segunda-feira, 11 de abril de 2016

Portugal. Empresa apanhada nos Panama Papers pagou cerca de 180 mil euros a Manuel Pinho



Cristina Ferreira - Público

O ex-ministro da Economia desempenhou funções na administração do BES e do BES África e o seu nome consta da ES Enterprise, que consta nos Panama Papers.

Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de José Sócrates, é um dos nomes que constam da lista dos fluxos financeiros da ES Enterprise, um veículo sombra do Grupo Espírito Santo/Banco Espírito Santo (GES/BES), que servia para pagamentos a colaboradores ou a entidades terceiras e cuja abrangência o Ministério Público investiga desde o final de 2014.

Através da ES Enterprise terão passado cerca de 180 mil euros destinados a Manuel Pinho, apurou o PÚBLICO. A alegada remuneração pode estar associada à actividade do economista no universo GES, onde trabalhou durante cerca de duas décadas, desempenhando cargos executivos ao mais alto nível, nomeadamente de administrador do BES. As suas funções como gestor da instituição liderada por Ricardo Salgado foram interrompidas em 2005 após ser nomeado ministro da Economia de José Sócrates. Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo socialista depois de, no quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido um gesto de corninhos à bancada comunista, considerado insultuoso. Um ano depois, foi convidado para dar aulas numa universidade em Nova Iorque, num seminário sobre energias renováveis sector patrocinado por uma doação de três milhões de euros da EDP.

Após a passagem pelo Governo, regressou ao universo Espírito Santo para assumir funções de vice-presidente da holding BES África. Criada em 2009, com um capital social de 50 mil euros, esta sociedade concentrava as participações do grupo no BESA (BES Angola) no Banco Marocaine (BMCE), no Aman Bank da Líbia e no BES Cabo-Verde.

O PÚBLICO já tinha noticiado em Novembro de 2014, que a ES Enterprise era usada pela família Espírito Santo como saco azul, designadamente para fazer despesas não documentadas, e de onde terão transitado fundos provenientes de Angola. O nome desta empresa surge referenciada na mega investigação a que se deu nome de Panama Papers, e a que se associam oExpresso e a TVI. E em Dezembro de 2014, era mencionado pelo PÚBLICO, noutro texto, que tinham passado pelo veículo do GES, ES Enterprise, e que nunca constou dos organigramas oficiais, verbas que totalizavam 300 milhões de euros.

Desde Junho de 2015 que o PÚBLICO tem tentado, por diversas vezes, quer por sms, por mensagem de voz, ou mesmo contactando a sua advogada, obter um comentário de Manuel Pinho sobre o tema mas este nunca esteve disponível para o fazer. Neste domingo, voltou a insistir através de mensagem escrita, mas sem resultado.

Já o Ministério Público inquirido em Julho pelo PÚBLICO sobre a presença de Manuel Pinho, entre outros, na lista de movimentos financeiros da ES Enterprise respondeu “que o processo ES Enterprise estava em investigação” e que “não deixará de investigar todos os factos com relevância criminal que cheguem ao seu conhecimento”.

Recentemente, Manuel Pinho surgiu envolto numa outra polémica judicial, esta relacionada com o facto de reclamar do Novo Banco uma reforma antecipada negociada com Salgado (a que teria direito desde os 55 anos) de3,5 milhões de euros de compensações até à idade da reforma (65 anos). Esta verba era o resultado, não de ter sido vice-presidente do BES África, mas do exercício de funções de administrador executivo no BES durante dez anos anos.

A 20 de Abril de 2015, Manuel Pinho entrou com um processo em tribunal a reclamar o pagamento de 1,8 milhões de euros, accionado contra o Novo Banco (ex-BES) e o Novo Banco África (ex-holding BES África). Em 2014 recebia um vencimento mensal do BES África de quase 40 mil euros.

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Na foto: Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo socialista depois de, no quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido um gesto de corninhos à bancada comunista / Nelson Garrido

Brasil. DEPOIS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2014, UM NOVO RISCO DE RETROCESSO




A atual crise politica Brasileira foi deflagrada em janeiro de 2015, quando o governo da presidenta reeleita revelou haver um déficit orçamentário nas contas publicas devido á intensificação de investimentos em infraestrutura e na área social. A partir dai, a grande mídia, com destaque para organizações Globo, passou a apregoar maciçamente, repetidas vezes, a “ existência” de uma recessão econômica no país, omitindo dados positivos e divulgando enfaticamente dados negativos.

Paralelamente, esses setores da imprensa passaram a intensificar em seus noticiários a cobertura de informações sob investigação, sendo algumas não comprovadas, surgidas na operação lava jato (que vem revelado, desde 2014, um esquema de corrupção montado para comprar o apoio de políticos e partidos e financiar campanhas eleitorais, esquema este existente desde governos anteriores, mas somente investigado na administração petista). Entretanto, omitem ou tratam com brevidade as noticias reveladores de escândalos nos quais estão envolvidos os opositores do PT.

Sob o pretexto de indignação com a corrupção, movimentos conservadores de extrema direita recentemente fundados (pátria Brasil, Vem pra rua, Estudantes pela liberdade, Brasil livre e revoltados online), passaram a realizar protestos hostilizando os seguimentos de esquerda, as conquistas sociais dos governos petistas e a concessão de direitos as classes menos favorecidas e as minorias. Esses movimentos são financiados, direta ou indiretamente, por grandes corporações empresariais nacionais, como o grupo votorantin, e estrangeiras, como a Roch industries, segunda maior empresa privada dos Estados Unidos.

Fatos e declarações públicas passaram a evidenciar o curso de um bem articulado golpe de estado capitaneado pelos partidos de direita, principalmente DEM e PSDB, pela maioria do empresariado brasileiro e por agentes internacionais, notadamente norte americanos, com o apoio de grandes órgãos de comunicação de massa do alto escalão da policia federal, de parte do judiciário e do ministério publico e ate de partidos antes aliados, ansiosos por maior controle do poder em âmbito nacional.  

Tais evidencias  vem ganhando maior notoriedade nos níveis investigativo e jurídico, caracterizadas pela parcialidade e pelo desacordo com as leis vigentes no pais. Eis alguns exemplos :

- desprezo ou tratamento superficial a denuncias e indícios que compremetem políticos de direita;

- alardeamento de acusações sem provas;

- atribuição publicas de culpas, antes da extensão do direito de defesa;

- conduções coercitivas sem previa intimação descumprida;

- interceptações telefônicas clandestinas, vitimando, inclusive, agentes públicos com foro privilegiado;

- vazamentos de informações sob segredo da justiça;

- prisões sem elementos comprobatórios de culpa;

- investigações além do limite jurisdicional;

- fornecimento de conteúdos processuais por parte da procuradoria Geral da Republica aos Estados Unidos, cujos dados põem em risco o sigilo d informações sobre a explorações petrolífera Brasileira.

O Brasil vive um momento histórico, onde estão ameaçadas a democracia, a inclusão social promovida pelos governos Lula e Dilma e a soberania nacional. Trata–se de um jogo de poder onde as regras são ignoradas e uma luta de classes onde o oprimido é induzido pela contra informação a apoiar o opressor.

Antes que as consequências sejam ainda mais trágicas, urge que haja envolvimento decisivo por parte de todos os cidadãos de pensamento emancipado e de todos os países alinhados aos fundamentos esquerdistas e democráticos.


A LAVANDARIA DO PANAMÁ - cartoon de Latuff



Charge do Latuff: Os clientes internacionais da lavanderia do Panamá

Carlos Latuff, São Paulo – Opera Mundi

'Panama Papers', vazados de escritório de advocacia Mossack Fonseca, do Panamá, implicam políticos de vários países em irregularidades fiscais

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador de Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Para encontrar outras charges do autor, clique aqui.

Brasil. A CRISE É MENTAL



O bestialógico galopa enquanto um criminoso decide o destino do Brasil. Mas há um problema mundial...

Mino Carta – Carta Capital

O escândalo chamado Panama Paperscabe com encaixe perfeito entre os resultados da sujeição do mundo ao deus mercado que o papa Francisco mais propriamente definiria como demônio do dinheiro.

Antes de cogitarmos de uma reforma política brasileira, de resto, por ora tão improvável quanto duvidosa, seria altamente recomendável uma reforma do globo terráqueo. De sorte a reverter o processo destinado a enriquecer cada vez mais uns poucos para empobrecer e imbecilizar os demais. Aludo a bilhões de seres ditos humanos.

Um jurista italiano em recente visita ao Brasil, ex-integrante da força-tarefa da Operazione Mani Pulite, Gherardo Colombo, convidado com o transparente propósito de constatar convenientes similitudes entre aquela ação justiceira e a Lava Jato, cuidou de desencantar os anfitriões, de sorte a não merecer maior repercussão na mídia nativa, a do pensamento único a favor do golpe.

A tese central de Colombo, exposta no debate promovido para favorecer Sergio Moro e os promotores curitibanos, é a seguinte: em situações de corrupção desenfreada, a magistratura terá de agir para prender e incriminar quem quer que seja, mas não extirpará o mal se este for da cultura do país. O pecado só será remido pela educação dos graúdos e dos miúdos. Dura lição, que não se coaduna com as pretensões da Lava Jato.

A corrupção é global, como, por exemplo, os Panama Papers comprovam. Nem por isso Moro e sua operação deixam de ser representativos de um país a seu modo único. A Lava Jato presta-se a fornecer munição a uma tentativa de golpe, vale-se de uma polícia disposta a desservir ao Estado para favorecer a manobra em sintonia com a mídia compactamente envolvida no processo.

Atenta contra a lei impavidamente e tanto esquece a origem da corrupção e seus mais atilados praticantes, bem como liquida em um piscar de olhos a possibilidade de qualquer envolvimento da Mossack.

Desponta a urgência de interrogar os botões: por que será que Moro e cia. enterraram o assunto? Respondem: talvez o peso de nomes graúdos detentores das offshore à margem do canal, nomes retumbantes, tenha aconselhado o súbito recuo, mesmo depois da prisão de cinco suspeitos da Mossack, logo postos em liberdade.

Uma pergunta chama outra: e por quais cargas-d’água as atividades do empresário Fernando Henrique Cardoso e do seu endiabrado herdeiro Paulo Henrique não mereceram eco da mídia nativa? Ora, ora, respondem os botões, FHC é ainda mais invulnerável do que Aquiles, o herói grego de calcanhar indefeso. Nem mesmo Páris, de excelente pontaria, conseguiria abater o ex-presidente sem pontos fracos.

A incerteza do momento precipita mais perguntas. Por que ressurge a proposta da renúncia da presidenta Dilma, formulada tempos atrás pelo acima citado FHC? A Folha de S.Pauloressuscita a ideia como portadora da bandeira a abrir o desfile olímpico. Marcha imponente, a convocar muitos dos titulares da casa-grande, seus aspirantes e fâmulos.

E por que Dilma haveria de renunciar? Nada empurra a tanto o vencedor de uma eleição, menos ainda a lei. Há quem diga: antecipemos as eleições, outubro próximo seria uma boa data. A presidenta reage com louvável ironia: pois então, renunciemos todos em bloco, governo, governadores e congressistas.

A quem aproveita a proposta? Panorama confuso, de névoa do Mar do Norte, na madrugada invernal. Em meio à cerração, aparecem desentendimentos na tripulação do barco golpista. Não vale a pena perder tempo em relação ao patético comportamento de Marina Silva, crente ferrenha das pesquisas, incapaz de perceber que a coisa pega somente nas cercanias do pleito.

Permito-me outros exemplos: eleições em outubro não comovem, por motivos diversos, Michel Temer e Aécio Neves. Encantam, porém, por razões insondáveis, Paulo Skaf, aquele que estimula imensa saudade de Antonio Ermírio de Moraes e Olavo Setubal, dois empresários que praticaram a política com outros méritos e válidos atributos. Tampouco está claro se Skaf é empresário.

Algo é certo, soletram os botões: a proposta da renúncia nasce de uma forte dúvida a respeito do desfecho da manobra golpista do impeachment. A tigrada deu para temer, de uns dias para cá, que o complô soçobre no fracasso final.

Retomada a normalidade democrática, e diante de uma crise iniciada no exterior que não tende a arrefecer, a possibilidade de antecipar eleições gerais poderia ser levada em conta, ao cabo de um amplo debate e de uma adequada emenda constitucional, operada pelos poderes previstos em lei.

Antecipação de um ano, para outubro de 2017, quem sabe. Não é por acaso, de todo modo, que a Folha assuma o papel de portador da proposta da renúncia, inequivocamente golpista nas circunstâncias. Diz um caro amigo que o jornalão da família Frias é o mais hipócrita da categoria.

Abriga textos que contradizem a linha do jornal, sem contar a pretensão do ombudsmanfaccioso, para alardear uma isenção desmentida na totalidade dos demais espaços. OEstadão é um vetusto fazendeiro que não consegue enxergar além da cancela das suas terras. O Globo é homem de negócios suspeitos, sem escrúpulos, entregue ao demônio do dinheiro.

Os jornalões, os revistões e os programões abrigam o bestialógico mais grandioso da história do País. No confronto, o Febeapá da Stanislaw Ponte Preta empalidece. O que se lê e se ouve, imediatamente repetido por uma fatia conspícua da sociedade, é algo que não tem similar mundo afora. Trata-se de um besteirol clangoroso que exibe o estágio cultural primitivo de uma nação carente de saúde mental.

Não falta quem escape ao desastre, mas o conjunto da obra é apavorante. Fôssemos diferentes, nos riríamos dos equívocos, dos mal-entendidos, das acusações pueris, e das pretensões descabidas, das ambições idem, dos exibicionismos provincianos, da pompa ridícula, da ostentação grosseira, da vulgaridade geral. O fenômeno apresenta, contudo, uma imponência tão avassaladora a ponto de provocar por parte de quem dispõe de bons olhos, vergonha e desalento.

Perguntam agora meus envergonhados botões: quem haverá, neste Brasil em apuros, capaz de entender que o impeachment não resolve a crise, pelo contrário, a complicaria? E quem se dá conta de que os Panama Papers desvendam o ninho do ovo da serpente da crise que, sem isentar o País, transcende a economia?

Há outra discrepância, ainda mais espantosa, a denunciar ausência de saúde mental, bem como política: enquanto se discute se Dilma cometeu um crime inexistente, decide os destinos do Brasil um notório criminoso chamado Eduardo Cunha

MEDITERRÂNICA VITÓRIA DA “GARBOSA ARMADA” DA NATO!




Há precisamente cinco anos começou a saga dos refugiados de guerra Mediterrâneo adentro, uma saga inaugurada a partir da Líbia, na altura no encalço sobretudo das portas da Europa mais à mão e a norte, as ilhas italianas de Lampedusa ou da Sicília, ou mesmo a ilha de Malta.

Eram, como inúmeras vezes foi lembrado, “danos colaterais” provocados pela briosa, libertadora e tão democrática campanha da NATO naquela “primavera” mágica de 2011…e se morressem no mar, como haveria de acontecer afinal com tantos e tantos em perdidas estatísticas, não passariam jamais dessa catalogação de “imprevisíveis danos colaterais”…

Além disso, naquela altura eram em sua grande parte africanos que preenchiam os “danos” e o melhor era mesmo eles morrerem longe e quantos mais, melhor, conforme muitos dos esclarecidos comentadores do diário italiota “Il Giornale”…ficava-lhes mesmo a matar essa do rótulo de “danos colaterais”, um rótulo feito à medida, até parece feito por alfaiate!

Agora a tão civilizada e democraticamente representativa União Europeia, ciosa de suas humanidades, dos direitos afins e de suas brilhantes campanhas no ultramar, entre as modernas“coloridas revoluções” e “primaveras árabes” fechou as portas da “fortaleza”, recorrendo ao expediente da limpeza migratória desse tão escrupuloso Erdogan, varredor de fronteiras, distraído traficante de petróleo roubado e polivalente revitalizador do Daesh, da Frente Al Nushra e de outros “moderados”, lá pelas Sírias e Iraques pestilentos e mais além nos Afeganistões, nos Iémens, noutros confins, noutras regiões obscuras, noutros covis de fieis-infiéis!…

Agora, a Grécia rendida ao “diktat” das oligarquias europeias, endividada sem limites e esvaída no que à sua própria independência e soberania diz respeito, tornou-se a sentinela interna da“fortaleza”, enquanto a Turquia é sentinela externa e nos limites da coutada.

Agora o que é certo, cinco anos depois e para segura protecção da União Europeia, é que não haverão mais “danos colaterais” no Mediterrâneo, graças a tão civilizados ofícios nos marítimos campos de batalha, quanto nos governos e suas diplomacias!... Finalmente conseguiu-se fechar as portas da União Europeia e montar a guarda para fazer face à avalanche humana de estranhos costumes e opções!

Mediterrânica vitória da “garbosa armada” da NATO e os mouros que fiquem lá longe pela Anatólia “a ver navios”, pois o codicioso Erdogan foi pago para isso e para muito mais… às tantas pago até para benevolentemente experimentar umas bombazitas nucleares “tácticas”, para participar na festa do aquecimento global e na caridosa missão de reduzir a população mundial que teimosamente não pára de crescer!

Cinco anos depois o planeta trágico-cómico está mesmo quente, minha gente, embora hajam tantos a confirmar, “a pés juntos” ou no fundo do mar, que não, que esta ainda não é a IIIª Guerra Mundial, pois falta sempre mais qualquer coisinha para que o seja!...

Os sábios europeus reflectem em suas filosofias que só será IIIª Guerra Mundial quando ela sacudir a União Europeia, o que foi evitado finalmente com a vitória da Armada da NATO no mar e por que essas peripécias de Paris, de Bruxelas e de outras capitais, são ninharias que passam bastando para tal chorar vergado sob seu próprio umbigo.

Constatem quanto o mundo progrediu e se tornou cada vez mais feliz e democrático de há cinco anos a esta parte:

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 15

MARTINHO JÚNIOR

“DANOS COLATERAIS”

As Decisões do Conselho de Segurança da ONU, perdendo-se a oportunidade para o cessar-fogo, o diálogo entre as partes e as obrigações perante o povo líbio e os largos milhares de trabalhadores migrados que viviam naquele país, directa ou indirectamente estão na origem de mais miséria e morte num espectro que alastra para lá das fronteiras do conflito e se estende por diversas regiões, inclusive Mediterrâneo dentro.

Os resultados da ingerência militar na Líbia são cada vez mais contraditórios aos seus propósitos: é este um dos preços do petróleo que os países produtores estão a pagar, em nome da cobiça anglo-saxónica!

De quem é a responsabilidade directa duma situação como esta?

Sendo de Kadafi na sua quota-parte, dos rebeldes (uns verdadeiros, cada vez menos verdadeiros, outros agentes do império) a responsabilidade alastra à medida da miséria e da morte, para outros intervenientes que tendo tido a oportunidade de outras alternativas, escolheram uma vez mais a pior delas, por que como Hitler não sabem fazer melhor!

Sílvio Berlusconi, Sarkozy, Cameron e Obama têm cada vez mais quota-parte de responsabilidade, por cada um dos inocentes que encontram fim perante a inevitabilidade do pântano que se soma a outros muitos mais pântanos em que todos nós cidadãos do mundo amantes da vida, estamos a cair, mesmo que os “danos colaterais” tenham sido produzidos não em nosso nome!

Os dirigentes africanos que votaram a favor da Resolução 1973, têm também sua quota-parte de responsabilidade, ao não assumirem de forma prevenida outra disposição senão aquela que aceitou o enredo das potências ocidentais e, por fim, da OTAN.

África está a pagar mais barbaridades, a juntarem-se às muitas outras barbaridades que tem vindo a sofrer ao longo de séculos e, tendo sido o berço da humanidade, está também a tornar-se, um pesadelo e um sepulcro das esperanças que deveriam alimentar a humanidade!

OTAN FORA DE ÁFRICA JÁ! - PAZ SIM, NATO NÃO!

Martinho Júnior - 9 de Maio de 2011


“Naufrágio em Lampedusa: leitores do “Il Giornale” fazem apologia à morte de imigrantes”

Direção do “Il Giornale” divulgou uma nota, na qual se dissocia dos comentários deixados por seus leitores sobre o naufrágio de um barco de imigrantes em Lampedusa.

Lampedusa, 7 de abril de 2011 - "Esperamos que não encontrem outros com vida", "Pena, muitos sobreviveram", "Naufrágio de um barcone? Quem se importa?" - estes foram alguns comentários deixados por leitores do "Il Giornale" no site da empresa sobre a notícia da tragédia ocorrida ontem em Lampedusa, onde uma embarcação com 300 migrantes afundou.

A apologia à morte de imigrantes feita pelos leitores do “Il Giornale” levou a redacção do jornal a emitir uma nota - mas só no final da tarde – dissociando-se dos comentários expressos. "Il Giornale.it se dissocia e considera deplorável, de maneira mais absoluta, alguns comentários escritos pelos leitores sobre este artigo. Devido o conteúdo ofensivo, muitos comentários foram removidos. Convidamos todos os leitores a manter o debate sobre um plano mais civil e sem provocações gratuitas", diz a nota.

A precária embarcação de migrantes e refugiados, principalmente somalis, bengalis, sudaneses e eritreus, proveniente da Líbia, afundou a 65 quilómetros da Ilha de Lampedusa, em águas territoriais de Malta. A Guarda Costeira italiana e pescadores sicilianos conseguiram salvar, até o final da tarde de ontem, 50 das 300 pessoas que estavam a bordo do barco. Segundo informações da Organização Internacional da Imigração (OII), entre os imigrantes estavam cinco crianças e 40 mulheres, das quais apenas duas sobreviveram.

A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Unhcr), Laura Bodrini, entrevistada pela Rádio Vaticana, disse que o número de mortos pode chegar a 200. "Os sobreviventes chegaram em Lampedusa com o terror no rosto, em estado de choque", disse Bodrini, informando que uma das duas mulheres sobreviventes está grávida.

A Guarda Costeira da Itália investiga as circunstâncias do naufrágio. Segundo as primeiras informações divulgadas, o barco havia partido da Líbia há pelo menos dois dias. Sobreviventes contaram aos representantes da OII que eles conseguiram nadar até os barcos de socorro que se aproximavam, mas vários outros se afogaram porque não sabiam ou não conseguiam nadar.

O capitão de um pesqueiro siciliano, que conseguiu resgatar três pessoas, disse que a cena foi impressionante. "Foi terrível. As cabeças dos náufragos ficavam fora da água e depois afundavam. Todos gritavam por socorro", relatou Francesco Rifiorito à Ansa.



Imagem - Mapa da Grécia: uma miragem perdida (e proibida) para os “danos colaterais”.

AUTÓPSIA DE UMA COBERTURA JORNALÍSTICA



Os criminosos ficaram em liberdade e os media encobriram o crime

Media Lens

Na noite de 3 de outubro de 2015, um AC-130 Gunship da US Air Force atacou repetidamente um hospital dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no Afeganistão. Foram mortas 42 pessoas e dezenas ficaram feridas. O avião militar dos EUA efetuou cinco bombardeamentos durante mais de uma hora apesar dos apelos dos MSF aos funcionários afegãos, norte-americanos e da NATO para cancelar o ataque.

Conforme noticiámos na altura, os MSF foram perentórios na sua condenação do ataque norte-americano. O hospital foi "intencionalmente alvejado" num "massacre premeditado"; foi um"crime de guerra" . A organização médica rejeitou as garantias dos EUA de três inquéritos feitos pelos EUA, pela NATO e pelo governo afegão. Os MSF exigiram uma investigação internacional independente. Não serviu de nada. Os EUA ignoraram o escândalo público e prosseguiram com os seus procedimentos de branqueamento habituais quando pratica crimes de guerra que são denunciados. O resultado foi anunciado a 18 de março. A BBC Newsnoticiou:

"As forças militares dos EUA levantaram processos disciplinares a mais de uma dúzia de membros depois de um ataque aéreo a um hospital dos Médicos sem Fronteiras (MSF) no Afeganistão ter matado 42 pessoas, no ano passado.

"O Pentágono reconheceu que a clínica foi alvejada por engano, mas ninguém enfrentará acusações criminais".

De notar que nas palavras da BBC – "O Pentágono reconheceu que a clínica foi alvejada por engano – são uma expressão tendenciosa. A BBC não mencionou que os MSF tinham apresentado fortes provas de que a clínica foi "deliberadamente alvejada", de que o ataque foi um "crime de guerra" e de que havia necessidade urgente de um inquérito independente.

A BBC continuava:

"As sanções, que não foram tornadas públicas, foram sobretudo administrativas. 

"Alguns receberam reprimendas formais, outros foram suspensos do serviço. 

"Houve processos disciplinares para oficiais e para o pessoal mobilizado, mas nenhum general foi punido".

Os MSF disseram que não iriam fazer comentários enquanto o Pentágono não tornasse público o seu relatório. (Na altura deste artigo, isso ainda não aconteceu).

Na manhã de 18 de março, reparámos que a notícia da BBC esteve, pelo menos durante algum tempo, ligada a partir da página principal do seu sítio web noticioso. Mas depressa foi retirada da sua posição importante e enterrada profundamente na secção das notícias internacionais. Isto não é invulgar, quando se noticiam os crimes do Ocidente, se é que são noticiados.

As nossas pesquisas subsequentes na Internet revelaram apenas quatro notícias moderadas de jornais, relativamente breves, na imprensa britânica de que o pessoal dos EUA tinha sido "punido" pelo bombardeamento de Kunduz: no Independent , no Daily Mail, no Telegraph e no Guardian . O Telegraph noticiava que o Pentágono iria em breve "publicar uma versão do seu relatório sobre o ataque. Será redigido de forma a não ser classificado como material confidencial". Por outras palavras, tudo o que seja demasiado embaraçoso ou prejudicial para os interesses dos EUA.

Uns dias depois, a 23 de março, uma pequena notícia na página 34 do The Times tinha o título "Comandante norte-americano lamenta ataque ao hospital". A totalidade da peça, ao todo 61 palavras, era assim:

"O novo comandante das forças EUA-NATO no Afeganistão apresentou desculpas pelo ataque errado a um hospital em Kunduz no passado mês de outubro, que matou 42 pessoas. O general John Nicholson do exército dos EUA, foi à cidade do norte para se encontrar com familiares dos que morreram no hospital, dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras. Disse que o incidente fora uma "tragédia terrível".

Como sempre, as atrocidades do Ocidente são descritas como "tragédia", em vez de "crime de guerra". Nenhum outro jornal nacional do Reino Unido, tanto quanto pudemos ver, noticiou as "desculpas" do general Nicholson.

New York Times fez melhor, e incluiu esta citação de Zabiullah Niazi, um enfermeiro que perdeu um olho, um dedo e o uso de uma mão, assim como sofreu outros ferimentos no ataque dos EUA:

"Atingiram-nos há seis meses e agora vêm pedir desculpas. O chefe do conselho provincial e outros funcionários que disseram que nós aceitamos as desculpas, não teriam dito isso, se tivessem perdido um filho e comido cinzas, como aconteceu connosco".

Segundo Mr. Niazi, o general Nicholson nem sequer apareceu numa reunião arranjada no gabinete do governador, com dois sobreviventes e membros das famílias das vítimas. Em vez disso, fez um discurso num auditório apinhado, em que os membros das famílias e os sobreviventes não tiveram possibilidade de falar. Como mais um sinal dos procedimentos profundamente encenados, a mulher do general apareceu para "dizer olá, num minuto, e exprimir a sua pena", disse Mr. Niazi. Passou mais tempo – cinco minutos – com mulheres sobreviventes e membros das famílias, numa sala em separado.

As "desculpas" do general também foram desdenhadas por um médico afegão cujo irmão, também médico, foi morto no ataque norte-americano. O Dr. Karim Bajaouri disse:

"Estão a pedir perdão por terem morto civis?! Estão apenas a pedir desculpas? Primeiro disparam sobre civis e depois pedem desculpa. Pessoalmente, não preciso dessas desculpas, não as aceito. As nossas feridas morais não podem ser curadas dessa forma".

O Guardian fez recentemente uma referência de passagem a Kunduz num artigo de Simon Tisdall, editor assistente e colunista de assuntos externos. A peça focava o Afeganistão como uma questão de eleições na corrida presidencial nos EUA.

"O facto de que a mais memorável contribuição dos EUA para a batalha de Kunduz foi a destruição de um hospital dos Médicos Sem Fronteiras, com a perda de pelo menos 22 vidas, nenhuma delas de rebeldes, realçou como a missão dos EUA no Afeganistão se tornou infeliz e acidental".

(Estranhamente, o artigo de Tisdall foi inicialmente publicado em 15 de outubro de 2015, mas depois foi atualizado em 29 de março de 2016, presumivelmente para incluir a linha acima.

Mais uma vez, o jornalismo "liberal" colaborador destaca-se pela sua prontidão em rotular crimes de guerra como "infelizes" e "acidentais".

Na sequência da declaração do Pentágono sobre as "punições" para os criminosos de Kunduz, um artigo no sítio web da Foreign Policy assinalava:

"Os defensores dos direitos humanos denunciaram a decisão dos militares norte-americanos de não apresentarem queixas criminais contra as tropas".

Andrea Prasow, da Human Rights Watch disse ao Foreign Policy:

"É incrivelmente frustrante e desencorajador. Fizemos a nossa análise do caso e pensamos que devia haver uma investigação criminal".

Conforme Prasow observou, os militares norte-americanos "têm interesse em proteger os seus".

A Human Rights Watch acrescentou:

"Com toda a razão, os membros das famílias das vítimas verão isto como uma injustiça e um insulto: os militares dos EUA investigaram e decidiram que não tinha havido crimes".

A declaração continuava:

"A ausência de investigação criminal de funcionários seniores responsáveis pelo ataque não só é uma afronta às vidas perdidas no hospital dos MSF, mas um golpe contra o estado de direito no Afeganistão e em toda a parte.

Estes comentários contrastam profundamente com a branda indiferença da imprensa "liberal".

Em resumo, a reação à "punição" do Pentágono dos criminosos de Kunduz, na imprensa "dominante" foi tão instrutiva como de costume. Como habitualmente, não encontramos um único editorial ou coluna que denuncie esta recente lavagem dos EUA de crimes dos EUA.

Mais uma vez, é prática usual dos media ocidentais troçar dos Inimigos Oficiais, mantendo-se cegos aos crimes dos "nossos" Gloriosos Líderes.

O original encontra-se em www.medialens.org/... . Tradução de Margarida Ferreira. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

PORQUÊ OS “PAPÉIS DO PANAMÁ”?



Thierry Meyssan

Contrariamente às aparências, a campanha dos «Papéis do Panamá» não terá por consequência restringir os desvios financeiros peculato e aumentar as liberdades, mas, exactamente o contrário. O sistema irá contrair-se um pouco mais em torno do Reino Unido, da Holanda, dos Estados Unidos e de Israel, de tal modo que eles, e só eles, terão o seu contrôlo. Violando, nisto, o princípio da igualdade perante a Justiça e a sua ética profissional, os membros do International Consortium of Investigative Journalists («Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação»- ndT) colocaram-se ao serviço dos inimigos da Liberdade e como defensores do Grande capital, e, o facto de, na passada, eles terem apanhado alguns malfeitores nada aí mudará. Explicações.

A estratégia económica dos Estados Unidos

No início de seu mandato, o Presidente Obama designou a historiadora Christina Romer para presidir ao seu Comité de Conselheiros económicos. Esta professora, na Universidade de Berkeley, é uma especialista na crise de 1929 (conhecida como «A Grande Depressão»- ndT). Segundo ela, nem o New Deal de Roosevelt, nem a Segunda Guerra Mundial permitiram sair dessa recessão, mas, sim o afluxo de capitais europeus a partir de 1936, fugindo da «subida dos riscos».

Foi em cima desta base que Barack Obama conduziu a sua política económica. Em primeiro lugar, agiu para fechar todos os paraísos fiscais que Washington e Londres não controlam. Depois, ele organizou a desestabilização da Grécia e de Chipre, de maneira a que os capitais europeus se refugiem nos paraísos fiscais anglo-saxões.

Tudo começou na Grécia, em Dezembro de 2008, com manifestações após o assassinato de um adolescente por um policia. A CIA transportou, por autocarro, gorilas do Kosovo para desfazer uma manifestação e montar um princípio de caos [1]. O Departamento do Tesouro pode, então, verificar que os capitais gregos fugiam do país. A experiência era conclusiva, a Casa Branca decidiu mergulhar este frágil Estado numa crise financeira e económica, que pôs em causa a própria existência da zona Euro. Como previsto, cada vez que alguém se interroga sobre uma eventual expulsão da Grécia do euro. ou sobre uma dissolução da zona do euro, os capitais europeus precipitam-se para os paraísos fiscais disponíveis, principalmente britânicos, norte-americanos e holandeses. Em 2012, uma outra operação foi concretizada contra o paraíso fiscal de Chipre. Todas as contas bancárias para além dos 100. 000 Euros foram confiscadas. Foi a primeira, e única vez, numa economia capitalista que observamos esse tipo de nacionalização [2].

No decurso dos últimos oito anos, assistimos a numerosas reuniões do G8 e do G20 que estabeleceram todo o tipo de regras internacionais, supostamente para prevenir a evasão fiscal [3]. No entanto, uma vez estas regras adoptadas por todos, os Estados Unidos –-e, em menor escala Israel, a Holanda e o Reino Unido--- isentaram-se delas, a si próprios.

Os paraísos fiscais

Cada paraíso fiscal tem um estatuto jurídico especial, geralmente absurdo.

Actualmente, os principais paraísos fiscais são o Estado independente da City de Londres (membro do Reino Unido, da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte), o Estado de Delaware (membro do Estados Unidos) e Israel, mas existem muitos outros paraísos fiscais, especialmente britânicos, a começar pelas ilhas de Jersey e de Guernsey (membros do Ducado da Normandia e, como tal, colocados sob a autoridade da Rainha da Inglaterra, mas, nem membros do Reino Unido nem da União Europeia), Gibraltar (um território espanhol, cuja contrôlo do terreno é inglês e que o Reino Unido ocupa ilegalmente) até Anguila, Bermudas, Ilhas Caimão, ilhas Turcas, Ilhas Virgens ou Montserrat. Há também alguns ligados à Holanda: Aruba, Curaçao e Saint Maarten.

Um paraíso fiscal é uma «zona franca» alargada a todo um país. No entanto, no imaginário colectivo, uma zona franca é indispensável para a economia, enquanto um «paraíso fiscal» é uma calamidade, ora trata-se exactamente da mesma coisa. Claro, certas empresas abusam de zonas francas para não pagar impostos, e outras tiram proveito abusivo de paraísos fiscais, mas isso não é razão para pôr em questão a existência destes dispositivos indispensáveis ao comércio internacional.

Na sua guerra contra os paraísos fiscais não Anglo-saxões, os EUA tem-se centrado em desferir golpes contra a Suíça [4]. Este país tinha desenvolvido um estrito sigilo bancário, permitindo a pequenos empreendedores realizar transações ao abrigo dos graúdos. Ao forçar a Suíça a abandonar o seu sigilo bancário, os EUA estenderam a sua vigilância em massa às transacções económicas. Desta forma, eles podem facilmente aldrabar a concorrência e sabotar a acção dos pequenos empreendedores.

Os «Papéis do Panamá»

É neste contexto que Washington forneceu ao Süddeutsche Zeitung 11.500. 000 de ficheiros informáticos, pirateados no quarto escritório de advocacia no mundo encarregue de criar empresas off-shore. Sendo esta espionagem um crime, os pretensos «atiradores de lamirés» que o realizaram permaneceram anónimos. É claro que Washington primeiro triou cuidadosamente os dossiês e excluiu, antes de tudo, todos os relativos a cidadãos ou empresas norte-americanas, depois, provavelmente, os que dizem respeito aos seus bons aliados. O facto de alguns pretensos aliados, às boas com a administração Obama, —como o Presidente Petro Porochenko— figurarem nesses documentos, confirma-nos que eles acabam de ser revelados pelo seu poderoso protector.

Muito embora o Panamá seja um país de língua espanhola (Castelhano- ndT) e o Süddeutsche Zeitung seja publicado na Alemanha, os arquivos roubados foram nomeados pelos espiões em Inglês : «Panamá Papers».

De passagem, os autores desta fantochada tentam persuadir-nos que todos os que se levantam contra Washington seriam ladrões. Lembremos, por exemplo, das campanhas que foram lançadas contra Fidel Castro, acusado de ser um traficante de drogas e colocado pela Forbes entre as maiores fortunas do mundo [5]. Por ter visto as difíceis condições de vida da família Castro, em Cuba, eu pergunto-me como foi possível montar uma tal atoarda. Os novos secretos magnatas seriam, pois, Vladimir Putin Bashar, Bachar el-Assad e Mahmoud Ahmadinejad —cujo frugalidade é aliás legendária—.

Esta propaganda contra os adversários políticos, não é senão a ponta visível do icebergue, sendo que o mais importante é o futuro do sistema financeiro internacional.

Violação da ética pelos jornalistas

O Süddeutsche Zeitung faz parte do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), uma associação especializada não em jornalismo de investigação, como o título pode sugerir, mas na denúncia de crimes financeiros.

Nas sociedades republicanas, a Justiça deve ser igual para todos. Mas o ICIJ, que já tornou públicos mais de 15 milhões de ficheiros informáticos desde a sua criação, jamais atacou os interesses dos Estados Unidos. Ela não pode, portanto, de certeza pretender agir por preocupação de justiça.

Por outro lado, os princípios republicanos da nossa sociedade determinam obrigações para os jornalistas. Estas foram formalizados na Carta de Munique, adoptada em 1971 por todos os sindicatos profissionais do Mercado Comum, depois estendidas ao resto do mundo pela Federação Internacional dos Jornalistas.

Eu compreendo, perfeitamente, que este texto impõe limitações, por vezes difíceis de suportar. E eu, há alguns anos, fiz parte daqueles que acreditavam ser útil violá-la de vez em quando. Mas, a experiência prova que ao violá-la se abre a via para outras violações, que se voltam contra os cidadãos.

Os jornalistas do International Consortium of Investigative Journalists não se colocaram nenhuma interrogação ética. Eles aceitaram trabalhar com documentos roubados, e escolhidos de avanço, sem ter a menor possibilidade de conferir a sua autenticidade.

A Carta de Munique estipula que os jornalistas só publicarão informações cuja origem é conhecida, que eles não suprimirão informações essenciais e não alterarão os textos e os documentos; finalmente, que eles não usarão métodos desleais para obter informações, fotografias e documentos. Três requisitos que eles violaram, com perfeito conhecimento de causa, o que deveria excluí-los de organismos profissionais e provocar a saída dos directores da BBC, da France-Télévisions, da NRK, e por que não da Radio Free Europe / Radio Liberty (a rádio da CIA, a qual é também membro do Consórcio de Jornalistas).

Este não é o primeiro caso do International Consortium of Investigative Journalists. Foi ele que tornou públicos, em 2013, 2,5 milhões de ficheiros informáticos roubados em 120.000 empresas off-shore. Depois, ainda foi ele quem revelou, em 2014, os contratos assinados entre multinacionais e o Luxemburgo, para beneficiar de uma fiscalidade privilegiada. E, foi sempre ele que revelou, em 2015, as contas do banco britânico HSBC na Suíça.

O International Consortium of Investigative Journalists, suspeita-se, é financiado por diversas organizações ligadas à CIA, como a Fundação Ford, e as fundações de George Soros. Este último exemplo é o mais interessante : para os membros do ICIJ o dinheiro do Sr. Soros não vem da CIA mas das suas especulações financeiras, em desfavor dos povos, o que tornaria a coisa mais aceitável.

Sem paraísos-fiscais não Anglo-saxões, mais Resistência

Que o Hezbolla detêm empresas e contas secretas no Panamá, e por outros lados, nada têm de surpreendente. Eu referia num artigo recente os esforços da Resistência libanesa para se auto-financiar, sem ter que depender de subvenções iranianas. A complexa montagem financeira à qual se dedicou deverá ter de ser inteiramente reconstruida, à mingua do qual o Líbano se tornará a presa dos seus vizinhos israelitas.

Que o Presidente Ahmadinejad tenha criado sociedades off-shore, para contornar o embargo do qual o seu país era vítima e vender petróleo, não só não é um crime, mas, sim todo um elogio.

Que a família Makhlouf, os primos do Presidente el-Assad, tenha utilizado uma montagem financeira para contornar o embargo ilegal das potências ocidentais, e permitir aos Sírios alimentar-se durante cinco anos da guerra de agressão, é também totalmente legítima.

Que vai restar desta vasta revelação ? Primeiro, a reputação do Panamá fica destruída e levará muitos anos a reparar. Em seguida, os pequenos malfeitores que se aproveitaram do sistema serão processados na Justiça, enquanto uma enorme quantidade de comerciantes honestos terão de se justificar perante os tribunais. Mas, ao contrário das aparências, os que animam esta campanha velarão para que nada mude. O sistema irá permanecer, portanto, em acção, mas, sempre, cada vez mais em exclusivo benefício do Reino Unido, da Holanda, dos Estados Unidos e de Israel. Acreditando defender as suas liberdades, aqueles que participarem nesta campanha irão tê-las, na realidade, mais diminuídas.


[1] O meus agradecimentos para os leitores que encontrarão a entrevista que dei a um média grego sobre este assunto, em 2009. Eu não escrevi nenhum artigo, apenas um parágrafo, a propósito, em « La "révolution colorée" échoue en Iran » («A “revolução colorida” falha no Irão»- ndT), por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 24 juin 2009.
[2] “O pião cipriota”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria) ,Rede Voltaire, 25 de Março de 2013.
[3] « Le G 20 : une hiérarchisation des marchés financiers » («O G-20 : uma hierarquização de mercados financeiros»- ndT), par Jean-Claude Paye, Réseau Voltaire, 9 avril 2009.
[4] « Lutte contre la fraude fiscale ou main mise sur le système financier international ? », « UBS et l’hégémonie du dollar », par Jean-Claude Paye,Réseau Voltaire, 3 mars et 21 octobre 2009.
[5] « Forbes invente la fortune de Fidel Castro », par Salim Lamrani,Réseau Voltaire, 24 mai 2006.


É O CAPITALISMO, ESTÚPIDO!



Rui Sá* – Jornal de Notícias, opinião

Esta semana ficou marcada pelo escândalo dos "Panamá Papers". Não pela existência de uma empresa panamiana dedicada à gestão de entidades offshore (curiosamente o eufemismo de paraísos fiscais que, por sua vez, são um eufemismo para empresas veículo de fuga ao Fisco e/ou de branqueamento de capitais). Isso toda a gente sabia...

O que marcou a semana foi, isso sim, a divulgação de nomes de personalidades/entidades com contas offshore. E pela consciência de que são milhares os titulares dessas contas, sendo que a Mossak Fonseca, apesar de grande, não é a maior das empresas que vivem deste negócio...

Recorrendo à citação de um relatório feito em 2013 pela ONG Oxfam, efetuada por Bagão Félix (que a considera conservadora), "o dinheiro em paraísos fiscais terá atingido um valor de catorze milhões de milhões (são muitos zeros!) de euros, o que equivale a 19,5% do total mundial de depósitos e a 82 vezes o nosso PIB", estimando-se que "a perda de receitas fiscais diretas que resultam desta evasão tenha chegado a 160 mil milhões de euros"!

Podemos, naturalmente, questionar se a divulgação dos nomes de titulares destas contas é seletiva, procurando apontar o dedo a uns e poupando outros. Mas a questão fundamental é constatarmos, mais uma vez, como o Mundo está cheio de gente que enche a boca com a virtude, procurando esquecer os seus pecados...

É evidente que os offshore mais não são do que um instrumento para permitir a fuga ao Fisco e para a lavagem de dinheiros sujos. Mas, apesar de todos o saberem e das denúncias pontuais de uns escândalos (mais relacionados com os nomes envolvidos do que com a essência do problema), a verdade é que tudo acaba por ficar na mesma. Porque, apesar de alguns o procurarem negar (tentando salvaguardar o essencial), os offshore correspondem à essência do capitalismo, ou seja, à acumulação de capital. Como os "vistos Gold" nacionais, que mais não visam do que escoar imóveis de luxo, dando a nacionalidade portuguesa a uns magnatas que obtiveram dinheiros ilícitos e que os querem branquear ao mesmo tempo que se salvaguardam da Justiça nos seus países com a obtenção da dupla nacionalidade - o que choca ainda mais quando fazemos o paralelismo com as dificuldades que os refugiados de guerra têm para conseguirem entrar nesta Europa! Ou como quando vemos o sr. Juncker a bolsar umas "postas de pescada" sobre os sacrifícios que os portugueses "devem fazer", quando se sabe que foi o executor de um sistema de taxas de imposto bonificadas que permitiu a diversas das maiores multinacionais sediarem-se no Luxemburgo para fugirem aos impostos nos seus países de origem. Ou quando vemos que a maior parte das empresas que integram o PSI20 nacional têm sede na Holanda, onde pagam impostos menores.

Naturalmente que estes mecanismos, que existem para o capital, estão vedados aos rendimentos do trabalho. Sabendo-se que em Portugal o peso dos rendimentos do trabalho continua a descer (como contrapartida pelo aumento dos rendimentos do capital), tendo atingido o mais baixo valor dos últimos 50 anos.

Por isso não podemos escandalizar-nos pontualmente. Temos de estar escandalizados permanentemente. E atuar! O que, e tendo em conta a (outra) frase da semana, implica bem mais do que umas bofetadas...

*Engenheiro

Portugal. MARCELO ESTÁ A AMPLIAR A “INTRIGA POLÍTICA PALACIANA”



Alfredo Barroso não é admirador de Marcelo Rebelo de Sousa e não teme em demonstrá-lo.

Alfredo Barroso considera que a presença de Mario Draghi no primeiro Conselho de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa se trata do “primeiro grande golpe” do novo Presidente da República.

Trata-se, segundo o antigo socialista, de um “ato de subserviência intolerável por parte do próprio Presidente da República, de uma provocação ao Governo de António Costa, de um insulto aos órgãos de soberania e de uma interferência inadmissível na vida política interna deste País, por parte do arrogante Governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi”.

O desabafo é feito na sua página oficial de Facebook onde aproveita para deixar um alerta à Esquerda: “Não pode baixar os braços e ficar quieta”.

Alfredo Barroso acusa, ainda, Marcelo de ter ampliado a “intriga política palaciana”, a criação de “factos políticos nocivos à vida democrática”, de dar “proverbiais ‘facadas nas costas’” e de ser “puro engano” achar que depois de chegar ao poder que este iria mudar.

O político acredita que Marcelo “não ficará satisfeito” enquanto não “desfazer a maioria de Esquerda” e volta a defender que mais cedo ou mais tarde os portugueses vão perceber  que a decisão de eleger “um velho admirador de Salazar” pode ter sido uma decisão “dramática para a nossa democracia”.

Andrea Pinto – Notícias ao Minuto

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