O
PRESIDENTE DONALD TRUMP ATASCA A OPÇÃO PROTECCIONISTA NA EXAUSTÃO PROGRAMADA DO
CAPITALISMO NEOLIBERAL
Martinho Júnior, Luanda
A
ascensão de Donald Trump nas últimas eleições para Presidente, à frente do
partido republicano nos Estados Unidos, representa o jogo sócio-político duma
fracção do poder da aristocracia financeira mundial, numa tentativa desesperada
de não perder o domínio no quadro duma hegemonia unipolar cada vez mais
vacilante, reconhecendo que, para o efeito, muita coisa há a arrumar
internamente nos próprios Estados Unidos, a fim de continuar a perseguir esse
objectivo.
A
nível interno a oposição (que é preciso relembrar, foi ganhadora no voto
popular), passou deliberamente e de forma teleguiada para as ruas, como se os
Estados Unidos estivessem em plena“Revolução Colorida”, o que concorre para
toda a confusão que alimenta as tendências mais à esquerda, num presumível
campo popular que está efectivamente muito longe de o ser!
De
facto, a recém-instalada administração de Donald Trump, apesar do optimismo de
alguns analistas como Thierry Meyssan, muito atento em relação ao curto
exercício de duas semanas até agora realizado, põe a descoberto o esgotamento
do poder da aristocracia financeira mundial em sua própria tentativa de
acomodação nos Estados Unidos e os equívocos sucedem-se num estonteante
encadeado que demonstra por si a decadência da opção pela hegemonia unipolar
estado-unidense.
A
Donald Trump parece não conseguir chegar o tirar partido directo e sem
interpostas entidades, de maneira distinta aos seus antecessores republicanos,
do poderoso “lobby” da energia e do armamento que tradicionalmente
estimula a corrente a que ele está “tradicionalmente” ligado.
Também
o recurso ao fundamentalismo da civilização judaico-cristã é insuficiente se
não mesmo enfraquecedor, face aos fenómenos sócio-políticos inerentes à complexa
sociedade multicultural dos Estados Unidos e de toda a América.
Desde
a administração republicana de Ronad Reagan que os sucessivos Presidentes se
deixaram aliciar e enredar pelas correntes capitalistas neoliberais que
aproveitaram a especulação por via da“financeirização” até aos limites
para colocar tecnologias e indústrias onde desse mais lucro, produzissem
ingerências e manipulações onde quer que fosse, estimulassem os processos
neocoloniais por todo o mundo e agora as corporações poderosas, em relação às
quais Donald Trump está ligado (como por exemplo a Exxon, ou a Chevron), têm
por si imensas dificuldades em adoptar, a coberto de medidas protecionistas,
soluções que tendem a impedir o colapso corrente a todos os níveis, dentro e
fora dos Estados Unidos, colapso esse provocado pela exaustão neoliberal que
promoveu caos, terrorismo e neoliberalismo, onde quer que se assinalasse a sua
marca mais imperiosa e sangrenta.
Apesar
das evidências do 11 de Setembro de 2001, apesar de Donald Trump querer pôr fim
aos estigmas daí derivados, apesar do enunciado propósito de luta contra o
Daesh e a Al Qaeda, mantendo-se no ambiente sócio-político dos Estados Unidos
uma posição de vantagem das correntes capitalistas neoliberais que se vêm
fortalecendo desde a administração de Ronald Reagan, há sinais evidentes que o
recém-instalado Presidente está atascado no atoleiro redundante das heranças
recebidas:
Em
relação aos poderosos media, a sua acção é insuficiente para desmascarar a
deliberada e continuada mentira, ambiguidade, hipocrisia e cinismo de que fazem
uso, em especial quando são abordados os imensos temas dos relacionamentos
internacionais;
Em
relação aos BRICS, é pálida a tendência de procurar um melhor relacionamento
com a Rússia, quando ao mesmo tempo se vai radicalizando o relacionamento com a
República Popular da China e com a Coreia do Norte, isto é, procurando criar
divisões conforme outrora proveitosas experiências da segunda metade do seculo
passado;
Em
relação à migração, a decisão de impor o fecho de fonteiras aos fluxos humanos
provenientes de 7 países tem sacudido e mobilizado desfavoravelmente a opinião
pública interna e internacional, engrossando as manifestações públicas e as
cores de cada uma das “revoluções coloridas” que animam a vida
pública nas praças e aeroportos dos Estados Unidos;
Em
relação ao muro que quer impor ao México, a reprovação é similar, com ênfase
particular a partir dos estados, organizações internacionais, nações e povos da
América Latina;
Em
relação à Ucrânia, logo aos primeiros e “oportunos” disparos no leste
desse país, Trump pronunciou-se por mais do mesmo, não alterando nada da linha
perseguida por seu antecessor, condenando a Rússia por causa de sua legítima
posição sobre a região e a Crimeia e caucionando as obsoletas sanções;
Em
relação a África distende-se “inevitavelmente” e “por
procuração” o agenciado campo de manobra neocolonial sob os auspícios da
FrançAfrique, tirando sobretudo partido do colapso da Líbia, algo que começa a
minar a própria Presidência da União Africana;
Em
relação ao terrorismo, o equívoco passa pelo facto de Arábia Saudita, Catar e
outras monarquias arábicas não serem os países-alvo das medidas de bloqueio de
fronteiras à migração e de abertura de fluxos de refugiados (os países-alvo
escolhidos foram Irão, Síria, Iraque, Iémen, Líbia, Somália e Sudão)…
Nesta
última decisão, a administração de Donal Trump dá um sinal claro de estímulo em
benefício de iniciativas que só favorecem os falcões de Israel e alguns
interesses, (tão geoestrategicamente limitados quanto antes), das corporações
estado-unidenses e europeias de energia e armamento no continente
euro-asiático, incapazes de integrar a rota da seda, bem como os projectos dos
oleodutos e gasodutos de inspiração multipolar.
Na
prática, do inventário de medidas, apenas são sinais relativamente favoráveis à
nova administração as que determinam o fim dos Tratados multi-laterais de
acordo com as correntes capitalistas neoliberais no Trans Pacífico, em relação
ao espaço da América do Norte (envolvendo o Canadá e o México) e em relação à
Europa (pondo em evidência os nexos de toda a ordem entre os Estados Unidos e a
Grã Bretanha, em função do “Brexit”… cultura anglo-saxónica “oblige”)!...
Não
existem sinais ambiciosos no caminho da paz, das possibilidades de levar por
diante um projecto global de emergências multipolares, de encontrar soluções
mais equilibradas entre os estados, as nações e os povos, de incentivar o
renascimento africano, de melhor respeitar o planeta (o acordo de Paris já
Trump atirou para as urtigas…)… a tudo isso o império diz nada!
…Há
portanto todas as razões para colocar os ponteiros do holocausto nuclear a dois
minutos da meia-noite!
Imagens:
Confluentes
ironias no relacionamento com os problemas de Médio Oriente e Norte de África;
Nada
de novo em relação à Ucrânia;
Tudo
de novo em reforço dos falcões de Israel.
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