Orlando
Castro (jornalista e director-adjunto do Folha 8) é o autor do livro “António
Marinho e Pinto – Mudar Portugal”, publicado em 2015 pela editora portuguesa
“Verso de Kapa”. Um ano depois a editora informou o autor que tinham sido
vendidos apenas 85 exemplares. Perante a incredulidade quanto a estes números,
a Verso de Kapa corrigiu os valores e passou a falar de 230 exemplares
vendidos.
Norberto
Hossi*
Recordando
que foi “expressamente convidado pela Verso de Kapa, através de Maria João
Mergulhão, para escrever o livro”, Orlando Castro relata a explicação da
editora:
“Este
livro não aparecia nas listagens de vendas desde 2015, portanto, pelo menos há
8 meses que não tem qualquer registo de vendas e portanto quando extraímos o
mapa do sistema não apareceu qualquer registo de vendas do mercado referente a
este período. O que enviámos, os 85 exemplares, foram as vendas internas, que
são extraídas de outro mapa. Assim, e após termos tido que recorrer a outros
meios, conseguimos apurar que a quantidade de exemplares vendidos nas livrarias
foram no total 145 exemplares. Assim o total de vendas efectivo foi: 145+85=230
exemplares. O PDR (partido de Marinho e Pinto) ainda detém 86 livros
consignados e não temos ainda apuramento de vendas destes exemplares, que
continuamos a aguardar que nos digam se vão pagar ou se os vão devolver. Caso
haja pagamento dos mesmo, pagaremos os direitos devidos aos autores. Em todo o
mercado nacional (livrarias e hipers) apenas existem cerca de 50 exemplares
(sem expressão). Os restantes já foram devolvidos e uns permanecem em armazém e
os restantes foram abatidos. Assim, este foi o livro que deu maior prejuízo à
Verso de Kapa de todos os que foram publicados em 2015.”
Orlando
Castro diz que “a história não está bem contada”, relembrando que o livro “até
teve honras de citação no programa que Marcelo Rebelo de Sousa, hoje Presidente
da República, mantinha na TVI”. Isto para “além de se ter passado rapidamente
de 85 exemplares vendidos para 230”.
“Ainda
estou à espera de perceber como é que se explica que nas diversas acções de
campanha eleitoral do Dr. Marinho e Pinto, tanto no país como no estrangeiro,
tenham sido vendidas dezenas de exemplares que, ao que parece, não dão
dividendos ao autor”, diz o autor, afirmando até que “eu próprio assisti a
algumas dessas acções em locais que não livrarias, onde muitos livros foram
vendidos; o que não significa facturados… uma vez que, nessas acções, poucos
são os compradores que pedem factura”.
António
Marinho e Pinto, actual eurodeputado e ex-bastonário da Ordem dos Advogados de
Portugal, limita-se a dizer sobre este assunto “que não faz qualquer
comentário”.
O
Folha 8 contactou alguns especialistas nesta área da edição de livros para
tentar compreender o que está, ou poderá ter estado, por trás deste pelo menos
aparente fracasso editorial.
Todos
reconhecem que “tratou-se de um livro que se não vendeu muito na altura,
não será agora que vai vender”, mas apesar disso estranham que “um livro tão
recente já tenha seguido para abate”.
Relembram
também que se “já foram abatidos, como diz a editora em questão, cometeram
uma ilegalidade porque, sendo um livro sujeito a Direitos de Autor, a editora é
obrigada a comunicar previamente aos autores a intenção de abate. O autor tem
alguns dias para se pronunciar (pode, por exemplo, propor a compra desses
exemplares, ou parte deles, pelo preço de custo…)”.
Orlando
Castro garante que “não foi contactado sobre o eventual abate”,
acrescentando que poderia comprar alguns exemplares, “tal como fez em
algumas das sessões protagonizadas por Marinho e Pinto (as tais em que o livro
foi comprado e pago mas, aparentemente, não… vendido) para oferecer, desde logo
porque — apesar de ser o autor — a Verso de Kapa só lhe ofereceu dois (2)
exemplares”.
A
editora diz que “este foi o livro que deu maior prejuízo à Verso de Kapa
de todos os que foram publicados em 2015”.
Orlando
Castro afirma que, por uma questão de honra e “atendendo ao colossal
prejuízo que a Verso de Kapa diz ter tido com a edição deste livro, abdica do
valor correspondente aos seus direitos de autor (expressamente convidado pela
Editora), lamentando que o seu contributo para a sustentabilidade económica e
financeira da Editora seja tão diminuto”.
“Não
se trata, é claro, de nenhuma ameaça, acusação ou insinuação mas,
eventualmente, de uma forma de apelar à filantropia de quem possa ajudar a
Verso de Kapa a ultrapassar a crise (de valores) provocada por este livro”,
conclui Orlando Castro.
Orlando
Castro integra o livro de Tomás Lima Coelho: “Autores e Escritores de Angola –
1642 – 2015” e é autor dos seguintes livros:
“Algemas
da Minha Traição»” (1975), “Açores – Realidades Vulcânicas” (1995), “Ontem, Hoje…
e Amanhã?” (1997), “Memórias da Memória” (2001) com Prefácio de Arlindo Cunha,
“Alto Hama – Crónicas (diz)traídas” (2006) com Prefácio de Eugénio Costa
Almeida, “Cabinda – ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação” (2011),
Co-autor dos 16 volumes da colecção “Guerra Colonial – A História na Primeira
Pessoa” e “António Marinho e Pinto, Mudar Portugal” (2015).
*Folha
8
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