O
defensor de um muro na fronteira dos EUA com o México é neto de imigrantes
alemães. Na aldeia de origem, porém, ninguém mais parece estar interessado nele
– nem mesmo para despertar o interesse pela região.
Donald
John Trump, o típico vencedor: a onda de êxito do negociante populista se
manteve na Superterça. Com grande alarde, o ultra-americano se coloca em
evidência, esbraveja contra imigrantes – e com isso emplaca bem entre seus
eleitores.
No
entanto, ele próprio é um imigrante de terceira geração, pois seus avós
paternos vêm da Alemanha, para ser exato da aldeia vinícola de Kallstadt, na
Renânia-Palatinado.
O
que acham de "The Donald", como costumam chamá-lo nos Estados Unidos,
seus parentes alemães? Eles se alegram com o sucesso do republicano ou são
céticos em relação a ele? O repórter da DW Aaron Skiba foi atrás de respostas e
fez o relato abaixo.
Tolerância
zero
Depois
de ter pesquisado alguns números, eu pego o fone. Antes mesmo de dar a partida,
já tenho uma vaga intuição: talvez os habitantes de Kallstadt não tenham uma
opinião muito boa desse Donald Trump.
As
primeiras ligações confirmam minha sensação: os Trumps do Palatinado estão mais
é fartos do parente americano. "Não quero ter nada a ver com isso",
diz o primeiro. Dos dez para quem eu ligo, só uma minoria se dispõe a falar
comigo. E todos querem permanecer anônimos.
Pelo
menos uns poucos se mostram abertos e tentam me ajudar nas minhas pesquisas. A
maioria dos Trumps do catálogo telefônico procura, audivelmente irritada, um
pretexto para escapar – se sequer o faz. Alguns simplesmente desligam, sem
comentários.
Isso
não chega a me perturbar. Repetidamente me digo: se eu morasse no Palatinado e
me chamasse Trump, na verdade não teria a menor disposição de responder às
mesmas perguntas de sempre que os jornalistas fazem sobre um parente distante
nos EUA.
Uma
das minhas perguntas mais insistentes é: "Donald Trump, o homem, é tema de
conversas no Palatinado, no momento?" Aparentemente não. "Ninguém
mais tem coragem de dizer o que pensa, e isso é um problema. Pelo menos não em
público: a portas fechadas, é uma outra coisa", revela um Trump de meia
idade.
E
outro: "Nós gostamos de dizer em alto em bom som o que pensamos." No
mínimo, Donald Trump parece ter herdado a mentalidade dos nativos de Kallstadt.
Talvez
o Palatinado – que já é famoso por sua vinicultura – acabe lucrando com o
reboliço da imprensa. Talvez o alvoroço atraia mais turistas ao "local do
vinho nobre", como a aldeia se apresenta em seu site oficial.
No
entanto um morador me revela: "Não acho que vá ter grande efeito sobre o
turismo, no máximo vai despertar curiosidade. Não acredito que as pessoas vão
vir a Kallstadt porque os ancestrais de Trump eram daqui."
Para
faturar como vinicultor em Kallstadt, ao que tudo indica, ninguém precisa de um
parente distante que está querendo ser o próximo presidente dos Estados Unidos
e que faz manchetes como republicano conservador.
Aaron
Skiba (av) – Deutsche Welle
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