O
primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, desvalorizou a
polémica entre a associação de jornalistas cabo-verdianos e o ministro da
Cultura, assegurando que em nenhum momento foi posta em causa a liberdade de
imprensa.
"Não
há nenhum facto que demonstre que o Governo tem alguma intenção ou teve alguma
ação que vai contra a liberdade de imprensa ou contra os jornalistas. Que me
apresentem factos e evidências", disse Ulisses Correia e Silva, citado
hoje pela agência cabo-verdiana de notícias Inforpress.
O
primeiro-ministro falava na sexta-feira aos jornalistas durante uma deslocação
ao Tarrafal, no interior da ilha de Santiago.
A
associação de jornalistas de Cabo Verde (AJOC) acusou na quinta-feira o
ministro da Cultura das Indústrias Criativas (MCIC) de querer instrumentalizar
o setor público, anunciando uma denúncia junto das organizações internacionais
de defesa da liberdade de imprensa.
Em
causa estão posições de Abraão Vicente na sua página na rede social Facebook,
onde se referiu à Empresa Pública de Comunicação Social RTC como sendo parte
integrante do seu ministério.
"O
Outro lado do MCIC: RTC Canal público de comunicação social! Estamos prontos
para levar a todos os cabo-verdianos o grande desfile de Carnaval em direto de
Mindelo, garantimos também cobertura com reportagens em todos os outros
Municípios", escreveu.
O
texto é acompanhado por várias fotografias da régie, incluindo uma do próprio
ministro, que a Associação Sindical de Jornalistas Cabo-Verdianos (AJOC)
considera, em comunicado, insinuar "um controle efetivo do trabalho dos
profissionais" [...] "sugerindo que a ingerência não é apenas sobre a
transmissão mas inclui, também, indicações diretas das reportagens que devem
ser feitas pelos jornalistas".
A
primeira publicação do ministro suscitou críticas de vários jornalistas, que
por sua vez motivaram uma segunda publicação de Abraão Vicente em que
justificou a sua intervenção com "o novo modelo de negócio" para o
canal público, de que "o jornalismo e a informação são apenas uma parte
muito pequena".
Abraão
Vicente considerou ainda "normais as resistências à mudança" dos
"conservadores" e aludiu a uma "nova geração de jornalistas que
brevemente entrará no mercado" e que saberá "compreender e acompanhar
melhor os novos tempos da empresa".
A
AJOC entende esta afirmação do ministro como "uma advertência velada, mas
bem percetível" e uma ameaça de despedimento "aos jornalistas que não
concordam com tentativas de manipulação".
O
primeiro-ministro não vê razão para tanta "turbulência" relativamente
às publicações do ministro, sublinhando que em nenhum momento foi referido que
vai haver despedimentos.
Ulisses
Correia e Silva afirmou ainda que o Governo defende a independência e liberdade
da comunicação social para que os jornalistas façam o seu trabalho de forma
"tranquila, sem pressão e sem condicionamentos".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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