Vídeo
com pouco mais de quatro minutos publicado pelo Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação (ICIJ na sigla em inglês) mostra as ligações
escuras e escusas entre o poder político e a utilização de capitais sediados em
paraísos fiscais.
“Ao
longo dos últimos três anos a Força Aérea Síria levou à morte a mais de 21 mil
civis”, começa por narrar o vídeo. As bombas caíram sobre casas, lojas,
empresas, nem mesmo os hospitais escaparam ilesos. Crimes de guerra que foram
bem documentados pela comunicação social de todo o mundo.
Menos
bem documentado é o mundo das finanças nos paraísos fiscais. “Por trás das
cortinas, por baixo das mesas, as empresas usam as offshores para financiar a
venda de combustíveis à Força Aérea Síria. E em 2014 foram muitos os governos,
entre eles os do Reino Unido e dos EUA que proibiram as relações com essas
empresas”. Mas agora, com o rebentar do escândalo dos Panama Papers ficou a
saber-se que as coisas não são bem assim. A Mossack Fonseca permitiu que as
empresas continuassem a realizar as suas operações e sem que os ataques na
Síria parassem.
A
empresa panamiana tem um papel central num amplo sector secreto que os mais
ricos do mundo usam para esconder bens e desempenhar papéis criando empresas de
fachada em jurisdições distantes.
Agora
a investigação levada a cabo revelou “uma preocupante lista de clientes
envolvidos em casos de corrupção, negócios de armas, evasão fiscal, fraude
financeira e tráfico de drogas”.
As
“verdadeiras vítimas”
Mas
por trás do rasto de papel seguido pelos jornalistas que, aos poucos, vão
revelando o caso “há verdadeiras vítimas”.
“Na
Rússia, homens de negócios raptavam meninas órfãs, algumas com apenas 13 anos,
violavam-nas e depois vendiam-nas como escravas sexuais”, denuncia a reportagem
do ICIJ.
“Depois
destas violações sentia todo o meu corpo a doer e passei a ter medo dos
homens”, revela, sob anonimato, uma das raparigas. “Quando fui levada para uma
casa de acolhimento não conseguia deixar de pensar que o meu pai adoptivo me
iria violar se alguma vez me deixassem sozinha com ele.” Um dos alegados
líderes destes traficantes de escravas sexuais era cliente da Mossack Fonseca.
“A empresa, quando descobriu que o seu cliente era um pedófilo, não se sentiu
obrigada a divulgar as actividades financeiras do seu cliente às autoridades”,
denuncia o ICIJ no vídeo que tem feito eco um pouco por todo o mundo.
Outro
caso. No Uganda uma empresa que quis vender um campo de prospecção de petróleo
pagou à Mossack Fonseca para que esta a ajudar a evitar o pagamento de 400
milhões de dólares em impostos. “Nada mais simples. O endereço dessa companhia
teve apenas de mudar de um paraíso fiscal para outro. Num país onde cerca de um
terço da população vive com menos de 1,25 dólares por dia, 400 milhões de
dólares significam parte significativa do orçamento anual”. O Governo do Uganda
passou diversos anos em tribunal. O objectivo era tentar obrigar a empresa a
pagar os impostos sobre a venda.
“Entretanto, os hospitais perto do campo
petrolífero não tinham fundos financeiros até para os equipamentos mais
básicos, os pacientes dormiam no chão e era-lhes pedido para trazerem os seus
próprios medicamentos, luvas esterilizadas e, até, algodão”.
“Tudo
isto foi uma surpresa para mim, porque esperava que esse tipo de equipamentos
estivesse no centro de saúde”, conta uma mulher que tinha estado internada
naquela unidade de saúde numa entrevista ao ICIJ. “Muitas mulheres acabaram por
perder as suas vidas ou a dos seus bebés”, denuncia.
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