Como
frutas maduras, duma maneira ou de outra, as pequenas nações-arquipélagos do
Atlântico caíram nos “Jogos Africanos” que se moldaram no berço do “Laboratório
AFRICOM”, entre 2002 e 2007.
A
vitória de Margaret Thatcher nas Malvinas em 1982, em reforço das políticas do
capitalismo neoliberal anglo-saxão e transatlântico, constituíram por si uma
antecipação histórica, abrindo as portas à hipótese de mesclar “a uma só
voz” colonialismo e neocolonialismo.
O
poder de manobra transformava o Atlântico num “mare nostrum” do
Pentágono e da NATO.
Ali
onde pouco mais de vinte anos depois não vincou o “transviado corsário” Mark
Thatcher, vincaram os Estados Unidos com seu arsenal de multinacionais petroleiras
de ambos os lados do Atlântico, ávidos de alargarem a malha de influência, de
interesses e conveniências, estendendo-a ao Golfo da Guiné.
O
seu poderio foi de tal ordem que a França alinhou depois do genocídio do
Ruanda, integrando a ELF na Total e reformulando o “pré carré”.
Vinte
anos foi o tempo suficiente para a instalação do “ECHELON” que no
Atlântico Sul teria como base principal entre a América do Sul e África (entre
Brasil e Angola), a ilha de Ascensão que sintomaticamente serviu de base logística
principal à Grã-Bretanha para levar a cabo a Guerra das Malvinas.
Observando
na profundidade, as antenas do ECHELON da Ascensão cobriram também o Golfo da
Guiné na intercepção de sua vigilância, antes de outras antenas serem colocadas
em reforço em São Tomé e Príncipe, entre a capital e Santana… aumentando ainda
mais a cobertura do espaço da CPLP.
A
panóplia de satélites em conexão às estações terrestres, cumprem com suas
funções, sem obstáculos.
O
berço do “Laboratório AFRICOM” teve uma sequência que foi criando
condições de sustentabilidade no Atlântico, evidenciando-se em termos de
ECHELON os sistemas instalados em Ascensão e São Tomé e Príncipe, enquanto no
Índico era Diego Garcia utilizada no mesmo sentido… assim se rodeou África,
preparando-se todas as condições para se entrar profundamente nela…
GLOBALIZAÇÃO,
NEOLIBERALISMO E PETRÓLEO – THATCHER E AS MALVINAS
1
– Uma semana depois da passagem da armada colonial britânica por Luanda a 1 de
Maio de 2013, morreu em Londres Margaret Thatcher.
Os
dois acontecimentos têm referências de fundo comuns:
-
Seria impossível Margaret Thatcher ser uma aliada do regime do “apartheid” da
África do Sul, como de Augusto Pinochet do Chile, se não fosse a sua opção
doutrinária, ideológica e política, eminentemente capitalista, neo liberal e
elitista (de acordo com a “escola de Oxford”);
-
Seria impossível a manutenção pela força das Malvinas enquanto colónia
britânica e resquício do império colonial, se a opção de raiz de Margaret
Tharcher não fosse tão zelosa e exponencialmente conservadora;
-
Seria impossível ao império anglo-saxónico fazer opções na América Latina no
quadro do seu domínio; entre as ditaduras as preferências foram desde logo para
aquelas que faziam escola de capitalismo neo liberal e elitista, a escola dos “rapazes
de Chicago” (e com isso estava ditada a sorte dos ditadores argentinos);
-
Seria impossível a sobrevivência do quadro de capitalismo neo liberal na Grã
Bretanha até aos nossos dias, não fosse a força desde logo colocada à
disposição da “dama de ferro”, a Primeira Ministra que em pleno século XX
mais anos esteve no poder na Grã Bretanha (de 1979 a 1990), o tempo suficiente
para lançar as bases da opção que no futuro, tirando partido do desaparecimento
do bloco socialista, passaria a moldar os termos da globalização;
-
Seria impossível tudo isso sem que a geo estratégia anglo-saxónica década após
década não funcionasse consolidada a partir dos factores energéticos próprios
da Revolução Industrial, com particular incidência Atlântica!
2
– Por razões geo estratégias contudo, em relação ao sul, Margaret Thatcher mais
do que a “dama de ferro” que saia vencedora com seu “parceiro” Ronald
Reagan da Guerra Fria, não podia deixar de ser sobretudo uma verdadeira “dama
do petróleo”, o que aliás ficou bem vincado com a trajectória de sua própria
família e descendentes.
As
Malvinas, veio-se a verificar, possuem ricas jazidas de petróleo ainda por
explorar, em condições próximas às que o Reino Unido beneficiou com outros
aliados no Mar do Norte.
Ao
manter as Malvinas como colónia, o Reino Unido garantia reservas de petróleo “in” para
além das previsibilidades a norte, em contradição uma vez mais com os
interesses do sul, ávidos de independência e soberania!
3
– A posição das Malvinas além do mais e por seu turno, conferem à Grã-Bretanha
– Reino Unido potencialidades enormes em relação ao Atlântico, como importante
segmento vinculado numa linha de domínio que se desprende desde o Árctico, a
norte, à Antárctida, a sul.
Nessa
linha, só a Grã-Bretanha se encontra tão próxima dum continente (a Europa): as
Malvinas estão similarmente próximas da América do Sul e todas as outras ilhas,
a maior parte minúsculos arquipélagos, se encontram bem no miolo oceânico,
longe de costas continentais.
Os
arquipélagos constituem os ninhos da pirataria atlântica dos anglo-saxões, um
projecto de muito longa duração em fase de despontar, no seguimento dos
projectos elitistas e egoístas típicos de Oxford e de Chicago: para essas
elites o mundo tem de forçosamente ser gerido pelo seu domínio, o domínio dos
1% sobre os outros 99%, nunca a humanidade gerida como um todo, com seus
interesses comuns o que obsta à gestão efectiva do planeta enquanto nossa
preciosa e única casa comum!
A
NATO, o SOUTHCOM e o AFRICOM do Pentágono são os mentores geo estratégicos
principais dos projectos que nessa opção se inscrevem, sob o ponto de vista de
inteligência e militar ao serviço desse domínio!
Todas
as “parcerias” que a partir daí se dilatem ou difundam, não passam de
meras articulações subjugadas pela imensa capacidade tecnológica dos núcleos
duros do poder e dos poderosos instrumentos à sua disposição.
A
posição das Malvinas, para além dos aspectos de retaguarda em relação às bases
anglo-saxónicas na Antárctida, sob o ponto de vista funcional actua como uma
permanente “testa-de-ponte”capitalista neo liberal que, como emulsão do
império, visa submeter a vontade de independência e emergência das nações
latino americanas, 200 anos depois do hastear de suas bandeiras!
4
– Ao aceitar a passagem da armada colonial britânica pelos portos de África
enquanto realizam exercícios de toda a ordem de acordo com o exclusivo padrão
do AFRICOM e da NATO, os países africanos, inclusive aqueles que lutaram contra
o colonialismo e o “apartheid” nas décadas de 70 e 80 do século
passado, contribuem para os parâmetros da globalização neo liberal,
contrariando a vontade de independência e emergência dos países que na América
Latina optam pelas alternativas da dignidade, contrariando sua própria vontade
de independência e emergência!
Desse
modo eles estão muito mais próximos da submissão neocolonial, próximos das
opções de Margaret Thatcher, próximos da época em que foram geradas as
raízes-padrão do modelo de globalização estimulado pelas elites ocidentais
eminentemente anglo-saxónicas!
É
preciso que se explique no quadro desta globalização neo liberal: o Atlântico é
um “mare nostrum” para o império anglo-saxónico com sua panóplia de
aliados e todas as riquezas existentes nele estão à mercê da rapina de seus
velhos e poderosos piratas constituídos nas suas actuais elites!
Mapa: A
rota britânica em direcção à Guerra nas Malvinas; essa não é a rota da armada
colonial britânica de hoje, que opta por uma rota que, domínio obriga, torna
visíveis suas naves ao longo da costa ocidental africana, de Marrocos à África
do Sul! – http://en.wikipedia.org/wiki/Falklands_War
Recomendação
relativa às produções de Martinho Júnior:
A
série “A inteligência resolve”, publicada em Janeiro de 2013 no Página
Global é subjacente a este tema; de facto é necessário avaliar quanto o
processo de globalização que constrói o império em nome dos 1% da humanidade,
ciosa dos seus poderes e lucros, se tornou num processo inteligente e actuante,
recorrendo a toda a panóplia de recursos e ensinamentos, inclusive recursos e
ensinamentos doutrinários e ideológicos.
A
consultar:
Ilustrações:
-
Mapas relativos aos dispositivos britânicos a fim de levar a cabo a guerra das
Malvinas;
-
Foto de Margaret Thatcher no apogeu de sua carreira política.