Baleia
Azul é o tema de abertura do Curto de hoje, quem serve a cafeína é Pedro
Candeias. Já sabe, candeia que vai à frente ilumina duas vezes.
Sobre essa tal
baleia assassina, fartamente criminosa, já aqui no PG dissemos de nossa lavra e
trouxemos o que outros dizem. Neste momento queremos elogiar a ação rápida da
PSP e da PJ, que se puseram logo em campo à caça da assassina. Claro que da PGR
foi dito há dois ou três dias (mais?) que iam abrir um inquérito e… blá, blá. Essa dos
inquéritos da PGR e de outros moluscos institucionais fazem-nos arrepiar e
meter a boca no trombone porque sabemos da sistemática lentidão desses burgos. Temos
toda a razão para pensar e sentir assim.
Mas
a polícias estão em campo, a TSF transmitiu hoje um fórum que também abordava o
tema. Daniel Sampaio, da psicologia, falou-nos sobre o que sabe. Até já
conversou com muitos jovens sobre essa tal baleia. Recomenda que devemos falar
e refalar sobre o assunto com os jovens. E os pais, amigos e professores que
fiquem atentos e também falem disso. Anotem e façam-no.
Saibam que é muito difícil
caçar a baleia e os baleias que são designados por “mentores” ou “curadores”. Pela
lei esses tais “artistas” podem incorrer numa pena de prisão que vai até aos 5
anos, salvo erro. Pois caçem-nos, que esta coisa da baleia é terrivel e mostra a
sociedade apodrecida em que sobrevivemos. Chamam a isto “sociedade desenvolvida”?
Balelas! É mais uma sociedade muito maldosa, estilo baleia tétrica. Arre!
Candeias,
o servidor deste Expresso Curto, aborda muito mais que a baleia. Vai ver que
sim, se continuar a ler. Interessa.
Por
nós estamos servidos e com pressa, vamos de abalada. Bom dia, se conseguirem.
Saúde, sorte e dinheiro para tudo. Mas nada de esbanjarem. Sejam felizes.
MM
| PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Pedro
Candeias | Expresso
Nós
e a baleia
Há
um tipo de indução matemática chamada Indução Retroativa que nos diz
que o último passo é o primeiro e que é por ele que devemos começar para chegar
ao que queremos. Por mais complicado que isto pareça, a Indução Retroativa é
apenas o Ronaldo a marcar um livre direto: ele olha para a
baliza, aconchega a bola com o pé, dá quatro passos bem medidos atrás, respira
fundo, acelera para a bola e chuta para a baliza.
Do fim para o princípio, e do princípio para um fim.
É uma estratégia eficaz, os xadrezistas usam-na, e não é por acaso que está na Teoria dos Jogos, tal como não é por acaso que a Teoria dos Jogos está aqui – é por causa da Baleia Azul.
Em meia dúzia de linhas: a Baleia Azul é um jogo online em que o jogador tem de cumprir 50 passos que correspondem a 50 desafios diários. O adolescente começa por cortar-se ao escrever a expressão “F57” na palma da mão; depois, envia a fotografia do ato por telemóvel a um curador e este sugerir-lhe-á as outras 49 etapas, uma a uma e uma por dia, sempre num crescendo de perigo, sempre com os conceitos da automutilação e do suicídio por perto. Quem se entrega a esta lógica do faz-o-que-eu-te-digo corta os lábios, sobe a telhados, negoceia a vida em cima de pontes e, nos casos mais extremos, pode matar-se.
Em Portugal não há notícias de mortes resultantes deste jogo violento, mas as autoridades investigam casos que podem estar relacionados com ele. Um deles é de uma rapariga de 15 anos de Matosinhos que terá usado o smartphone a uma amiga para entrar no esquema da Baleia Azul – está internada no Hospital de São João, no Porto, com cortes numa mão, num braço e no peito. Diz o “Jornal de Notícias” que a adolescente receberia chamadas entre a meia noite e as quatro da manhã com instruções de um “homem de 23 anos com sotaque brasileiro”. Acontecia todas as noites.
Ao “Público”, Daniel Sampaio defende que isto é particularmente perigoso em “jovens vulneráveis” que são ‘caçados’ nas redes sociais, e lança o alerta: “Saia o mais depressa possível e peça ajuda”. No Expresso Diário, o pediatra Mário Cordeiro fala de “rebeldes sem causa (...) sem coragem de assumir a rebeldia às claras”, de “jovens que sentem que a vida lhes proporciona demasiada rotina e pouca ‘adrenalina’”, e gente que quer “mais e mais emoções, esquecendo que as endorfinas fazem parte da vida”.
Fica a pergunta: como é que se chegou aqui quando o ponto de partida foram os Angry Birds, o Candy Crush, o Pokemon Go, o Twitter, o Facebook, o Hi5, o MySpace e o Messenger e o mIRC? É preciso partir do fim e recuar, ponto a ponto, como na Indução Retroativa.
Provavelmente, fomos engolidos pela ideia da utilidade da Internet e não percebemos que há um lado perverso num sítio sem leis, supervisão ou alguém a distinguir a verdade da mentira,. Este é um faroeste em que a informação e a desinformação, a verdade e os factos e o boato e a mentira (a Baleia Azul terá começado numa fake news) circulam à mesma velocidade e intensidade, e com a mesma capacidade de disseminação e de penetração na vida de cada um.
O gatekeeping, teoria curiosa e engraçada dos anos 40 do século passado, está profundamente datada e desatualizada num mundo em que cada vez mais uma pessoa são duas pessoas - aquela que vai ao pão de olhos no chão mas que escreve as piadas e produz os pensamentos mais elaborados e perspicazes na sua conta do Facebook e do Twitter. Estamos constantemente à procura da aceitação e de um último comentário a um post, de likes e de favorites, como se a rede que nos sustentasse fosse a nossa rede social, onde só seguimos e lemos quem queremos e o que queremos, e nos polarizamos entre quem está a favor e contra. O meio-termo tende a desaparecer e isto leva, possivelmente, a fenómenos como o que se segue.
Do fim para o princípio, e do princípio para um fim.
É uma estratégia eficaz, os xadrezistas usam-na, e não é por acaso que está na Teoria dos Jogos, tal como não é por acaso que a Teoria dos Jogos está aqui – é por causa da Baleia Azul.
Em meia dúzia de linhas: a Baleia Azul é um jogo online em que o jogador tem de cumprir 50 passos que correspondem a 50 desafios diários. O adolescente começa por cortar-se ao escrever a expressão “F57” na palma da mão; depois, envia a fotografia do ato por telemóvel a um curador e este sugerir-lhe-á as outras 49 etapas, uma a uma e uma por dia, sempre num crescendo de perigo, sempre com os conceitos da automutilação e do suicídio por perto. Quem se entrega a esta lógica do faz-o-que-eu-te-digo corta os lábios, sobe a telhados, negoceia a vida em cima de pontes e, nos casos mais extremos, pode matar-se.
Em Portugal não há notícias de mortes resultantes deste jogo violento, mas as autoridades investigam casos que podem estar relacionados com ele. Um deles é de uma rapariga de 15 anos de Matosinhos que terá usado o smartphone a uma amiga para entrar no esquema da Baleia Azul – está internada no Hospital de São João, no Porto, com cortes numa mão, num braço e no peito. Diz o “Jornal de Notícias” que a adolescente receberia chamadas entre a meia noite e as quatro da manhã com instruções de um “homem de 23 anos com sotaque brasileiro”. Acontecia todas as noites.
Ao “Público”, Daniel Sampaio defende que isto é particularmente perigoso em “jovens vulneráveis” que são ‘caçados’ nas redes sociais, e lança o alerta: “Saia o mais depressa possível e peça ajuda”. No Expresso Diário, o pediatra Mário Cordeiro fala de “rebeldes sem causa (...) sem coragem de assumir a rebeldia às claras”, de “jovens que sentem que a vida lhes proporciona demasiada rotina e pouca ‘adrenalina’”, e gente que quer “mais e mais emoções, esquecendo que as endorfinas fazem parte da vida”.
Fica a pergunta: como é que se chegou aqui quando o ponto de partida foram os Angry Birds, o Candy Crush, o Pokemon Go, o Twitter, o Facebook, o Hi5, o MySpace e o Messenger e o mIRC? É preciso partir do fim e recuar, ponto a ponto, como na Indução Retroativa.
Provavelmente, fomos engolidos pela ideia da utilidade da Internet e não percebemos que há um lado perverso num sítio sem leis, supervisão ou alguém a distinguir a verdade da mentira,. Este é um faroeste em que a informação e a desinformação, a verdade e os factos e o boato e a mentira (a Baleia Azul terá começado numa fake news) circulam à mesma velocidade e intensidade, e com a mesma capacidade de disseminação e de penetração na vida de cada um.
O gatekeeping, teoria curiosa e engraçada dos anos 40 do século passado, está profundamente datada e desatualizada num mundo em que cada vez mais uma pessoa são duas pessoas - aquela que vai ao pão de olhos no chão mas que escreve as piadas e produz os pensamentos mais elaborados e perspicazes na sua conta do Facebook e do Twitter. Estamos constantemente à procura da aceitação e de um último comentário a um post, de likes e de favorites, como se a rede que nos sustentasse fosse a nossa rede social, onde só seguimos e lemos quem queremos e o que queremos, e nos polarizamos entre quem está a favor e contra. O meio-termo tende a desaparecer e isto leva, possivelmente, a fenómenos como o que se segue.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Em
França, Marine Le Pen é um fenómeno, como lembrava uma jornalista do “The
Guardian” no arranque do debate presidencial. Recordou ela que ter Le Pen
num frente -a-frente televisivo com outro candidato era um “grande passo” para
a Frente Nacional, já que Chirac se recusara debater com o pai dela, Jean-Marie
Le Pen, em 2002 com medo “que isso normalizasse o ódio e a intolerância”.
Marine Le Pen, diseur de discursos plagiados, tinha ontem de tentar inverter os
resultados das últimas sondagens que a colocavam bem atrás de Emmanuel Macron.
Como tem mais experiência, tarimba, e porque tem uma linguagem naturalmente mais agressiva, Marine atacou de início e Macron defendeu-se. Como escreve o Rui Cardoso, o candidato liberal e auto-intitulado supra-partidário podia jogar apenas o empate, “uma vez que, dada a diferença de intenções de voto”, lhe bastava não perder para ser (...) vencedor.” Aos dos minutos de jogo, já Marine despejava soundbites como “Uberização”, “globalização”, “fundamentalismo islâmico” e “banqueiro de negócios”, para tentar dizer que Macron estava, e esteve sempre, feito com eles, com o tal sistema. E teve os seus lapsos, e cito outra vez o Rui Cardoso: “Atribuiu a Macron a responsabilidade do fecho de uma fábrica quando ele não estava no governo e citou erradamente uma medida fiscal do candidato conservador François Fillon”. Macron respondeu-lhe “não diga disparates” e colou-lhe a imagem de um “espírito derrotista”.
Aqui estão algumas frases que recupero do artigo do Expresso:
“Sou contra os que tentam explorar a cólera. A França merece melhor que isso”, Emmanuel Macron;
“O senhor é o candidato do fecho de tudo: fábricas, hospitais, maternidades, esquadras da polícia. Só não quer fechar as fronteiras”, Marine Le Pen;
“O seu projecto alimenta-se do medo e das mentiras que foi o que alimentou o seu pai e a extrema-direita francesa durante décadas”, Emmanuel Macron
“A França será sempre governada por uma mulher. Eu se ganhar e Merkel se o senhor ganhar”, Marine Le Pen
Para já, há uma primeira sondagem que dá a vitória a Macron no debate televisivo e se tudo correr bem, a bem da Europa (declaração de intenções), Le Pen será derrotada e a marcha populista será travada lá para aqueles lados.
Aqui, acima de nós, a procissão já vai no adro. Theresa May, acabadinha de sair de uma reunião com a rainha Isabel II, atirou-se à Europa. “Nos últimos dias, temos vindo a assistir exatamente quão duras estas conversações provavelmente serão. A posição negocial do Reino Unido na Europa tem sido desvirtuada pela imprensa continental.” Isto aconteceu quando foi formalizada a dissolução do Parlamento britânico por iniciativa da própria May, que, convém recordar, antecipou três anos as eleições legislativas. Elas terão lugar a 8 de junho e May quer a sua posição reforçada para lançar o Brexit. Por causa disto, e no entretanto, desapareceram 650 deputados.
Na Venezuela continuam a desaparecer pessoas nos confrontos e o país vive encapsulado numa espécie de guerra civil urbana, entre os que protestam contra Nicolás Maduro e a Guarda Nacional Boliviana. A Veja descreve a história de um rapaz de 17 anos ferido mortalmente no pescoço numa manifestação em Caracas e relata como três homens acabaram queimados quando o depósito de combustível de uma moto de um polícia explodiu. São já 32 mortos.
Já as notícias da morte do Obamacare foram manifestamente (e propositadamente?) exageradas pelo one and only Donald Trump. A sua proposta, a que se lhe chamou Trumpcare, but who cares, certo?, foi há tempos chumbada violentamente na Câmara dos Representantes com os votos contra dos Democratas e de alguns Republicanos moderados – os sensatos. Não há aqui nenhum juízo de valor, mas factos: o Trumpcare original iria provocar prejuízos graves tanto às seguradoras como aos pacientes. Hoje há outra votação e a Administração Trump apresenta uma segunda versão do documento, com cerca de 8 mil milhões de dólares alocados “por um período de cinco anos para garantir a cobertura de pessoas com doenças pré-existentes”, como escreve a Joana Azevedo Viana. Se o novo Trumpcare passar, o documento passa depois para uma instância superior – o Senado, onde tudo se decidirá.
E praticamente decidida está a segunda meia-final da Liga dos Campeões. A Juventus, a velha e sabida Juventus, foi ao Mónaco dar uma lição de contenção e de pragmatismo. Com três centrais, um guarda-redes e um defesa-direito cujas idades combinadas são tão antigas quanto o futebol, a Juve chutou pouco mais do que um par de vezes à baliza - e fez dois golos. Daqui por uma semana, estes dois clubes encontram-se novamente, mas muito dificilmente teremos uma final diferente desta: Real Madrid - Juventus.
Agora, os jornais de hoje:
No “Correio da Manhã” e no “Jornal de Notícias” faz-se manchete com a Baleia Azul de que já falámos no primeiro bloco deste Expresso Curto. O CM ainda faz alusão ao caso Maddie (“Polícia inglês denuncia pressão para ilibar pais de Maddie”) e o JN traz uma reportagem com “a vida de luxo dos youtubers portugueses”
No “Público”, o destaque vai todo para uma entrevista a Francisco Louçã que diz o seguinte: “Não há e não vai haver um processo de substituição de Carlos Costa”. No “Diário de Notícias” há uma foto do debate presidencial francês que rasga a primeira página e também uma notícia: “Freguesias desconhecem acordo anunciado pelo governo para a CGD”. Por fim, o I pergunta-nos: “Por que razão emigram os jovens portugueses para a Islândia?”. Duas razões: dinheiro e mais dinheiro.
FRASES
“Há ainda, e haverá sempre, provavelmente, enormes divergências com o PS”, Mariana Mortágua, em entrevista à “Antena 1”
“A minha obra não é uma coisa pendurada entre duas palmeiras”, Joana-descubra-as-diferenças-Vasconcelos, sobre o seu terço, responde a quem a acusa de ter copiado um outro terço, mais antigo, no Brasil
“O critério das agências de rating é um critério político, não é um critério financeiro”, Francisco Louçã em entrevista ao “Público”
O QUE ANDO A LER
Trago-lhe um livro que é uma cortesia do colega de carteira Diogo Pombo. Chama-se "Shoe Dog" e é a autobiografia de Phil Knight, o fundador da Nike, o que para muitos rapazes que, como eu, cresceram a ver McEnroe, Jordan, Federer, Ronaldo Fenómeno, Cantona, Ronaldo tuga, representa uma viagem a um mundo místico – o das sapatilhas que te fazem voar.
Lá dentro, do "Shoe Dog", cabem muitas histórias que eu desconhecia, como a ligação aos ténis da Tiger e a dificuldade em estabelecer-se num mercado dominado por alemães (Adidas e Puma); e outra que eu andava mortinho para ler na primeira pessoa.
Resumidamente, digamos que as míticas solas da Nike com selo de qualidade foram inventadas numa máquina de waffle por Bill Bowerman que as deu a calçar a Steve Prefontaine, um corredor enérgico e carismático, que morreria mais tarde num acidente de automóvel. Isto tudo é contado com ritmo, entrecortado com corridas noturnas e palavrões, e está ensopada por aquela virtude norte-americana – a mentalidade do vencedor.
Por hoje é tudo. Não se esqueça que dizem por aí que as temperaturas vão baixar para depois subirem, e nesta montanha-russa do dia-a-dia vá passando os olhos pelo site do Expresso (em supermanchete, agora, temos o 2:59 com o João Vieira Pereira a contar gotas de água), pela Tribuna Expresso, pela Blitz, pela Exame e pela Exame Informática. E às 18h em ponto, aceda ao Expresso Diário para ler as últimas do dia antes do dia seguinte.
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