em termos absolutos, sendo então a quinta força política mais votada e apenas elegendo em Lisboa, Porto, Faro, Setúbal e Aveiro.

Nas eleições de domingo, o partido de Catarina Martins reconquistou Coimbra, Braga, Santarém e Leiria – todos com um parlamentar – tendo conseguido cinco deputados por Lisboa e cinco pelo Porto, duas deputadas por Setúbal e um mandato pela Madeira, Aveiro e Faro.

A eleição na Madeira pela primeira vez é um dos dados a salientar nesta noite eleitoral do BE, que passou dos 4% de 2011, quarta força política, para os 10,66%, que lhe deram um deputado.

No Porto, círculo eleitoral pelo qual Catarina Martins foi cabeça de lista, o partido mais do que duplicou a votação e conquistou mais três deputados do que em 2011, passando dos 50.985 votos há quatro anos para os 106.954 votos deste ano, sendo agora a terceira força política no distrito.

Em Lisboa, e com a mais recente estrela do partido, Mariana Mortágua, a encabeçar a lista, o BE regressou aos cinco deputados eleitos em 2009 e, quando comparado com os resultados de 2011, elegeu mais dois deputados, quase duplicando em termos absolutos.

Folha 8

Leia mais em Folha 8 (sobre Angola)

Cabo Verde. A LONGA SAGA DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL



Expresso das Ilhas, editorial

Finalmente elegeu-se o presidente do Tribunal Constitucional. Infelizmente aconteceu mais de quatro meses depois da tomada de posse, a 14 de Maio, dos juízes eleitos pela Assembleia Nacional. A demora acabou por alimentar especulações quanto a eventuais compromissos feitos no processo que culminou com a eleição dos juízes pela Assembleia Nacional. As sucessivas fugas de informação com o posicionamento dos juízes ora como candidatos, ora como não candidatos e ainda o inesperado voto branco na eleição do presidente do TC deixam a impressão que pressões e jogadas políticas podem não ter terminado com a eleição dos juízes. Não é um bom começo, mas espera-se que os juízes saibam ultrapassar os percalços iniciais com espírito de missão e a consciência do papel único de estarem a edificar uma instituição tão fundamental para a república.

Percalços no processo da instalação do Tribunal Constitucional surgiram desde da sua criação na revisão constitucional de Novembro de 1999. Não é por acaso que se levou 15 anos para o instalar. A lei que estabelece a competência, organização e funcionamento do TC só foi aprovada em Janeiro de 2005. As tentativas anteriores de uma lei orgânica para o TC foram goradas. Ao longo dos primeiros dez anos vozes diversas vindas designadamente da presidência da república, do governo e de sectores do PAICV puseram em causa o modelo do Tribunal Constitucional, mas nunca ninguém apresentou uma proposta de revisão para se voltar ao que existia na Constituição de 1992. Preferiu-se manter o modelo e não agir de forma coerente para o cumprir. Entretanto, o presidente da república continuava a nomear um juiz para o Supremo Tribunal de Justiça e a Assembleia Nacional a eleger juízes nos anos de renovação do mandato do STJ em 2003 e 2009 de acordo com o figurino constitucional anterior. Os magistrados viam a sua carreira limitada essencialmente aos tribunais da primeira instância.

O incumprimento deliberado não deixava de afectar negativamente as instituições democráticas. Ficava a pairar no ar a ideia que se houvesse vontade firme de algum sector da sociedade podia-se não cumprir integralmente o que estava estabelecido na Constituição. Uma noção extremamente grave particularmente numa democracia jovem em vias de consolidação das suas instituições e que ainda se ressente nas atitudes e formas de acção dos efeitos de uma cultura política de natureza voluntarista, revolucionária e que não olha a meios para atingir os fins.

Na base da alteração constitucional que retirava ao Supremo Tribunal de Justiça as competências em matéria de justiça constitucional e as passava para o TC estava a convicção de que o STJ deveria ser constituído apenas por magistrados de carreira. As funções do TC implicavam a nomeação de alguns juízes - dois no caso de ser ter um colectivo de cinco juízes e três em sete - por órgãos de poder político, o presidente da república e a assembleia nacional. A separação dos dois tribunais além de abrir espaço para a evolução da carreira dos juízes contribuía também para uma maior independência dos tribunais judicias. Naturalmente que houve quem se opusesse à essa opção. A existência de um Tribunal Constitucional não é pacífica em todos os países. Em Cabo Verde, o argumento mais esgrimido tem sido o da escassez relativa de recursos humanos e materiais. A realidade não demonstra, porém, que haja poupanças significativas. Pelo contrário, tem riscos e custos escondidos que acabam por se manifestar na produtividade, motivação e efectividade do poder judicial como parte importante dos checks and balance do sistema político.

Na revisão da Constituição, em 2010, não houve qualquer tentativa de alteração do figurino no que respeita ao TC. Pelo contrário, deu-se maior autonomia e independência ao sector da Justiça e foram criados os tribunais de relação. Tudo porém ficou dependente da instalação do TC. Os novos juízes conselheiros nomeados na sequência de concursos públicos deveriam poder ocupar os seus lugares no STJ assim como os juízes desembargadores nos tribunais de relação. O novo arranjo deveria ser feito num prazo de três anos, mas vozes contrárias continuaram a fazer-se ouvir aqui e além e acções atempadas não aconteceram. Em consequência, está-se no quinto ano e só agora com a instalação definitiva do TC, o STJ vai poder reorganizar-se e todo o sistema poderá mover-se para se conformar a Justiça com o figurino constitucional estabelecido. Espera-se que a reorganização aconteça da forma mais harmoniosa e traga mais produtividade, celeridade e independência à administração da justiça nesta terra.

A autêntica saga que tem sido o processo de instalação do Tribunal Constitucional deveria servir de alerta para a persistência de resquícios de uma certa cultura política que não reconhece que democracia não significa apenas governo da maioria. É o sistema do governo limitado. O Estado tem que se submeter à Constituição e à Lei, respeitar os direitos fundamentais dos cidadãos e a independência dos tribunais e desenvolver a sua actividade tendo em devida consideração a autonomia do poder local e o princípio da descentralização democrática. O que se perdeu em não ter uma justiça moderna, célere e efectiva tem similaridades com o que se vai perdendo em eficiência e eficácia na crispação política, falta de transparência e em capital de confiança devido às más práticas de contornar e esvaziar instituições e de as substituir por entidades paralelas. Há que mudar de atitude e de comportamentos.

Cabo Verde. José Maria Neves mantém confiança política no ministro do Ambiente



O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, disse hoje que mantém a confiança política no ministro do Ambiente, Antero Veiga, cuja gestão do Fundo do Ambiente está a ser investigada pelo Ministério Público.

"Foi publicada uma lista [de associações alegadamente indevidamente beneficiadas com verbas do Fundo do Ambiente], o senhor ministro do Ambiente desmentiu essa lista, deu esclarecimentos públicos e em sede de Conselho de Ministros e mantenho a total confiança no senhor ministro do Ambiente", disse José Maria Neves.

O primeiro-ministro, que falava aos jornalistas hoje na Praia, disse ainda que as contas do Fundo do Ambiente vão ser apresentadas ao Tribunal de Contas e que todos os dados serão apresentados publicamente "para avaliação da opinião pública".

José Maria Neves, que relacionou a polémica em torno do Fundo do Ambiente com o período pré-eleitoral que já se vive no país, pediu "a necessária contenção para fazer pedagogicamente o esclarecimento sobre estas matérias".

"Queria recomendar muita serenidade. Estamos num momento pré-eleitoral e quando chegamos a esses momentos há muita agitação. Queria pedir a todos os partidos políticos, a todas as câmaras municipais, a todos os órgãos de soberania muita serenidade e tranquilidade para gerirmos este período. Aqui as campanhas começam muito cedo, como já se vê", disse.

O Fundo do Ambiente, gerido pelo Ministério do Ambiente, está a ser investigado pelo Ministério Público por alegadas irregularidades na atribuição de verbas a associações e ONG.

A investigação foi aberta em agosto na sequência de denúncias públicas do presidente da Associação de Municípios de Cabo Verde, Manuel de Pina, que posteriormente apresentou uma queixa contra o ministro do Ambiente, Antero Veiga.

Lusa, em Notícias ao Minuto

CRISE NA GUINÉ-BISSAU – SUSPEITAS DE QUE PR ESTÁ A MANIPULAR FORÇAS MILITARES



Na última sexta-feira, o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, recebeu a proposta com os nomes para o novo Governo do país, das mãos de Carlos Correia, actual Primeiro-Ministro. Desde essa data, têm-se verificado vários encontros paralelos entre membros da presidência e dirigentes políticos de outros partidos, que não o PAIGC, ou o actual Chefe do Executivo.

Entretanto, na tarde deste domingo, Antero João Correia, director-geral do Serviço de Informação de Segurança da Guiné-Bissau reuniu-se com o Presidente da República. José Mário Vaz terá chamado Antero Correia para, alegadamente, preparar a prisão do ex-Primeiro-Ministro, Domingos Simões Pereira.

De recordar que no último encontro dos chefes de estado da CEDEAO, José Mário Vaz terá partilhado com os seus pares que não importava ter contra ele a sociedade civil, os partidos políticos, os deputados, o supremo tribunal ou as representações internacionais, pois ele tem a seu favor as forças armadas. A confirmar-se as últimas informações, estaremos perante mais um caso de manipulação da força militar guineense em prol de um regime ditatorial.

A Guiné-Bissau está sem Governo desde 12 de agosto depois de Vaz ter demitido o Executivo, alegando, entre outros motivos, falta de confiança em vários membros do Governo, incluindo o próprio primeiro-ministro de então, Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC. E têm-se mostrado determinado em formar um governo de sua dominância, atacando todos os pontos focais que se mostrem contra a sua posição.

Fonte: Um jornalista preocupado com o seu país, mas que mantém o anonimato para proteger a sua própria vida.


Antigo líder militar da Guiné-Bissau com problemas de saúde na prisão de Mansoa – advogado



O antigo chefe das Forcas Armadas da Guiné-Bissau Zamora Induta encontra-se doente na prisão no quartel de Mansoa, norte do país, onde se encontra detido a mando do tribunal militar, disse hoje à Lusa o seu advogado, José Paulo Semedo.

José Paulo Semedo visitou Zamora Induta na última semana e constatou que este "tem problemas de saúde" pelo que decidiu avançar ainda hoje com um pedido de "Habeas Corpus" no Supremo Tribunal de Justiça.

O advogado espera que "dentro de 48 horas a 72 horas" o Supremo venha a pronunciar-se sobre o pedido, mandando libertar Zamora Induta, disse.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos está a encetar diligências no sentido de visitar Zamora Induta na prisão de Mansoa para saber da sua situação de saúde.

Por ordens do Tribunal Militar Superior, Induta foi detido no quartel de Mansoa a 22 de setembro, em regime de prisão preventiva, por suspeita de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado ocorrida em outubro de 2014.

José Paulo Semedo acredita que Zamora Induta "é inocente".

A medida é contestada pelo seu advogado, que a considera ilegal.

"Não havia perigo de fuga", notou Paulo Semedo, lembrando que o oficial até se encontrava sob vigilância militar na sua residência, em Bissau.

O advogado acredita que o Supremo Tribunal de Justiça irá aceitar o pedido de libertação de Zamora Induta uma vez que, disse, o militar foi detido de forma irregular e ainda é necessário "dar tempo ao tribunal" para que possa "ver se há indícios" para sustentar a acusação.

"O tribunal mandou prender para poder ver se há indícios", afirmou José Paulo Semedo, que disse ainda não ter sido notificado, enquanto defesa de Induta, sobre a prisão preventiva, como manda a lei, sublinhou.

MB // VM – Lusa, em Sapo

ANA GOMES ACUSA PROCURADORIA ANGOLANA DE ESTAR AO SERVIÇO DO PODER



Lisboa, 05 out (Lusa) -- A eurodeputada Ana Gomes disse hoje à Lusa que a acusação de "rebelião", anunciada pelo Ministério Público angolano contra os 17 jovens detidos desde junho, é reflexo do controlo do sistema judicial pelas forças no poder em Luanda.

"Devo dizer que estava à espera. Desde que estive em Luanda e conversei sobre o assunto com o ministro da Justiça e com outros elementos do governo fiquei convencida que eles iriam acusar, embora a acusação possa ser uma coisa 'cavernícula' na argumentação. Mas não me surpreendo porque a Procuradoria está completamente ao serviço do poder", disse à Lusa a eurodeputada socialista, Ana Gomes que visitou Luanda no mês de agosto.

O Ministério Público angolano acusou hoje 17 jovens da preparação de uma rebelião e de um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, prevendo barricadas nas ruas e desobediência civil que aprendiam num curso de formação.

"Os arguidos planeavam, após a destituição dos órgãos de soberania legitimamente instituídos, formar o que denominaram 'Governo de Salvação Nacional' e elaborar uma 'nova Constituição'", lê-se na acusação, deduzida três meses depois das detenções e à qual a Lusa teve hoje acesso.

Em causa está uma operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando os jovens angolanos foram detidos em Luanda, em flagrante delito, durante a sexta reunião semanal de um curso formação de ativistas, para promover posteriormente a destituição do atual regime, diz a acusação.

"Não é a primeira vez que vemos isto mas era óbvio porque, quando eu cheguei a Luanda, o próprio Procurador veio à televisão dizer que eles estavam acusados de golpe de Estado -- acusação que no dia seguinte os ministros se abstiveram de fazer, dando uma versão mais recuada afirmando que eram acusados de atos subversivos o que me levou a dizer que eu só comparava isto aos tempos da luta contra o regime colonial fascista em que ativistas portugueses eram acusados de subversão e os patriotas angolanos eram acusados de terrorismo", recorda Ana Gomes.

A eurodeputada tem tomado várias iniciativas a favor dos ativistas de direitos humanos angolanos tendo recentemente proposto uma resolução sobre a situação em Angola que foi aprovada no Parlamento Europeu com 560 votos a favor.

"O que importa não é o que se passa fora mas sim que se passa dentro de Angola. O povo angolano quer decidir e a determinação que eu vi em muita gente em Luanda é de não mais se calar diante de um regime prepotente, ladrão e claramente antidemocrático e totalitário", frisou Ana Gomes, acrescentando que não espera qualquer tomada de posição do governo português em defesa dos jovens hoje acusados.

"Deste governo (português) não esperamos nenhuma atitude. Aliás, a única atitude que temos tido é a de total e abjeta subserviência. Portanto, infelizmente não espero nenhuma atitude. Para qualquer governo seria sempre difícil mas há formas discretas e outras menos discretas", afirma.

Ana Gomes volta a sublinhar as "repercussões do sistema angolano", que utiliza Portugal e as instituições e o sistema financeiro para a lavagem de dinheiro, através da compra de ativos portugueses "em esquemas obviamente fraudulentos", sem que seja feito o mais elementar controlo designadamente no quadro da diretiva contra o branqueamento de capitais da União Europeia.

"Por exemplo, a filha de José Eduardo dos Santos é uma 'Pessoa Politicamente Exposta' (PEP na sigla em inglês), como muitos outros elementos do regime angolano, que atuam com testas de ferro, ou não, e é escandaloso que o Banco de Portugal e a CMVM não atuem em cumprimento das diretivas europeias", acusa Ana Gomes.

PSP // PJA - Porto Canal com Lusa

Agressões, destruição e uma dezena de detidos em greve de taxistas em Luanda



Mais de uma dezena de indivíduos foram detidos hoje pela Polícia Nacional de Angola na sequência de uma greve de taxistas iniciada durante a manhã, em Luanda, e que resultou em agressões e destruição de viaturas.

Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia, inspetor-chefe Mateus Rodrigues, disse que a greve visava apresentar junto do Governo Provincial de Luanda algumas reclamações dos taxistas - transporte público informais -, como a falta de paragens e necessidade de subida das tarifas, devido aos vários aumentos dos combustíveis do último ano.

Segundo Mateus Rodrigues, a reclamação teve lugar, mas alguns taxistas alteraram a ordem e tranquilidade pública, tendo sido a polícia chamada a intervir.

"Nas suas ações partiram vidros de algumas viaturas, causaram danos materiais, agrediram algumas pessoas, causaram ofensas corporais, é neste segundo momento que a polícia é chamada", disse o porta-voz do comando provincial.

Mateus Rodrigues sublinhou que com a intervenção da polícia, foram detidas algumas pessoas, cujos aspetos processuais estão em curso para serem presentes a tribunal.

"Não podemos adiantar ainda o número de pessoas, porque as atividades continuam, neste momento temos equipas no terreno, mas é um número superior a dez elementos", frisou.
O responsável garantiu que a situação neste momento é calma, tendo já sido reposta a legalidade em várias zonas da capital angolana.

Para o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia, as declarações públicas dos líderes das duas associações de taxistas, demarcando-se da greve e reprovando o ato, contribuiu para a acalmia da situação e para o regresso à normalidade.

"Vamos continuar [no terreno] até que a situação esteja completamente calma, já não é a mesma situação do início da manhã, já conseguimos repor a legalidade em algumas zonas, mas ainda existem alguns pontos em que esses desordeiros persistem e nós estamos no encalço deles, até que cesse completamente a situação", disse.

Por sua vez, o presidente da Associação de Taxistas de Luanda, Manuel Faustino, disse à Lusa que tinha conhecimento da intensão de se realizar hoje a greve, embora não tivesse participação.

"Não colaboramos, não somos os promotores, mas temos conhecimento que haveria de haver e que está acontecer", disse Manuel Faustino, apelando aos taxistas para um encontro ainda hoje para ouvir as reivindicações e encontrar soluções.

Como resultado da greve, observou-se hoje, sobretudo durante a manhã, grandes aglomerados de pessoas nas paragens de táxis.

NME // PJA – Lusa, em Sapo

Activista Rafael Marques diz que acusação contra jovens angolanos demonstra desespero



Washington, 05 out (Lusa) -- O ativista angolano Rafael Marques disse hoje à Lusa que a acusação de "rebelião" contra os jovens detidos em Luanda desde junho revela "desespero das autoridades" angolanas.

"A acusação não me surpreende porque quando um regime age de forma tão errática pode-se esperar tudo. Esta acusação revela o desespero das autoridades", disse à Lusa o ativista angolano, que se reuniu hoje com a subsecretária de Estado norte-americana para os Assuntos Africanos, em Washington.

O Ministério Público angolano acusou 17 jovens da preparação de uma rebelião e de um atentado contra o Presidente da República, prevendo barricadas nas ruas e desobediência civil que aprendiam num curso de formação.

"Os arguidos planeavam, após a destituição dos órgãos de soberania legitimamente instituídos, formar o que denominaram 'Governo de Salvação Nacional' e elaborar uma 'nova Constituição'", lê-se na acusação, deduzida três meses depois das detenções e à qual a Lusa teve hoje acesso.

Em causa está uma operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando os jovens angolanos foram detidos em Luanda, em flagrante delito, durante a sexta reunião semanal de um curso formação de ativistas, para promover posteriormente a destituição do atual regime, diz a acusação.

Rafael Marques sublinha que a acusação de "rebelião" demonstra falta de orientação porque os envolvidos são "miúdos", como Laurinda Gouveia, sem qualquer tipo de poder político.

"Quando a Laurinda Gouveia (uma das jovens acusadas) é acusada de tentativa de rebelião, o poder do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) desapareceu. Aquilo que é o MPLA, aquilo que é o José Eduardo dos Santos e as figuras de poder desapareceram porque já não estão a acusar um general ou alguém com força política", disse.

"Com todo o respeito, estão a acusar miúdos. O poder perdeu toda a sua legitimidade, todo o seu verniz e o verdadeiro sentido do que é o poder quando acusa miúdos de tentativa rebelião porque estão a estudar manuais. Isto é uma forma de diversão. Já não sabem o que estão a fazer", frisou o autor do livro "Diamantes de Sangue".

Rafael Marques disse ainda à Lusa que expôs o caso dos presos políticos angolanos à administração norte-americana, sublinhando que a maior parte dos jovens detidos têm sido vítimas de tortura.

"Todos estes jovens têm cicatrizes no corpo, exceto o Osvaldo e outros três. São vítimas regulares de tortura policial. A Laurinda Gouveia foi espancada por vários comandantes da polícia. Há algum caso em que a Procuradoria-Geral da República levou para punir todos o que violaram os direitos desses jovens? Nunca o fez", denunciou Rafael Marques.

O ativista acrescentou que o sistema judicial angolano está controlado pelo poder político, provocando a degradação das instituições, o que pode significar um problema para o regime, no futuro.

"A politização e a militarização da Procuradoria-Geral da República coloca o regime numa posição de maior fragilidade. Quando se utiliza o sistema de justiça de forma tão arbitrária, tão bruta e tão tosca a pergunta que se coloca é: e amanhã quando esses indivíduos caírem do poder? Que sistema de justiça teremos para os proteger e garantir para que sejam julgados com dignidade", questionou Rafael Marques.

PSP // VM - Porto Canal com Lusa

Moçambique. DHLAKAMA GARANTE RETORNAR BREVEMENTE À VIDA NORMAL



Dhlakama encontra-se no mato, segundo ele, desde que “escapou a um ataque” no dia 25 de Setembro último, na província central de Manica, no qual há relatos de que 22 guardas seus e um civil perderam a vida.

Para o efeito, Dhlakama garantiu à STV, estação privada de televisão, que há negociações em curso com o governo para ele sair das matas, onde se encontra escondido.

O pronunciamento de Dhlakama surgiu no mesmo dia em que o Presidente da Republica, Filipe Nyusi, disse ter esperança que o governo e a Renamo voltarão em “muito pouco tempo” a dialogar, concretizando-se, desta forma, o desejo dos moçambicanos de se dialogar em prol da manutenção da paz no país.

Numa entrevista telefónica concedida aquela estacao televisiva, o líder da Renamo disse que 'não há guerra em Moçambique, mas, tambem, não há paz, porque a paz não significa apenas o calar das armas'.

Afirmou que volta ao convívio normal e vai continuar a ser 'o mesmo Dhlakama, porque Moçambique precisa de continuar a contar com um homem como ele'.

“Dentro em breve, estarei na cidade para continuarmos o nosso trabalho. Quero-lhe garantir que eu, entanto que Dhlakama, embora seja líder da rebeliao moçambicana e de tudo, não me vou vingar com a guerra, mas sim a luta pacífica com discursos, comicios, diálogo, palestras e tudo, entanto que um líder”, asseverou.

Comentando a respeito do 23/o aniversário da assinatura do Acordo Geral de Roma, em Itália, entre a Renamo e o Governo, assinalado ainda neste domingo, Dhlakama disse sentir-se muito emocionado, porque a paz trouxe a liberdade de um povo.

Nesta mesma senda, o líder da oposição destacou ainda a existência de um parlamento a funcionar, investimentos, economia de mercado, partidos políticos novos, a pena de morte abolida, aldeias comunais extinguidas, guias de marcha, campos de reeducação e tudo acabado.

“Esta democracia dependeu da luta e de sacrifício. Pelo menos há um bocado de liberdade de imprensa. Portanto, não tenho intenção de me vingar desses ataques. É claro que tenho de ser prudente: sou um ser humano, tenho família, tenho filhos. Os meus filhos, por eu estar no mato, ligam todos os dias a chorar”, disse.

A respeito dos preparativos do seu regresso a Maputo, Dhlakama disse ter sido criado um grupo, na capital moçambicana, o qual faz parte o chefe do seu gabinete, Mateus Augusto.

Este grupo está, segundo ele, a manter contactos com o governo e mediadores do diálogo político com o governo, que vinha decorrendo desde Abril de 2013, e que já estava na sua 114/a ronda, entre os quais Dom Dinis Sengulane, o académico Lourenço do Rosário e o padre Filipe Couto.

Foi o próprio lider da Renamo, que anunciou, em finais de Agosto, a suspensão do diálogo político com o governo, nao obstante o mesmo ter surgido a pedido da própria Renamo e com uma agenda elaborada por ela mesma.

Apesar de ter “escapado a um ataque”, Dhlakama garante que está bem e no mato e, pelo, que irá também convidar alguns jornalistas para testemunharem a sua saída das matas.

“Estou bem e preparado a continuar a trabalhar. É a missão que eu tenho. Deixem as pessoas falar, outras pessoas ouvirem a minha voz, que é o Dhlakama que está a falar e disposto como sempre. Não estou no mato a fazer a guerra. Isto, podem tirar mesmo da cabeça, tirar mesmo, não, não. Se eu quisesse, Moçambique já estaria a arder. Não há interesse para isso”, sublinhou.

Não obstando a avanços que o país registou durante estes 23 anos da paz, Dhlakama lamentou a existência ainda de níveis elevados de desemprego e do que chamou de “má governação, a política de exclusão social, injustiça, falta de transparência, tudo arrogância”.

Todavia, deixou uma “mensagem de tranquilidade”, afirmando que os melhores dias virão, sobretudo para a juventude.“Isto vai mudar. Dhlakama vai continuar a trabalhar e pacificamente. O diálogo, quando digo diálogo, diálogo com pontos concretos”, concluiu.

(AIM) Anacleto Mercedes (ALM)/FF

Moçambique. NYUSI DIZ TER ESPERANÇA QUE DIÁLOGO POLÍTICO RETORNE EM BREVE



Nyusi disse isto em Maputo, durante um culto ecuménico realizado no espaço da Praça da Paz, na capital do país, evento organizado pelo Conselho Cristão de Moçambique, para manifestar a sua solidariedade e vontade absoluta de viver em paz, orando pela paz e pelo processo de consolidação de paz efectiva.

O Presidente trouxe uma novidade aos crentes e a todos que participaram do culto, bem como à sociedade, em geral, quando afirmou que, desta vez, o diálogo será estendido a mais moçambicanos, o que passa por incluir os partidos políticos, sociedade civil e a religião, porquanto vontade de todos de participar do mesmo.

O diálogo, que começou em Abril de 2013, e que ja estava na sua 114 ronda, vinha decorrendo apenas com duas partes, nomeadamente o governo e a Renamo.

Afonso Dhlakama, lider da Renamo, anunciou em finais de Agosto, durante um comício realizado no centro da cidade de Quelimane, capital da província central da Zambézia, a suspensão do diálogo político com o governo, que já se arrasta há mais de dois anos.

O mesmo surgiu a pedido da propria Renamo, com uma agenda elaborada por ela mesma.

Num breve discurso, Nyusi explicou que a sua esperança deve-se aos últimos desenvolvimentos decorrentes dos contactos que tem vindo a manter com as diversas esferas sociais, há duas semanas, visando criar condições para que o diálogo seja efectivamente realizado.

Dos últimos desenvolvimentos que temos tido, temos a esperança de que dentro de muito pouco tempo voltaremos a falar. Por isso, queremos agradecer esta iniciativa, esta vontade que aqui é demonstrada e a presença ao mais alto nível das individualidades do país juntamente com o povo a darem o seu sinal e a manifestarem-se pela paz para os moçambicanos, disse Nyusi.

O estadista mocambicano destacou a necessidade do diálogo para a paz, porque está consciente que a guerra destrói infra-estruturas, incluindo estradas, casas, hospitais, e mata pessoas e animais, tal como a guerra de desestabilização que matou cerca de um milhão de moçambicanos e mutilou perto de cinco mil.

Todavia, durante estes 23 anos, os moçambicanos conseguiram recuperar boa parte dessas infra-estruturas e criar outras.

Participaram do culto ecuménico diversas individualidades, incluindo os dois antigos estadistas moçambicanos, Armando Guebuza e Joaquim Chissano.

(AIM) Anacleto Mercedes (ALM)/FF

Angola. “REGIME TOTALITÁRIO, LADRÃO, ANTIDEMOCRÁTICO E PREPOTENTE”



A eurodeputada socialista Ana Gomes disse hoje à Lusa que a acusação de “rebelião”, anunciada pelo Ministério Público angolano contra os 17 jovens detidos desde Junho, é reflexo do controlo do sistema judicial pelas forças no poder em Luanda. Onde está a novidade?

“Devo dizer que estava à espera. Desde que estive em Luanda e conversei sobre o assunto com o ministro da Justiça e com outros elementos do Governo fiquei convencida que eles iriam acusar, embora a acusação possa ser uma coisa ‘cavernícula’ na argumentação. Mas não me surpreendo porque a Procuradoria está completamente ao serviço do poder”, diz eurodeputada portuguesa que visitou Luanda no mês de Agosto.

O Ministério Público do regime acusou hoje 17 jovens da preparação de uma rebelião e de um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos (no poder há 36 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito), prevendo barricadas nas ruas e desobediência civil que aprendiam num curso de formação.

“Os arguidos planeavam, após a destituição dos órgãos de soberania legitimamente instituídos, formar o que denominaram ‘Governo de Salvação Nacional’ e elaborar uma ‘nova Constituição’”, lê-se na acusação, deduzida três meses depois das detenções.

Em causa está uma operação policial desencadeada a 20 de Junho de 2015, quando os jovens angolanos foram detidos em Luanda, em flagrante delito – segundo a tese do regime -, durante a sexta reunião semanal de um curso formação de activistas, para promover posteriormente a destituição do actual regime, diz a acusação.

“Não é a primeira vez que vemos isto mas era óbvio porque, quando eu cheguei a Luanda, o próprio Procurador veio à televisão dizer que eles estavam acusados de golpe de Estado — acusação que no dia seguinte os ministros se abstiveram de fazer, dando uma versão mais recuada afirmando que eram acusados de actos subversivos, o que me levou a dizer que eu só comparava isto aos tempos da luta contra o regime colonial fascista em que activistas portugueses eram acusados de subversão e os patriotas angolanos eram acusados de terrorismo”, recorda Ana Gomes.

A eurodeputada tem tomado várias iniciativas a favor dos activistas de direitos humanos angolanos, tendo recentemente proposto uma resolução sobre a situação em Angola que foi aprovada no Parlamento Europeu com 560 votos a favor.

“O que importa não é o que se passa fora mas sim que se passa dentro de Angola. O povo angolano quer decidir e a determinação que eu vi em muita gente em Luanda é de não mais se calar diante de um regime prepotente, ladrão e claramente antidemocrático e totalitário”, frisou Ana Gomes, acrescentando que não espera qualquer tomada de posição do governo português em defesa dos jovens hoje acusados.

“Deste governo (português) não esperamos nenhuma atitude. Aliás, a única atitude que temos tido é a de total e abjecta subserviência. Portanto, infelizmente não espero nenhuma atitude. Para qualquer governo seria sempre difícil mas há formas discretas e outras menos discretas”, afirma.

Ana Gomes volta a sublinhar as “repercussões do sistema angolano”, que utiliza Portugal e as instituições e o sistema financeiro para a lavagem de dinheiro, através da compra de activos portugueses “em esquemas obviamente fraudulentos”, sem que seja feito o mais elementar controlo designadamente no quadro da directiva contra o branqueamento de capitais da União Europeia.

“Por exemplo, a filha de José Eduardo dos Santos é uma ‘Pessoa Politicamente Exposta’ (PEP na sigla em inglês), como muitos outros elementos do regime angolano, que atuam com testas de ferro, ou não, e é escandaloso que o Banco de Portugal e a CMVM não actuem em cumprimento das directivas europeias”, acusa Ana Gomes.

Folha 8

Leia mais em Folha 8

Angola. ELES (FILHOS DO CHEFE DE ESTADO) COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA



O vice presidente da República, Manuel Vicente, o ministro da Casa de Segurança, Manuel Helder Vieira Dias Kopelipa, são donos dos pujantes supermercados Kero e da Pumangol e, agora, para gozar com a nossa cara, a filha do Presidente da República, uma vez mais, para demonstrar que a crise é só para o pobre, vai criar outra cadeia de supermercados, que vai crescer como cogumelos. Viva a monarquia.

Miguel Osório, um ex-qua­dro de topo da Sonae, é o administra­dor do novo projecto de retalho em Angola, da em­presária Isabel dos Santos e que vai operar a rede de hipermercados “Candando”, representando o fim da par­ceria com aquele grupo por­tuguês.

O grupo Contidis, que vai operar sob a marca “Candan­do” (abraço), foi apresentado em Luanda, em conferên­cia de imprensa, na semana passada, precisamente por Miguel Osório, que confir­mou tratar-se uma empresa detida a 100% pela filha do presidente da República, prevendo um investimento de 400 milhões de dólares (356 milhões de euros) nos próximos cinco anos.

Anteriormente tinha sido anunciada uma parceria en­tre Isabel dos Santos e o gru­po Sonae para a introdução de uma rede de hipermerca­dos em Angola.

A abertura da pri­meira loja “Can­dando”, de um total previsto de dez ao longo de cinco anos, deverá acontecer no primeiro semestre de 2016, em Luan­da, anunciou Miguel Osório. Com 10.000 metros quadrados, esta primeira loja ficará instalada no Shopping Avenida, em Luanda.

Tal como o Folha 8 profusamente noti­ciou, Isabel dos San­tos consumou agora o divórcio com o grupo Sonae. Mau gra­do ser a accionista maioritá­ria, Isabel dos Santos com­portava-se como única dona da empresa, exigindo que este negócio fosse desenvol­vido à imagem e semelhança dos ditames do regime. Isto é, ao estilo “quero, posso e mando”.

Como a Sonae, apesar de várias tentativas, não conse­guiu digerir as regras pecu­liares a quem, com a cober­tura do seu pai, não olha a meios para atingir os (seus) fins, Isabel dos Santos cha­mou a si a criação de mais uma empresa exclusivamen­te sua e assim nasce a cadeia de hipermercados “Candan­do”.

Para a dirigir foi buscar Mi­guel Osório que, indiferente às regras éticas de reserva perante a entidade patronal em que trabalhava, a Sonae, abriu o jogo a Isabel dos San­tos. A empresária agradeceu. E como nos negócios em geral, e nos com Angola em particular, não há ética nem reserva, ai está mais uma vi­tória para o clã Eduardo dos Santos.

Miguel Osório deu, em Luanda, uma conferência de imprensa em que anunciou a criação do grupo Contidis (100% propriedade de Isa­bel dos Santos) que, a partir de agora, vai pôr no terreno tudo o que a Sonae previra e estudara, mas com a marca “Candando”.

De acordo com Miguel Osó­rio, Isabel dos Santos planeia investir 256 milhões de euros durante os próximos cinco anos. O primeiro híper de­verá ser inaugurado no pri­meiro semestre de 2016, em Talatona, no shopping Ave­nida que – por mero acaso – também é propriedade da filha do presidente vitalício de Angola.

Miguel Osório, CEO da Con­ditis, afirma “que o novo ‘player’ vai apostar na cres­cente exigência do consumi­dor angolano, considerando que ainda existe, no mercado da distribuição moderna, um ‘défice de metro quadrado por habitante”.

Fazendo uso do que diria se estivesse a falar da marca “Continente”, Miguel Osório diz que a Conditis será uma referência no sector, e que a sua relação com os produto­res nacionais e a montagem de “infra-estruturas logísti­cas farão a diferença”.

Era só uma questão de… po­der

Sob o título “Divórcio litigio­so, por mútuo acordo ou (re)conciliação?”, o Folha 8 es­crevia no dia 26 de Abril de 2015: “A possibilidade, que em grande parte era uma realidade, da entrada dos hi­permercados Continente em Angola parece ter a certidão de óbito assinada. A Sonae e a Condis vão divorciar-se. Por mútuo acordo? Talvez não.”

Não mesmo. Isabel dos Santos, bem ao estilo de­mocrático do seu pai, só acredita na reconciliação desde que a outra parte faça o que ela quer. Sim­ples.

Para avançar com o projec­to, uma cópia fiel do Conti­nente e que foi surripiada à Sonae, nomeadamente através da contratação de dois pesos-pesados (Mi­guel Osório e João Seara) da equipa de Paulo Azeve­do, Isabel dos Santos criou a empresa Contidis.

Contidis? Exactamente. A anterior, a que fora consti­tuída em 2011 em parceria com a Sonae, chamava-se Condis. De há muito que a Sonae sabia que, a qual­quer momento, Isabel dos Santos iria dar o golpe fa­tal à parceria. Acreditava, contudo, que o faria de forma ortodoxa. Estava enga­nada. Nos negócios, a filha do presidente vitalício de Angola, não olha a meios para atingir os (seus) fins. É ela nos negócios e o pai na domínio do país.

Até mesmo quando, em Março passado, viu dois dos seus quadros de topo zarpar para Luanda, Paulo Azevedo ainda alimentou a esperança (já ténue) de que Isabel dos Santos ex­plicasse o que se passava. Esperou sentado.

A equipa de Paulo Aze­vedo verificou que que rainha santa Isabel (dos Santos) – dona de Angola (e de parte de Portugal) em parceria com o seu pai – apunhalou a Sonae pelas costas ao contratar esses dois quadros de topo da área de retalho que traba­lhavam nesta parceria, Mi­guel Osório e João Seara.

A dona da Condis nunca se preocupou com isso. É para o lado que dorme melhor. Aprendeu isso no berço. Com os milhões que tem, a que junta os milhões que precisar, Isabel dos Santos não dá ponto sem nó.

Chegou a falar-se que o Continente estaria de por­tas abertas no nosso país no Verão de 2015. A Sonae apostou forte. Constituiu uma equipa para acom­panhar a abertura dos hi­permercados mas, é claro, primeiro foi necessário engolir uns tantos sapos, o que fez esgotar os stocks de “alka seltzer” das pró­prias lojas. Depois segui­ram-se doses industriais de hóstias para tirar o pecado de negociar com um dos regimes mais corruptos do mundo.

Nada resultou. A estratégia de Isabel dos Santos foi se­guida com todo o rigor. O dinheiro compra tudo. E então quando o dinheiro não custou a ganhar…

O projecto que marcaria a entrada do maior empre­gador privado português no território angolano se­ria fruto de uma parceria estabelecida entre o grupo e, como não poderia dei­xar de ser e corresponde à Lei da Probidade do nosso país, a empresária e não se sabe quantas vezes milio­nária Isabel dos Santos.

A Sonae não pode alegar ignorância. Melhor do que ninguém, Paulo Azevedo sabia que quem sai aos seus não degenera. José Eduardo dos Santos é, para além de chefe do Governo, o presidente de Angola desde 1979, sem nunca ter sido nominalmente eleito, bem como do MPLA (par­tido que está no poder des­de a independência).

Hipermercados, super­mercados, lojas de con­veniência, lojas de pro­ximidade, restauração, para-farmácias, livrarias, vestuário, desporto, elec­trónica, centros comer­ciais, administração de imóveis, investimentos financeiros, telecomunica­ções, software e sistemas de informação e media são as áreas do império funda­do por Belmiro de Azeve­do, a Sonae.

Mas como tudo na vida, Belmiro de Azevedo é mui­to diferente do seu suces­sor dinástico, o filho Paulo Azevedo. O pai, que nem ao domingo descansava, dizia a mesma coisa em qualquer dia de semana. Hoje a estratégia é diferen­te. O filho diz às segundas, quartas e sextas uma coisa, às terças quintas e sábados outra coisa. E ao domingo vai à missa.

O acordo com a Condis – detida maioritariamente, como também não poderia deixar de ser e sempre res­peitando o espírito e a letra da tal Lei da probidade, por Isabel dos Santos – acon­teceu ainda em 2011, sen­do que o projecto previa a abertura de uma rede de hipermercados Continente nosso país.

João Seara era o homem forte do grupo para este projecto, sendo que deve­ria ocupar o cargo de di­rector executivo. A empre­sa nunca adiantou grandes pormenores, dizendo ape­nas que “não estava de­finida nenhuma data em concreto, mas tanto a So­nae como a Condis estão a envidar todos os esforços para proceder à abertura da primeira unidade o mais breve possível”.

Neste típico ziguezaguear chegou-se a uma previ­são que parecia ter fun­damento: Verão de 2015. No terceiro trimestre do ano passado já se falava de equipas mandatadas para começar a definir as gamas de produtos que seriam enviados para Luanda e que se juntariam a outros aqui produzidos. A própria Condis tinha em marcha a construção de uma infra­-estrutura que acolheria as instalações do hipermerca­do. A entrada da Sonae em Angola sofreu alguns con­tratempos, explicando-se assim a relutância do gru­po português em avançar com uma data concreta. A internacionalização da empresa para o nosso país está em desenvolvimento desde 2012, ano em que a Sonae e a ANIP assinaram um contrato de investi­mento no valor de 100 mi­lhões de dólares, com vista à abertura de cinco hiper­mercados.

Todos os atrasos pode­riam ter a ver com o facto de, durante algum tempo, a Sonae ter tido dificulda­des em engolir as regras da corrupção angolana. Daí as coisas não terem corrido tão bem como o inicial­mente previsto, isto por­que Paulo Azevedo anun­ciara a 17 de Março de 2011 que a entrada da empresa no mercado angolano po­deria acontecer já nesse ano.

Fernando Ulrich, presiden­te do BPI, banco presente em Angola desde 1996, poderá ter tido um papel importante ao garantir a pés juntos que em Angola não há corrupção. Ao ouvi­-lo dizer que “o BPI nunca pagou nada a ninguém para obter nada em troca como nem nunca ninguém nos pediu nada para fazer o que quer que fosse em tro­ca”, Paulo Azevedo (Bel­miro não foi nessa) sorriu e mandou avançar as suas tropas.

Em abono da tese de Fer­nando Ulrich, recorde-se que o procurador portu­guês que em tempos inves­tigava o caso “BES Angola” ingressou no Banco Inter­nacional de Crédito (BIC), presidido pelo cavaquista Luís Mira Amaral, uma instituição de capitais luso­-angolanos que, mais uma vez, é dominada pela tal impoluta cidadã Isabel dos Santos, que é filha do não menos impoluto cidadão José Eduardo dos Santos.

Paulo Azevedo reeditou a velha teoria de rapidamen­te e em força para… Ango­la. Falhou na rota.

É pena. Como muitos an­golanos (muitos mesmo) vivem na miséria e rara­mente sabem o que é uma refeição, estavam à espera de fazer incursões ao Con­tinente, ou melhor, aos caixotes do lixo do Conti­nente, e lá encontrar restos quase novos de comida.

A Sonae assumiu que não é uma empresa filantrópica e, por isso, negoceia com os donos do poder e, no caso de Angola, do país. E, como sempre, é muito mais fácil negociar com dirigentes vitalícios do que com os que resultam de uma vida democrática. Aliás, a família Azevedo gosta muito de viver em democracia. Já se os outros vivem em ditadura, o problema é deles. O que importa é haver gente com muitos dólares. E o regime tem fartura dessa espécie.

Folha 8 digital, 03 outubro 2015


Mais lidas da semana