Nos
primórdios do Carnaval, em nossa capital, o Entrudo de origem açoriana era uma
brincadeira, na qual os foliões lançavam entre si limões de cheiro, água das
seringas e até farinha. Diante do aumento populacional, o que era simples
diversão tornou-se causa de desavenças e ferimentos entre os foliões e os
passantes.

Os
festejos de Momo, em Porto Alegre, eram vivenciados pela classe média e alta
nos cafés, teatros, confeitarias, clubes e associações. Nas ruas ocorriam jogos
de confete, batalhas de flores, o lança-perfume e o corso de automóvel nas vias
principais, a exemplo da Rua dos Andradas, conhecida como Rua da Praia em
virtude do Guaíba que banha a cidade. As camadas mais pobres da população eram
excluídas dos festejos, embora houvesse a circulação de mascarados que tocavam
tambores e zabumbas de origem africana em diversos pontos da cidade.
Com
o passar do tempo, nosso Carnaval de rua passou a aglutinar tradições populares
de origem europeia e africana, fundindo culturas e hábitos que se misturavam
nos dias de Momo nos espaços de resistência cultural da população
afrodescendente, considerados o berço do samba, a exemplo da Colônia Africana,
Areal da Baronesa e a Ilhota. Nestes locais surgiu uma série de blocos
carnavalescos.
Considerado, oficialmente, o primeiro jogador negro a integrar o quadro do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Osmar Fortes Barcellos (1921-1979), o “Tesourinha”, participava do bloco “Os Tesouras”, donde se originou o seu apelido. Este, a exemplo dos “Prediletos”, “Embaixadores do Ritmo”, “Ai-vem-a Marinha”, “Namorados da Lua”, entre tantos outros, era oriundo da Colônia Africana.
Considerado, oficialmente, o primeiro jogador negro a integrar o quadro do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Osmar Fortes Barcellos (1921-1979), o “Tesourinha”, participava do bloco “Os Tesouras”, donde se originou o seu apelido. Este, a exemplo dos “Prediletos”, “Embaixadores do Ritmo”, “Ai-vem-a Marinha”, “Namorados da Lua”, entre tantos outros, era oriundo da Colônia Africana.
Na
Ilhota nasceu Lupicínio Rodrigues (1914-1974), carinhosamente chamado de Lupi.
Ainda menino, ele fugia de casa para as rodas de samba que ocorriam no local.
Aos 14 anos, Lupi que, mais tarde, ficaria conhecido em todo o Brasil, como “O
Rei da dor de Cotovelo”, criou sua primeira música para o Cordão " Os
Prediletos", cujo título era "Carnaval".
Uma
característica dos blocos da cidade era a presença majoritária até os anos 50 e
60 de foliões masculinos. Os grupos femininos, dos quais se recorda a nossa
“velha-guarda”, foram: “As Fazendeiras”, “As Japonesas”, “As Fuzileiras”, “ As
Iracemas” e “As Heroínas da Floresta” da Sociedade Floresta Aurora.
Já no Areal da Baronesa foi coroado Adão Alves de Oliveira (1925-2013), o seu Lelé, primeiro Rei Momo Negro da capital, entre 1949 e 1952. Em 11 de julho de 2015, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati entregou à comunidade do Areal da Baronesa a lei que dá titulação ao lugar como terras oriundas de quilombos. O Areal da Baronesa é considerado um quilombo urbano.
Já no Areal da Baronesa foi coroado Adão Alves de Oliveira (1925-2013), o seu Lelé, primeiro Rei Momo Negro da capital, entre 1949 e 1952. Em 11 de julho de 2015, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati entregou à comunidade do Areal da Baronesa a lei que dá titulação ao lugar como terras oriundas de quilombos. O Areal da Baronesa é considerado um quilombo urbano.


Aos
poucos, os blocos superaram em quantidade as tradicionais sociedades
carnavalescas, a exemplo da Sociedade Esmeralda Porto-Alegrense (verde e
branco) e a Sociedade Venezianos (vermelho e branco), tradicionais rivais nos
concursos carnavalescos da época, ambas fundadas em 1873. Havia também a
Germânia, a mais antiga fundada, por alemães, em 1855, e a Sociedade Floresta
Aurora criada por negros alforriados, ainda, em atividade, desde 1872.
Em
torno de 1900, a importância do Carnaval para a nossa cidade foi registrada
pelo viajante Frank Bennett: “O Carnaval é um dos maiores eventos realizados no
ano e todo mundo participa ativamente dos festejos, conquanto, cada classe
social faça-o de maneira diferente (...)”
*Pesquisador
e Coordenador do Setor de Imprensa do MUSECOM / Porto alegre - Rio Grande do
Sul - Brasil
Bibliografia
FRANCO,
Sérgio da Costa, ROZANO Mário (org.) Porto Alegre Ano a Ano/ Uma cronologia
histórica 1732/ 1950. Porto Alegre: Letra & Vida, 2012.
GUIMARAENS
Rafael. Rua da Praia / Um passeio no tempo. Porto Alegre: Libretos, 2010.
MARTINI,
Cyro. A Cidade Risonha de Aquiles Porto Alegre / Porto Alegre Séc. XIX. Porto
Alegre: Martins Livreiro, 2013.
PORTO
ALEGRE, Achyles. História Popular de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura
Municipal, 1940.
Imagens
1
- Litogravura de Araújo Guerra / Jornal O Século. 1880
2
- Colônia Africana por volta de 1915
3
- Grupo de carnavalescos da Sociedade Floresta Aurora na déc.30
4
- Lelè, o primeiro Rei Momo negro
5 -
Lupicínio Rodrigues
6
- Jogador Tesourinha
1 comentário:
Muito interessante a história do carnaval popular em Porto Alegre! Hoje a história do Areial da Baronesa faz todo o sentido quando se fala dos blocos de rua.
Parabéns Beto!
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