Rui Peralta,
Luanda
O
discurso dominante na economia-mundo apresenta a globalização como um fenómeno
novo vinculado às transformações tecnológicas, como uma nova fase, esquecendo
que o processo de mundialização é anterior ao capitalismo e que este afirmou-se
em paralelo com os processos de transformação técnica e tecnológica, em
paralelo com a mundialização. O capitalismo afirmou-se como estrutura dominante
na economia-mundo apenas no último terço do século XIX, manifestando o seu
domínio através da partilha colonial. Mas esta dimensão mundial encontra-se
desde a sua origem, desde as suas primeiras manifestações, e torna-se uma
constante no seu desenvolvimento.
Os
elementos essenciais do capitalismo como estrutura dominante cristalizam-se na
Europa desde o Renascimento (finais do século XV) com a chegada ao Novo Mundo.
O saque, a escravatura, a destruturação das sociedades locais e a destruição
das civilizações ameríndias e africanas foram condições para a afirmação do
capitalismo como modo de produção dominante nas sociedades europeias. A
colonização não foi senão o processo de generalização das relações capitalistas
no resto do mundo, a forma de domínio politico que foi exportado e imposto.
Foi, assim, imperiosa a destruição das relações sociais e das formas de
organização social e cultural dos povos colonizados.
O
racismo biológico aparece como forma de legitimação da violência empregue nos
processos de colonização, uma ideologia da hierarquização da humanidade e é uma
produção localizada histórica e geograficamente na Europa (no tempo e no espaço
europeu, no contexto europeu), onde o capitalismo emergiu. Este primeiro rosto
histórico do racismo conhece a sua idade do ouro no século XIX, entre a grande
explosão industrial, por um lado, e a partilha colonial, por outro.
Médicos
e antropólogos classificavam crânios humanos e comparavam-nos, concluindo que a
capacidade craniana dos povos africanos estava abaixo do europeu e acima dos
povos da Austrália e Oceânia e que a pequenez relativa do cérebro da mulher
depende da sua inferioridade física e intelectual. Racismo biológico e sexismo
nascem juntos e são mecanismos de afirmação de Poder. O “fardo do homem branco”,
mito da colonização, é retirado do mesmo arsenal ideológico do “chefe de
família”, necessidade da alteração da estrutura familiar (para cumprir os novos
horários da industrialização) e das suas implicações na estrutura patriarcal de
Poder.
Do
racismo biológico evoluiu-se para o racismo cultural, o que implicou outras
alterações nas formas de domínio sobre a periferia, passando-se do colonialismo
para o neocolonialismo. Os elementos essenciais sofreram mutações mas
mantiveram-se como elementos essenciais. O mesmo se passa na actualidade.
Mantêm-se os elementos principais de domínio, apesar das mutações observadas
(do racismo cultural passou-se ao apartheid social generalizado), continuando o
saque sobre os recursos e aprimorando-se a destruturação como elemento
principal do domínio sobre a periferia.
Todas
as formas de domínio requerem processos de legitimação. Hoje, estão lançados,
novos processos, sendo um deles - o fundamental - a legitimação da brutal
concentração de riqueza que atira a humanidade para a precariedade…
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