domingo, 29 de novembro de 2015

O PORTUGUÊS QUE DEU A VOLTA AO MUNDO ATÉ TIMOR E NUNCA MAIS VIAJOU



António Sampaio, da agência Lusa

Vato Boro, Timor-Leste, 23 nov (Lusa) - Em outubro ou novembro de "1964 ou 65", não se lembra bem, José Serra, saiu do Fundão, deu a volta ao mundo e, mais ou menos um mês depois, chegou a Timor-Leste, de onde nunca mais saiu.

Avô Serra, como é conhecido por aqui, completou 85 anos em outubro e é o decano português em Timor-Leste, com 50 anos de vida no território, alguns dos quais marcados por meses no mato a fugir à guerra civil timorense e, posteriormente, aos ataques indonésios.

Depois de fazer 15 mil quilómetros, desde a pequena aldeia de Joanas, Castelo Branco, José Serra nos últimos 50 anos praticamente não saiu do corredor de terra de 100 quilómetros entre Díli e a fronteira com a Indonésia, a ocidente.

"Cheguei a Timor dia 13 ou 14 de dezembro. Não tinha nada a ver com o Fundão. Eu estava em São Vicente da Beira, Joanas e já cá tinha um irmão. Ele vivia menos mal e como lá em Portugal também se vivia muito mal, vim", contou à Lusa.

O irmão, que no início o tinha recebido muito bem, começou a tratá-lo mal, pelo que decidiu 'independentizar-se', pedindo ajuda ao então governador, Alves Aldeia, para lhe arranjar algumas cabeças de gado para poder viver.

"Deu-me 200 canos para puxar a água, deu-me cinco contos para tratar o café e 25 cabeças de gado. Tive que ir buscar o gado a Díli. Demorei uma semana a pé para voltar", recorda.

"Com as 25 cabeças cheguei a ter 400. Estava todo contente. E então meteu-se a filha da mãe da guerra. Chegou 1974 e começaram os partidos. Em 1975 já não pude fugir", lamenta.

Até visitar Díli tem sido algo pouco comum para o 'avô', que prefere a tranquilidade do topo do monte em Vato Boro, um pequeno 'suco' de 10 aldeias a oito quilómetros da vila de Maubara, melhor medidos em 35 minutos de carro aos solavancos pela estrada, que outrora, ligava a capital à fronteira.

Em 1975 e nos anos seguintes chegou a pensar em fugir, escapando à guerra civil e depois à ocupação indonésia, mas não conseguiu: o território estava praticamente fechado.

Chegou a ter viagem marcada, passaporte pronto e sapatos comprados para ir lá já neste século, aproveitando o programa do Governo português, Portugal no Coração, que ajudava a que portugueses fora de Portugal há muito tempo fossem fazer uma viagem à terra natal.

"Tive medo. Tive medo de não voltar", conta.

"Eu estou muito contente com a independência. Mas se eu ainda pudesse andar e andar, queria ir ainda a Portugal. Queria ir mesmo a Portugal. Todos me querem levar, mas eu digo: se for, já não volto, estou velho. E fico triste por deixar aqui todos os que ajudei a criar", admite.

Pode ter ajudado ao medo o infortúnio dos dois que em Timor-Leste beneficiaram do programa: um morreu em Portugal poucos dias depois de chegar, o outro morreu em Timor-Leste menos de um mês depois de regressar.

Até os sapatos correram mal: para um homem que há 50 anos que anda descalço ou de chinelos, os sapatos duraram umas dezenas de metros nos pés.

Hoje, apesar das melhorias dos últimos anos, continua a viver em condições pobres, o que não o impedem de ajudar os vizinhos que ali fizeram casa, à sua volta, mercê das vendas de fruta e animais que faz para o Hotel Timor em Díli.

"Esta semana tive azar. O carro chegou lá baixo mas á entrada de Díli avariou", recorda.

Mas Serra parece pouco preocupado, recordando momentos mais difíceis e o rádio "filipe" que tinha enterrado na terra, e que mesmo sem antena deixava acompanha as notícias de Portugal.

"Mas eu sou português e nunca troquei a minha camisa por outra. Sou sempre português. E quem quer ser um bom português tem que vir para aqui. Porque aqui têm mais amizades aos portugueses, mais saudades", disse.

O seu gado ajudou a alimentar os soldados e o seu rádio serviu para dialogar com os indonésios que lhe diziam que ele era o embaixador de Portugal em Maubara.

"Ó senhores polícias e militares, não digam isso. Sou português, mas sou mais de Timor. Os embaixadores portugueses não andam assim descalços. Têm boa gravata, bom casaco e bons sapatos, não andam esfarrapados como eu", respondia.

"E ele dizia que eu lá tinha um rádio e eu dizia: tenho um rádio mas o senhor tem que me dar dinheiro para comprar a pilha, para eu ouvir Portugal. E eles pousavam as armas e bebiam café", conta.

// APN - Lusa

CINEASTA RUI SIMÕES TRABALHA TRÊS FILMES EM MOÇAMBIQUE



O cineasta português Rui Simões está a trabalhar três novos filmes em Moçambique, um como realizador, sobre a Casa dos Estudantes do Império, e outros dois em coprodução em obras do angolano Zezé Gamboa e do moçambicano Sol de Carvalho.

"Temos estes filmes nos próximos tempos e isso faz com que Moçambique se torne mais importante do que outro lugar e é óbvio que a minha vida mudou por causa deste país onde nunca tinha estado", disse em entrevista à Lusa Rui Simões, durante uma visita a Maputo, onde apresentou cinco obras da sua autoria, todas abordando temas africanos.

Além da mostra, intitulada Cruzamentos Cinematográficos, iniciada a 18 de novembro e que terminou no sábado em Maputo e Inhambane, o realizador aproveitou para avançar no registo documental da sua obra "A Casa", sobre os antigos estudantes da Casa dos Estudantes do Império, que este ano comemora cinco décadas, e por onde passaram alguns dos principais opositores africanos ao colonialismo português.

"Aproveitei para entrevistar individualidades que passaram pela Casa dos Estudantes do Império e que foram grandes dirigentes de Moçambique e assim farei noutros países, tentando enriquecer essa Casa, pela qual tenho um carinho especial", assinalou.

Além de "A Casa", Rui Simões desenvolve, através da sua produtora, Real Ficção, em parceria com a Promarte, de Sol de Carvalho, dois projetos em Moçambique, e o mais adiantado é um filme do angolano Zezé Gamboa, que já tem financiamento para a preparação e escrita.

Trata-se de uma obra de ficção, avançou, baseada na história real de um antigo diplomata francês em Maputo que se acidentou de moto, numa viagem com a sua namorada a caminho de Inhambane.

"Eles ficaram um bocado perdidos e depois vieram as inseguranças e incompreensões, num filme sobre a relação com o outro, com dois personagens fortes, dois atores franceses que esperamos que sejam bastante importantes", indicou o realizador.

Já o filme de Sol de Carvalho encontra-se ainda em fase de discussão e deverá abordar a guerra, não a luta anticolonial ou o conflito interno em Moçambique, mas uma abordagem mais geral a este tema e em particular a reinserção dos combatentes na sociedade mais os seus traumas.

Durante os Cruzamentos Cinematográficos, o realizador trouxe a Maputo e Inhambane os seus filmes "Bom Povo Português", "Ole António Ole", "Ilha da Cova da Moura", "Kola San Jon é Festa di Kau Berdi" e "Guerra ou Paz", e também o início de um projeto alternativo de exibição, num momento em que "o cinema está a passar uma crise muito grande" e em que obras como as de Rui Simões são difíceis de programar numa sala, "porque o rendimento tem de ser urgente".

Aproveitando a parceria com Sol de Carvalho, Rui Simões acabou por "inventar os canais" e exibir cinema de "uma forma menos convencional", uma vez que diz recusar-se a alterar os seus filmes ou render-se a facilidades.

"Como o cinema mudou muito e queremos que os nossos filmes sejam vistos, temos de fazer alguma coisa por eles", defendeu o autor, que espera dar continuidade a estes Cruzamentos Cinematográficos já em março, trazendo a Moçambique e no mesmo conceito filmes de outros cinco realizadores e por ele produzidos.

Como há matéria-prima disponível, o objetivo é levar este projeto a outros lugares, a começar por Portugal, havendo já o desejo de o replicar em Angola, Goa e Brasil, neste caso cruzando obras de autores portugueses e brasileiros.

"É uma nova forma de exibição, forçando um pouco o mercado que nada faz por nós, porque nem na praça estamos, nem na rua!", alertou Rui Simões, abrindo caminho para novos mundos antes de ser "riscado do mapa".

HB // EL - Lusa

Angola. Belarmino confirma haver no regime gente solidária com a ação terrorista



COMENTARISTA DO REGIME COM DECLARAÇÃO INTERESSANTE

O comen­tarista de plantão do regime, Belarmino Van-Dú­nem, sobre os ataques terroristas em Paris, que fizerem mais de uma centena de mor­tos, fez uma comparação hilariante e que não pode, numa sociedade civilizada, passar como se não tives­ses sido feita.

Diz Belarmino Van-Dúnem que os membros do Estado Islâmico respondem desta maneira face aos ataques da comunidade internacio­nal nos seus respectivos países.

Ouvindo o que diz este comentarista bajulador é caso para dizer que os ex­tremistas têm legitimidade porque a Europa Ocidental e os EUA invadem e bom­bardeiam os seus países, esquecendo-se de dizer que também abre portas à recepção dos seus refugia­dos.

Importa, contudo, atentar que sssa declaração, que pode ser considerada ir­responsável, legitima os radicais da República De­mocrática do Congo, Costa do Marfim, Guiné-Bissau e da República do Congo­-Brazzaville a virem colo­car bombas em Angola e espalhar o luto e a dor ao nosso já sofrido povo.

Como a bajulação tem me­mória curta, importa reme­morar Belarmino Van-Dú­nem, que foram as tropas angolanas que entraram no ex-Zaire (actual República Democrática do Congo), que derrubaram Mobutu Sesse Sekou, para coloca­rem no poder Kabila pai.

Também foram as FAA, que entraram na Repúbli­ca do Congo Brazzaville e destituíram um presidente democraticamente eleito, Pascal Lissouba, para re­colocar no poder o ditador, Dennis Sassou Nguesso.

Tal como foram as mes­mas tropas que invadiram a Costa do Marfim para ajudar Laurent Gbagbo a continuar a guerra no seu país para se perpetuar no poder, recusando-se a cumprir o resultado eleito­ral e, ainda, na Guiné-Bis­sau, a inspirar um golpe de Estado, por apoio excessi­vo a Carlos Gomes Júnior, com a entrada de material bélico e militares, sem co­nhecimento dos outros ór­gãos do poder guineense.

Ora na lógica de Belarmi­no, os radicais destes paí­ses podem vir a Angola e começar a colocar bombas a torto e a direito, porque as tropas do regime foram invadir os seus países.

É isso, caro Belarmino? Às vezes a bajulação cega leva a darmos tiros nos pró­prios pés.

Laurent Gbagbo pôs o povo a votar, mas como não explicaram tudo, ele esqueceu-se (como fez em Angola o seu grande amigo José Eduardo dos Santos) de pôr os mortos a votar. Vai daí, perdeu. Per­deu mas não saiu.

Relembre-se a Belarmino Van-Dúnem, mas não só, que Laurent Gbagbo or­denou a “requisição” das agências no país do Ban­co Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), ao que o presidente eleito, Alassane Ouattara, respon­deu ordenando o seu “en­cerramento”.

O pessoal das agências do BCEAO foi requisitado para “assegurar os serviços ordinários” dos estabeleci­mentos, lê-se num decreto presidencial assinado por Gbagbo, que se autopro­clamou presidente.

Acrescente-se que Laurent Gbagbo não só se autopro­clamou presidente como recebeu o apoio, sobretu­do militar, dos seus amigos mais democratas, casos de Eduardo dos Santos e Ro­bert Mugabe.

Alassane Ouattara, o pre­sidente reconhecido pela comunidade internacional mas que se arriscou a ser presidente de coisa nenhu­ma, reagiu a esta medida qualificando-a de “ilegíti­ma, ilegal e, como tal, sem efeito” e anunciou “o en­cerramento” das agências do banco regional no país.

O decreto de Laurent Gba­gbo foi conhecido depois de Philippe-Henry Dacou­ry-Tabley, governador cos­ta-marfinense do BCEAO, considerado um próximo do presidente cessante, ter sido forçado a demitir-se. O governador foi acusa­do de ter desrespeitado as ordens da União Económi­ca e Monetária da África Ocidental, que considerou Ouattara o presidente le­gítimo, e ter autorizado o levantamento de cerca de 90 milhões de euros para o regime de Gbagbo.

No caso de Joseph Kabila, relembre-se que ele não acreditou na capacidade do seu exército, e mui­to menos nas forças da ONU, para fazer frente ao general Laurent Nkunda. Acreditou, contudo, na ca­pacidade bélica do maior e melhor exército da região, o de Angola. E este, pela calada da noite e entre os devaneios de uma solução política sugerida pelos en­viados de Paris e Londres, Bernard Kouchner e David Miliband, mandou para Kinshasa o melhor do seu exército.

O general Nkunda foi obrigado a perceber que as FAA não são as FARDC - Forças Armadas da RDCongo. Kabila para se defender do lobo Nkun­da pediu ajuda ao leão angolano. E esse leão der­rotou o lobo e quando en­tender vai comer o Kabila.

Isto se, interpretando a tese de Belarmino Van-Dúnem, não resolveram vir para cá fazer uns atentados terro­ristas, legitimados pela teo­ria de que a política a se­guir deve ser a de olho por olho, dente por dente. Se o fizerem ainda vamos ver os “belarminos” da praça ficar cegos e desdentados.

Folha 8 digital

GUINÉ EQUATORIAL GANHARÁ ESCRITÓRIO DA UNAIDS



A Guiné Equatorial contará em breve com um escritório do Programa das Nações Unidas do HIV/aids (Unaids), após o acordo assinado em Malabo, capital do país, pelo presidente Teodoro Obiang.

O Escritório de Informação e Imprensa da Guiné Equatorial disse nesta sexta-feira em seu site que esse pacto "trata sobre o estabelecimento da Unaids na Guiné Equatorial", país da África Ocidental que, segundo dados oficiais de 2012, onde "entre três e seis a cada 100 habitantes estão infectados pelo HIV".

O acordo contempla a expedição de vistos para os membros do escritório.

O secretário-geral adjunto da ONU e diretor-geral da Unaids, Michel Sidibé, assinou o acordo pelas Nações Unidas.

O governo da Guiné Equatorial, que em 2002 destinou US$ 7,15 milhões para o Programa de Luta contra a Aids, admitiu mais de uma vez que há um progressivo aumento no número de casos de aids no país nos grupos mais vulneráveis: jovens e mulheres grávidas.

Em outubro de 2012, a televisão estatal informou que pelo menos entre 30 mil e 60 mil pessoas estavam infectadas pelo vírus da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (aids) no país.

Obiang, que se mostrou favorável a criar um carteira que identifique os portadores do vírus, disse em um de seus discursos que "a realidade é que, em cada dez pessoas, há uma ou duas afetadas".

Terra

Chefe tradicional da Guiné-Bissau contra "tentativa de apagar história" da presença colonial



Lúcio Rodrigues, um conhecido chefe tradicional da região de Cacheu, norte da Guiné-Bissau está contra a "tentativa de apagar da história" do país a presença da colonização portuguesa que diz ser "mais que evidente".

Antigo deputado ao Parlamento e agora régulo (chefe tradicional), Lúcio Rodrigues disse à Lusa que não entende como é que na Guiné-Bissau "as estátuas de figuras da colonização são atiradas ao esquecimento", quando nos outros países são preservadas, referiu.

Estátuas de figuras como Diogo Cão, Nuno Tristão, Teixeira Pinto, Honório Barreto, entre outras, estão amontoadas no pátio do antigo forte de Cacheu depois de terem sido arrancadas de diferentes lugares do novo Estado independente em 1973.

"É uma ignorância total", defende Lúcio Rodrigues, que afirma que embora o país seja independente "a história não se apaga" pelo que é pela reposição das estátuas nos seus lugares.

"O processo até à independência passou pela colonização, pelo comércio dos escravos. Faz parte da nossa história. É esta ignorância total que impera nas nossas cabeças que têm que ser lavadas", observou o régulo Rodrigues.

Defende ainda que aos alunos deve ser ensinada essa parte da história do país, para que possam saber, por exemplo, que Nuno Tristão foi morto no rio Cacheu, pelos felupes, um dos grupos étnicos da Guiné-Bissau.

Mesmo que tenham sido "matadores, ditadores, pacificadores", a memória dos promotores da colonização da atual Guiné-Bissau deve ser preservada, indicou o responsável tradicional.

"Seja lá que o tenham sido, fazem parte da nossa história", insistiu Lúcio Rodrigues, para quem atualmente o país também os seus "matadores e ditadores" que não serão apagados da história.

Sobre o facto de ser um chefe tradicional a defender a preservação da presença colonial, Lúcio Rodrigues diz pensar pela própria cabeça e ainda ser "um profundo respeitador dos elementos da história".

A cidade de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, acolhe desde sexta-feira até domingo, o quarto festival cultural Caminhos de Escravos, para evocar o facto de milhares de escravos terem embarcado no porto local para as américas.

Segundo Lúcio Rodrigues seriam entre três mil a três mil e quinhentos escravos guineenses e de outros países da Costa Ocidental africana por cada navio negreiro que zarpou de Cacheu.

MB // EL – Lusa

PR de Cabo Verde convoca conselho da República para marcar eleições legislativas



O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, vai ouvir, no próximo dia 08 dezembro, o Conselho da República e os representantes dos partidos com vista à marcação das eleições legislativas de 2016.

"Com vista a ouvir os membros do Conselho da República sobre a atual situação política nacional e internacional e sobre a data das próximas eleições dos deputados da Assembleia Nacional, convoquei este órgão constitucional e político de consulta do Presidente da República para o dia 08 de dezembro", escreveu Jorge Carlos Fonseca, numa mensagem na sua página pessoal na rede social Facebook.

Inicialmente, o chefe de Estado cabo-verdiano tinha anunciado 07 de dezembro como a data provável para a reunião do Conselho da República, órgão que integra os presidentes da Assembleia Nacional, Tribunal Constitucional e Conselho Económico Social e ambiental, o primeiro-ministro, o Provedor de Justiça, anteriores presidentes da República e cinco cidadãos escolhidos pelo chefe de Estado, tendo em conta "as sensibilidades políticas com expressão parlamentar", e um em representação das comunidades cabo-verdianas.

A reunião do Conselho da República decorrerá na tarde do dia 08 de dezembro e o Presidente ouvirá durante a manhã, sobre o mesmo assunto, os partidos políticos inscritos no Tribunal Constitucional.

As eleições legislativas, que deverão ocorrer entre 14 de fevereiro e 10 de abril, abrem o ano eleitoral em Cabo Verde, que até final de 2016 realiza ainda eleições presidenciais e locais.

O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) lidera o Governo do país, existindo ainda outros dois partidos com representação parlamentar: o Movimento para a Democracia (MpD), maior partido da oposição, e a União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID).

CFF // ZO - Lusa

Documentário português premiado no Festival Internacional de Cinema da Praia



O filme "Fim de um mundo?", dos portugueses Jorge Murteira e Cláudia Freire, ganhou o prémio de melhor documentário curta do Festival Internacional de Cinema Plateau, que termina este fim de semana na cidade da Praia, Cabo Verde.

O documentário "Fim de um Mundo?" retrata, através de testemunhos de quem lá vive e dos que emigraram e todos os anos regressam, as mudanças ocorridas nas últimas décadas em Paredes de Coura, outrora conhecida como Celeiro do Minho.

O documentário integra a exposição "Impressão Digital em Terras de Coura" recentemente inaugurada no museu local.

Numa mensagem na sua página na rede social Facebook, Jorge Murteira, que não esteve presente no festival, mostrou-se surpreendido e "muito feliz" com o prémio, considerando que o facto de a distinção ter acontecido em Cabo Verde "dá um maior sentido e alegria a tudo isto".

A II edição do Plateau - Festival Internacional de Cinema da Praia distinguiu ainda os filmes "Zenaida", uma coprodução entre a Grécia e Cabo Verde (Melhor Ficção Longa), "O tempo dos orixas", do Brasil (Melhor Ficção Curta) e "Do outro lado do Atlântico", do Brasil (Melhor Documentário Longa).

O prémio revelação foi para o filme "Hoje", da cabo-verdiana Artemisa Ferreira, e o júri atribuiu ainda uma menção honrosa à pelicula "Casa de Lata", dos também cabo-verdianos Ângelo Lopes e Lara Plácido.

Quatro filmes portugueses estiveram em competição na segunda edição do Festival Internacional de Cinema da Praia, que decorreu desde 19 novembro com uma seleção de duas dezenas de peliculas, na sua maioria lusófonas.

Portugal esteve representado na competição pelos documentários "Fim de um Mundo?", de Cláudia Freire e Jorge Murteira (Paredes de Coura), "Eugénio de Andrade, lembrado pelos amigos" de Fernando Faria Paulino (Maia), "O Barbeiro Guitarrista", de André Almeida Rodrigues (Matosinhos) e pela curta-metragem "Chegar a Casa", de Ibrahim Kanara, pseudónimo de Santiago Macias (Mértola).

Fora de competição e a abrir o festival foi exibido o filme "A Ilha dos Escravos", do realizador português Francisco Manso, um drama lançado em 2008 conjuntamente pelo Brasil, Cabo Verde, Espanha e Portugal, numa adaptação livre do romance "O Escravo", escrito em 1856 por José Evaristo de Almeida, um português desterrado em Cabo Verde.

Cabo Verde participou com cinco filmes, incluindo o premiado documentário hispano-cabo-verdiano "Tchindas", que retrata os preparativos do Carnaval do Mindelo, São Vicente, a partir da história do transexual Tchinda Andrade.

O documentário, dos espanhóis Pablo García Pérez de Lara e Marc Serena, estreou-se no festival Outfest Los Angeles 2015, nos Estados Unidos, tendo sido distinguido com o Grande Prémio do Júri desse festival.

O festival contou ainda com participações do Alemanha, Áustria, Brasil, Estados Unidos e Moçambique.

O Festival de Cinema da Praia é uma organização conjunta da Câmara Municipal da Praia, Ministério da Cultura, Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde e a Txan Film&, Associates.

CFF(RYPE) // ZO - Lusa

Portugal. ALERTA CONTRAPODERES



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Custou, mas nasceu! O novo Governo só foi possível porque o regime democrático constitucional português deu suficientes sinais de amadurecimento, o povo manteve a serenidade e a atenção necessárias e porque houve atores políticos com valores e coragem.

O presidente da República (PR) devia ter agido com forte preocupação de contribuir para a estabilidade do país e para ajudar a uma solução governativa nova, desde que ela surgiu com apoio parlamentar maioritário, como determina a Constituição da República. Infelizmente não o fez. Cavaco Silva e a Direita a que pertence agiram em sintonia. Sem pudor, tudo fizeram para transformar o resultado das eleições legislativas em perigosa crise política e impedir a formação do novo Governo. O atual Executivo não é, pois, filho de uma crise política, mas sim da capacidade do regime e do povo para resistirem à "institucionalização" dessa mesma crise.

A Direita mais retrógrada e o seu presidente continuarão a conjurar todos os perigos e diabos à solta, nos planos interno e externo; agora, para despertar e organizar contrapoderes. Os "esclarecimentos" pedidos a António Costa e aos partidos da Esquerda tinham por objetivo complicar o processo e, acima de tudo, identificar campos e conteúdos potenciais da ação de poderes, "forças de bloqueio", que possam perturbar o Governo, ou mesmo destruí-lo. Qual a racionalidade do "pedido de esclarecimento" do PR relativo ao setor financeiro? Será que perante novos buracos que entretanto venham a público, se colocará ao lado de interesses egoístas de banqueiros sem escrúpulos?

Cavaco Silva, que nunca se preocupou com a falta de rigor e ética do Governo PSD/CDS, e que propagandeia falsos êxitos das políticas austeritárias, ficará à espreita de qualquer dificuldade ou escorregadela do novo Governo para o perturbar e atacar.

A Assembleia da República (AR) é agora o centro fundamental da vida política, o local obrigatório de discussões, conflitos e negociações influenciadoras da governação. É uma realidade nova que exige tempo de aprendizagem. A Direita, como vem demonstrando, vai tentar provocar chicana política, furtando-se ao confronto democrático. Que aproveitamento estará Cavaco Silva disposto a fazer disso?

Na tomada de posse do Governo, o PR desconsiderou o papel da AR, ao mesmo tempo que relevou, mais uma vez, o papel da Concertação Social (CPCS). Porquê? Ele sabe muito bem que o CPCS não é um segundo Parlamento e muito menos um Parlamento autónomo. O CPCS é, no regime em que vivemos, uma relevante instituição "cuja principal atribuição é a promoção do diálogo e da concertação social". Os seus acordos são importantes em função da representação que os suporta e até pela simbologia que adquirem, mas não são leis. E jamais se podem sobrepor às decisões da AR. Os compromissos que é preciso trabalhar continuamente no mundo do trabalho, para que haja desenvolvimento económico e social passam pelo CPCS, mas incluem também a negociação coletiva - essa, sim, com força de lei à luz da Constituição da República e das normas internacionais -, o diálogo e negociação permanentes, nomeadamente nas empresas e setores de atividades. É necessário encetar um ciclo de novas práticas.

Cavaco Silva, ratão da política, sabe que a relação de forças no CPCS é mais favorável aos objetivos da Direita e de grandes interesses económicos e financeiros, e logo vê ali um possível contrapoder. Não está de forma alguma assegurado, mas o tiro pode sair-lhe pela culatra: hoje, a esmagadora maioria dos empresários portugueses pouco ou nada têm a ver com os objetivos prosseguidos pelos herdeiros de um capitalismo comprometido com o fascismo que agora agita os espantalhos dos excessos do PREC; há muito partir de pedra entre os "parceiros sociais" ao longo dos últimos anos que pode gerar aproximações e até compromissos novos; o Governo é o primeiro municiador e condutor (para o mal e para o bem) da Concertação Social e pode, se nisso se empenhar, trazer dinâmicas e conteúdos inovadores àquele importante espaço de diálogo e negociação.

Fiquemos atentos não apenas à ação do Governo, mas também à organização e ação dos contrapoderes.

Portugal. “MARCELO ESTÁ NA LINHA DIRETA DE CAVACO E FOI SEMPRE SEU PROTEGIDO”



A demora na decisão por parte de Cavaco Silva leva o candidato presidencial do PCP a salientar que “um país adiado é um país penalizado”.

Para Edgar Silva, Cavaco Silva “não conseguiu, de facto, esconder o desagrado ao dar posse a um Governo que contraria a sua vontade”.

A opinião do candidato do PCP às presidenciais surge numa entrevista dada ao Jornal de Notícias em que Edgar Silva critica Cavaco Silva, sugerindo que usou uma “forma ameaçadora e chantagista”, mas também Marcelo Rebelo de Sousa, que vê como figura de continuidade em relação ao legado do atual Presidente da República.

Sobre Marcelo, diz Edgar Silva que “não podemos permitir que as portas da esperança que agora se abrem venham novamente a fechar-se com um presidente que trave a reversão de um conjunto de políticas injustamente aplicadas ao país”.

O candidato do PCP diz mesmo que se o sucessor de Cavaco Silva “for seu seguidor”, corre-se o risco de uma “retaliação ao progresso social”. E assume que o alvo da sua crítica é Marcelo Rebelo de Sousa.

Sobre o antigo comentador televisivo, diz Edgar Silva que “é o candidato da Direita e da extrema-direita. Coloca-se na linha direta de Cavaco Silva e foi sempre seu protegido. Não por acaso foi seu conselheiro”, afirma.

Notícias ao Minuto

Portugal. “EXPETATIVAS NO GOVERNO NÃO PODEM SER ENORMÍSSIMAS FRUSTRAÇÕES”



O secretário-geral da CGTP garante que não vai deixar de lutar por haver um Governo de Esquerda.

Esta semana tomou posse um Governo do Partido Socialista, apoiado à Esquerda, e com o qual Arménio Carlos pretende estabelecer ligações, de modo a dialogar e negociar e com o intuito de que as promessas feitas aos portugueses “não se transformem em enormíssimas frustrações”.

Em entrevista ao jornal Público, o secretário-geral da CGTP revela que “é fundamental a participação cívica dos trabalhadores e dos cidadãos na rua para exprimirem a sua vontade de mudança e, simultaneamente, para influenciarem essa mudança”, explicou, como justificação de, mesmo após ser empossado o Governo de Costa, a entidade ainda manter a manifestação já agendada.

Na opinião de Arménio Carlos, é necessário ter atenção aos “lobbies [que] se estão a movimentar fortemente para condicionar e constranger a intervenção do Governo”, referindo-se aos “grandes grupos económicos e financeiros” que foram “os grandes beneficiados das políticas nos últimos anos”.

“As expectativas em relação a este Governo terão de se traduzir em termos práticos. Por isso queremos intervir atempadamente para que essas expectativas se concretizem em mudanças políticas e para que amanhã não se transformem em enormíssimas frustrações”, esclareceu.

“Este Governo precisa de perceber que estamos cá não para criticar por criticar, nem para protestar por protestar”, ressalvou, mostrando que “o combate à precariedade tem de estar associado a medidas de fundo que têm que ver com a estabilidade e a segurança no emprego e com valorização das carreiras, das competências e das qualificações”.

Notícias ao Minuto

Portugal. António Costa reafirma em Bruxelas "o óbvio" compromisso de Portugal com UE



O primeiro-ministro, António Costa, indicou à chegada ao seu primeiro Conselho Europeu, em Bruxelas, que fez questão que a sua primeira deslocação "fosse precisamente à União Europeia", para reafirmar "o óbvio" compromisso de Portugal com o projeto europeu.

"Fiz questão que esta minha primeira deslocação ao exterior fosse precisamente à União Europeia para reafirmar aquilo que é óbvio: a UE é uma aposta estratégica, fundamental, dos governos portugueses, desde que em 1976 o dr.Mário Soares apresentou o pedido de adesão de Portugal à UE, e desde aí Portugal tem tido uma posição constante e vai continuar a ter, obviamente", sempre "na linha da frente dos processos de integração europeia", disse.

Falando à chegada de uma cimeira UE-Turquia sobre migrações, António Costa, comentou que o diálogo com a Turquia é também "muito importante" para Portugal.

"A Turquia é um velho e estratégico aliado de Portugal, nosso parceiro como membro fundador da NATO, em 1959, e, portanto, tudo o que seja o estreitamento da relação entre a UE e a Turquia é algo que importa a Portugal, e Portugal naturalmente estará empenhado em que esse relacionamento se possa estreitar", disse.

O chefe de Governo observou que a crise que hoje se vive ao nível dos refugiados "é bem demonstrativa de como a importância estratégica da Turquia deve estar sempre presente na definição das políticas europeias".

Por fim, questionado sobre se irá "tranquilizar" os seus parceiros europeus relativamente ao cumprimento das metas orçamentais pelo novo Governo, António Costa disse que é conhecida "a estratégia orçamental que o Governo definiu, e que passa pelo cumprimento daquilo que são os compromissos internacionais de Portugal", nomeadamente em matéria de redução do défice, e de redução sustentada da dívida, "depois de quatro anos de um crescimento tão grande da dívida".

ACC/IG // CC - Lusa

Portugal. CENTENAS DE MANIFESTANTES MARCHAM EM LISBOA EM DEFESA DO CLIMA



Várias centenas de manifestantes partiram da praça Martim Moniz, em Lisboa, em direção à Alameda, numa marcha em defesa do clima que junta ambientalistas e famílias que empunham cartazes verdes.

Muitos chegaram à concentração de bicicleta, alguns com as crianças na parte de trás do velocípede, e todos queriam transmitir aos responsáveis políticos - portugueses, mas principalmente internacionais - que é indispensável avançar com medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e assim travar as alterações climáticas.

A Marcha Global pelo Clima em Lisboa é uma das que se estão a realizar hoje por todo o mundo, incluindo noutras cidades portuguesas, para chamar a atenção dos líderes políticos que vão estar na segunda-feira em Paris na sessão de abertura da conferência das Nações Unidas (ONU) para o clima, que vai decorrer até ao dia 11 de dezembro.

A presença da polícia é discreta, estando alguns agentes com motos e três carros visíveis.

Esta iniciativa foi promovida pela Academia Cidadã sob o mote "Muda o sistema, não o clima!". A Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza associou-se a este movimento internacional.

Os Verdes também integram a Marcha pelo Clima, com a presença de, entre outros militantes e simpatizantes do PEV, Heloísa Apolónia, deputada ecologista, e Manuela Cunha, membro da Comissão Executiva dos Verdes.

EA/DN // CC - Lusa

Conferência sobre clima. Polícia detém uma centena de manifestantes durante confrontos em Paris



A polícia deteve hoje uma centena de manifestantes, em Paris, que se opõe à realização da conferência sobre o Clima, os quais se envolveram em confrontos com as forças de segurança, segundo a agência noticiosa France Presse (AFP).

"São pequenos grupos violentos que atacaram a polícia com projéteis, como velas, e até mesmo com uma bola de boliche [bowling]", disse o chefe de polícia de Paris, Michel Cadot, acrescentando que nenhum dos manifestantes ou elementos das forças de segurança policiais ficaram feridos.

Manifestantes nas ruas de Paris lançaram objetos à polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo.

A marcha pelo clima que estava agendada para hoje em Paris, onde na segunda-feira começa a conferência das partes das Nações Unidas sobre clima, foi cancelada devido aos atentados de 13 de novembro na capital francesa.

Em substituição, os manifestantes organizaram-se e enviaram para Paris alguns milhares de pares de sapatos, que cobriam a praça La République, numa ação simbólica de representação dos ambientalistas e cidadãos que se juntaram à causa.

Segundo a agência France Presse, a polícia francesa usou gás lacrimogéneo para tentar conter várias centenas de manifestantes, muitos deles usando máscaras e outros a atirar objetos.

Sapatos ou garrafas foram atirados aos polícias. Outros manifestantes atiraram contra as forças policiais uma barreira.

Os manifestantes, desafiando a proibição de qualquer manifestação após os atentados, foram sendo encaminhados para a praça La République, no coração da capital. Alguns manifestantes reuniram-se em pequenos grupos, apelidando-se 'Anticop 21".

A conferência das partes das Nações Unidas sobre alterações climáticas é designada por COP21 e nela deverão participar mais de 140 chefes de Estado e de Governo.

JGS (ARP) // CC - Lusa

ESTADO ISLÂMICO: “ESSE EXÉRCITO DE FANÁTICOS SERÁ DESTRUÍDO”?



O Daesh está a ser bombardeado pelos americanos há um ano e meio; pelos russos e pelos franceses há dois meses. Mas a estratégia baseada em ataques aéreos não conseguiu (ainda?) destruir o inimigo declarado. Será necessário invadir o território do Estado Islâmico com tropas terrestres? E a que custo?

Esse exército de fanáticos será destruído”, garante Hollande. “A qualquer custo”, reforça Putin. Mas “será uma campanha longa”, previne Obama. O inimigo comum é o Daesh, o autodenominado Estado Islâmico. Mas as forças que os bombardeiam não são uma coligação, ainda que o Presidente francês o deseje – e pressione. A estratégia de ataque (primeiro dos Estados Unidos, depois da Rússia, e finalmente de França) tem sido pelo ar, mas a eficácia dessa opção tem sido questionada, sobretudo depois dos atentados de Paris. A geografia das possíveis alianças e o método de ataque estão num momento de transição. Assim como reforçar a ofensiva com mais tropas terrestres.

Há ataques aéreos diários, tropas especiais no terreno a identificar alvos e forças a dar treino a grupos rebeldes ditos moderados. A Rússia, os Estados Unidos e países como a França, que fazem parte da coligação liderada pelos norte-americanos, têm feito tentativas de coordenação, e depois dos atentados de Paris de 13 de novembro, que causaram a morte a 130 pessoas, intensificaram os bombardeamentos em curso contra os alvos jiadistas e reafirmaram o seu apoio às forças locais que estão no terreno. "A França está em guerra", disse na altura o Presidente francês, François Hollande.

Apesar disso, o debate sobre a real eficácia dos bombardeamentos na Síria mantém-se. Continua a discutir-se a natureza dos alvos atingidos, as verdadeiras intenções e motivações dos países envolvidos no combate, se a campanha aérea e a operação terrestre são suficientes para eliminar o autoproclamado Estado Islâmico.

COMO O ESTADO ISLÂMICO ESTÁ A SER BOMBARDEADO

Luís Tomé, professor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa, diz que os resultados dos bombardeamentos são "incertos" e "insuficientes", e que há informações "contraditórias". Os Estados Unidos garantem que, desde que começaram a bombardear a Síria, no verão de 2014, o Estado Islâmico "já recuou cerca de 30%", tanto por via dos ataques aéreos, como das forças aliadas no terreno”, explica o também coordenador científico do Observare - Observatório de Relações Exteriores, centro de estudos da universidade onde leciona.

Também Lamis Andoni, especialista e comentadora da estação de televisão Al-Jazeera para os assuntos do Médio Oriente, e uma das fundadoras do site de notícias "Al-Araby Al-Jadeed", defende que "não é certo que o ISIS [abreviatura em inglês de Estado Islâmico do Iraque e do Levante] esteja agora mais fraco". "A força do ISIS não se mede apenas através dos seus ganhos territoriais, mas também pela expansão das suas operações e também daquelas que inspira. Estamos a assistir a mais explosões, incluindo em Tunes [Tunísia] e todos os países estão em alerta", explica.

A comentadora palestiniana considera mesmo que o facto de a campanha aérea não ter conseguido ainda alcançar os resultados previstos (não evitou, por exemplo, que os jiadistas conquistassem a totalidade da Ramadi, capital da província iraquiana de Anbar, e pouco tempo depois entrassem na cidade síria de Palmira) levanta a suspeita "de que o ocidente quis enfraquecer o grupo mas só até conseguir manter um 'caos controlável' na Síria, fazendo do país um Estado fraco e prevenindo a emergência de um líder credível".

Já Alex Vatanka, investigador do Middle East Institute, em Washington (EUA), não tem dúvidas de que os ataques aéreos estão a ter "impacto militar e psicológico no Daesh", e Luís Valença Pinto, ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, e um dos chefes militares que mais de perto acompanhou a participação portuguesa no conflito do Afeganistão, lembra que o Daesh, "no máximo do seu apogeu, ocupou uma área desde Alepo até Bagdade, e teve 10 milhões de pessoas sob a sua ação".

Agora essa área "está cortada de um terço a um quarto, precisamente por causa dos ataques aéreos". A "população a viver nas cidades ocupadas pelos jiadistas será hoje de cerca de oito milhões", acrescenta. Por isso, acredita que a campanha aérea, apoiada pelos militares e outros grupos no local, tem tido "alguma eficácia seja para destruir seletivamente recursos como até para eliminar alguns líderes".

"É OBRIGATÓRIO NÃO DIABOLIZAR JÁ O SENHOR ASSAD"

Em final de setembro, o governo de Moscovo autorizou os primeiros bombardeamentos sobre território sírio. O primeiro ataque aéreo, levado a cabo numa quarta-feira, visou alvos em três regiões do noroeste sírio. Outros ataques seguiram-se, tendo sobretudo como alvos grupos de rebeldes que combatem o Exército sírio de Bashar al-Assad (responsável pela morte de cerca de oito mil sírios entre janeiro e julho deste ano, segundo dados recentes da Rede Síria para os Direitos Humanos), o que viria a suscitar dúvidas sobre as verdadeiras motivações de Moscovo.

A palestiniana Lamis Andoni não tem dúvidas de que a Rússia está genuinamente preocupada com o extremismo islâmico, sobretudo na região do Cáucaso, mas acredita que a intervenção russa na Síria é "só mais uma oportunidade para Moscovo se afirmar como uma força de peso na região e ter êxito enquanto tal".

Também Luís Valença Pinto lembra que a Rússia tem um "interesse direto" no assunto por causa da sua "longa e escaldante fronteira com o mundo muçulmano e dos terríveis problemas de islamismo radical que enfrenta dentro de portas". Por isso, considera que qualquer plano que venha a ser estabelecido para a Síria tem de incluir obrigatoriamente a Rússia, mesmo que isso implique manter Bashar al-Assad no Governo, pelo menos provisoriamente. "Há uma coisa que é obrigatória, que é não diabolizar já o senhor Assad. Ainda não sabemos o que queremos dele e o que queremos fazer com ele. A presença dele acaba até por garantir alguma estabilidade", acrescenta o ex-chefe do Estado-Maior general das Forças Armadas.

A posição dos Estados Unidos em relação ao assunto é conhecida. Washington insiste que só cooperará militarmente com a Rússia se Moscovo assumir um papel "construtivo" numa solução política para a Síria, aceitando o afastamento de Bashar al-Assad, e deixar de bombardear os inimigos do Presidente sírio, muitos deles apoiados pelas forças da coligação.

Luís Valença Pinto acredita, no entanto, que Barack Obama vai acabar por ceder. "É tudo um jogo de vantagens e inconvenientes. O que é preferível? Julgar e condenar Assad ou permitir que ele vá para um exílio dourado e discreto e que a Síria possa ser recuperada com a ajuda internacional? Se perguntarmos aos sírios, eles irão certamente dizer que preferem a segunda hipótese, porque será mais estabilizadora para a região", diz.

"É DIFÍCIL NÃO SUSPEITAR QUE MUITOS EDIFÍCIOS CIVIS SÃO ATINGIDOS DE PROPÓSITO"

Luís Tomé diz que uma das principais fragilidades da campanha aérea é a "falta de rigor e credibilidade das informações que chegam do terreno", devido à natureza e modus operandi do Daesh e à atual situação da Síria, que é "caótica". "O Daesh, embora tenha aspetos de exército convencional, não o é, não se rege pelas convenções internacionais. Além disso, não tem quartéis típicos e mistura-se com grande facilidade com a população local", tornando-se camuflado, o que dificulta ataques aéreos precisos e bem calibrados, explica Luís Tomé.

No terreno estão também forças "com capacidades totalmente distintas", tratando-se por isso de um "conflito assimétrico". Um estudo de 2013 de Charles Lister, especialista em terrorismo e segurança da Brookings Institution, em Washington, citado num relatório anual da Universidade de Oxford sobre o conflito armado na Síria, revela que existem cerca de mil grupos rebeldes a combater em território sírio.

Informações erradas ou adulteradas podem provocar "uma tragédia colateral em larga escala", diz Luís. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês) disse recentemente que os ataques aéreos que a Rússia vem conduzindo desde setembro já provocaram a morte de cerca de 400 civis. E apesar de os Estados Unidos garantirem que os seus bombardeamentos são os "mais precisos e disciplinados da história da guerra aérea", há indicações claras de que muitas centenas de civis foram mortos pela coligação no primeiro ano de ataques aéreos. Segundo um relatório publicado em agosto deste ano pela Airwars, organização independente e sem fins lucrativos que monitoriza a guerra na Síria e no Iraque, mais de 450 civis morreram desde o início da guerra aérea.

Os especialistas entrevistados têm uma opinião diferente sobre os efeitos colaterais da guerra na Síria. Luís Valença Pinto diz que "todas as campanhas aéreas contêm danos colaterais” ainda que ninguém as queira causar, sendo até difícil, no caso da Síria, "identificar quem é civil e quem não o é". Já a palestiniana Lamis Andoni diz que, "dada a tecnologia sofisticada que estas forças militares usam, é difícil não suspeitar de que muitos edifícios civis são atingidos de propósito". "Em algumas doutrinas militares, é normal instalar o medo nas populações para que elas se tornem a base social do inimigo", acrescenta a comentadora, que já num artigo publicado no site da Al-Jazeera comparara a ofensiva militar em curso na Síria à intervenção norte-americana no Afeganistão e no Iraque após a queda das Torres Gémeas, em Nova Iorque.

"Depois do 11 de setembro, os Estados Unidos exploraram descaradamente o medo e o sofrimento das pessoas para levar a cabo a sua própria campanha de terror sofisticada, repleta de tudo o que aquela tecnologia militar podia oferecer, e providenciando uma cobertura 'civilizada' para o que foram essencialmente assassínios em massa de populações inocentes no Afeganistão, Iraque e Paquistão", lê-se no texto.

RESPOSTA TEM "SIDO CURTA"

Apesar de considerar que a campanha aérea tem tido "alguma eficácia", Luís Valença Pinto reconhece que o combate ao Daesh tem sido "insuficiente" e que a resposta tem sido "curta e com muitas falhas". "Fomos talvez surpreendidos pela dimensão e virulência do processo. Só percebemos essa virulência quando vimos jiadistas a decapitar pessoas". Dados do Observatório Sírio para os Direitos Humanos dizem-nos que o autoproclamado Estado Islâmico executou desde junho de 2014 mais de 10 mil homens, mulheres e crianças na Síria e no Iraque.

Para o ex-chefe do Estado-Maior general das Forças Armadas, é preciso uma melhor articulação entre os serviços de informações dos vários países que combatem o Daesh, ultrapassando esse "grande tabu que existe em todo o lado, particularmente na Europa e em Portugal, onde ainda se associa muito os serviços de informação à PIDE", e "trazer os sunitas que estão reféns dos jiadistas para a primeira linha de combate". "O problema que o islamismo está a causar hoje ao mundo só se resolve com os muçulmanos. Só eles é que o podem resolver. Nós podemos e devemos estimular, apoiar, ajudá-los a ter eco e ser parceiros no que toca à segurança. Mas não podemos fazer nós o guião. Têm de ser eles a fazê-lo", diz Luís Valença Pinto.

Sobre a possibilidade de enviar mais tropas para o terreno, Valença Pinto diz que o "desejável é que a resposta seja muito muçulmana" e que a presença de outras forças militares é uma "questão em aberto". "Eu não consideraria uma entrada naquela região como se entrou no Iraque e no Afeganistão, mas entre isso e uma presença qualquer vai um mundo de distância", acrescenta.

Também Luís Tomé descarta a hipótese de ocupar a Síria com militares. "Sou dos que acha que não justifica fazer operações terrestres se for possível conciliar os atores externos, como a Rússia, os países árabes, EUA e Europa. É preferível ter esta convergência do que introduzir dinâmicas de escalada que criam novos níveis de insegurança e novos dilemas", diz.

O especialista do Middle East Institute, Alex Vatanka, acredita que o autoproclamado Estado Islâmico "só poderá ser derrotado se a comunidade internacional e os poderes regionais concordarem em [partilhar] algum tipo de quadro político mínimo em que os atores locais possam vir a ocupar o espaço que o Daesh deixará inevitavelmente em aberto quando for eliminado". "Os números falam por si. O Daesh tem cerca de 30.000 combatentes, 15.000 dos quais são mercenários vindos de fora, e a Síria tem uma população de 22 milhões de pessoas. É fácil perceber que não terá apoio suficiente assim que houver uma frente internacional genuína a combatê-lo", explica.

"FRANÇA TEM SIDO DOS PAÍSES MAIS PERMISSIVOS"

O facto de os recentes atentados de Paris terem sido o segundo ataque na cidade este ano foi justificado por alguns especialistas com fatores como a discriminação, o isolamento e sentimentos de exclusão vividos pelos muçulmanos residentes nos seus subúrbios, em parte promovidos por políticas como a proibição das burcas. Um artigo publicado em agosto na revista "New Yorker", e republicado após os atentados em Paris, assinado por George Packer, dá conta de vários casos de discriminação contra muçulmanos na capital francesa.

Uma das mulheres entrevistadas, Fanta Ba, filha de imigrantes senegaleses, conta que para concorrer a um emprego tem de identificar-se pelo seu nome do meio, "France", afrancesando o seu apelido ("Bas"), porque se não o fizer nunca conseguirá um trabalho. Outro muçulmano, Brahim Aniba, de Bobigny, um bairro nos "banlieues" (subúrbios) de Paris, conta que num encontro com um consultor na área do trabalho foi aconselhado a dar uma morada falsa, algures no centro de Paris, e a identificar-se como "B." e não "Brahim", pelas mesmas razões.

Luís Valença Pinto considera que França tem sido "um dos países mais permissivos em relação aos muçulmanos", com políticas de integração "altamente generosas". Da parte dos muçulmanos, o que há é uma "grande tentação de viver do estado social", diz, dando como exemplo o caso de um político que se perpetuou como burgomestre de Molenbeek, em Bruxelas, "mediante concessões absurdas e ilegítimas às comunidades muçulmanas". "É um trade off absolutamente intolerável, é como ceder às máfias ou outra coisa parecida".


Helena Bento (texto) – Sofia Miguel Rosa (infografia) – Carlos Pais (infografia) - Expresso

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